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#MeToo: movimento que ganhou destaque com a moda toma força na China

O caso da jovem Zhou Xiaoxuan se tornou um símbolo da luta contra assédios sexuais no país asiático

atualizado

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Thomas Yau/South China Morning Post via Getty Images
Sophia Huang Xueqin posa com um cartaz #MeToo em sua casa
1 de 1 Sophia Huang Xueqin posa com um cartaz #MeToo em sua casa - Foto: Thomas Yau/South China Morning Post via Getty Images

A edição de 2018 do Globo de Ouro foi histórica. Na cerimônia, mulheres de Hollywood usaram looks inteiramente pretos como forma de protesto contra o machismo. As reinvindicações foram pelo fim de casos de assédio, estupro e desigualdade salarial. O episódio representou um gesto de sororidade no auge das denúncias contra o criminoso sexual atualmente condenado Harvey Weinstein. Entre as adeptas, estão personalidades como Natalie Portman, America Ferrera, Meryl Streep, Emma Watson, Reese Witherspoon e Eva Longoria.

Desde então, o movimento #MeToo só ganhou força em todo o mundo, inclusive no Brasil. Transformou-se em uma nova era, antecedida pela antiga luta feminista. Recentemente, a China se tornou espaço para diversas alegações de má conduta de homens poderosos de diferentes áreas, como da mídia, moda, dos esportes e negócios em geral.

America Ferrera e Natalie Portman no Globo de Ouro 2018
O impacto do #MeToo ficou claro com o “luto coletivo” no tapete vermelho do Globo de Ouro de 2018. America Ferrera e Natalie Portman estão entre as atrizes que aderiram ao movimento

 

Reese Witherspoon e Eva Longoria no Globo de Ouro 2018
Reese Witherspoon e Eva Longoria também vestiram preto na premiação, como forma de protesto

 

Meryl Streep e Ai-jen Poo no Globo de Ouro 2018
Algumas personalidades convidaram ativistas para irem ao evento com elas. Meryl Streep, por exemplo, foi acompanhada de Ai-jen Poo, diretora da National Domestic Workers Alliance, que atua em prol de direitos trabalhistas

 

Marai Larasi e Emma Watson no Globo de Ouro 2018
Já Emma Watson levou Marai Larasi, idealizadora da organização Imkaan, atuante no movimento feminista negro

 

Sophia Huang Xueqin posa com um cartaz #MeToo em sua casa
A causa feminista vem ganhando força na China. A jornalista Sophia Huang Xueqin é uma das vozes ativas na conscientização contra o assédio sexual

 

Ainda incipiente na China, o #MeToo ganhou uma representante corajosa em 2018. Zhou Xiaoxuan – também conhecida como Xianzi – denunciou Zhu Jun, um dos apresentadores de TV mais conhecidos do país, levando-o à Justiça ao acusá-lo por um assédio sexual que teria ocorrido em 2014. Na época, ela era estagiária.

Quando a jovem, que atualmente tem 27 anos, relatou o caso à polícia, ela foi desencorajada e ouviu que poderia prejudicar a imagem de Zhu e “ferir os sentimentos daqueles que o admiravam”, de acordo com o The Guardian. Segundo especialistas ouvidos pela BBC, é raro na China que casos parecidos cheguem a esse patamar, já que os riscos são altos em uma cultura considerada patriarcal.

De acordo com a organização local Centro de Desenvolvimento de Gênero Yuanzhong, de Pequim, apenas 34 processos foram relacionados a assédio sexual entre 2010 e 2017 na China. Desses, somente dois foram trazidos por vítimas que processaram assediadores. Contudo, ambos constaram com “falta de provas”.

No fim de 2020, houve uma audiência não pública para o caso de Xianzi. Ela disse à BBC que nunca se arrependerá de ter tomado uma atitude. “Se eu ganhar, isso vai encorajar muitas mulheres a se apresentarem e contarem suas histórias; se eu perder, continuarei apelando até que a justiça seja feita”, afirmou no dia 2 de dezembro.

Veículos internacionais informaram que mais de 100 pessoas – sobretudo mulheres – reuniram-se em frente ao Tribunal Distrital de Haidian, em Pequim, para declarar apoio à jovem chinesa por meio de manifestações. Depois de cerca de 10 horas no tribunal, o julgamento foi adiado. O apresentador Zhu Jun nega o assédio.

 

 

 

No processo, Xianzi exige que o acusado peça desculpas publicamente e desembolse US$ 7.600 por danos. “O caso tinha 99% de probabilidade de terminar em derrota, mas como todos estavam persistindo fora do tribunal, os juízes pelo menos atrasaram o resultado, então, temos outra chance de 1%”, disse uma fonte ao Washington Post. “É difícil conseguir um julgamento justo e aberto na China, mas Xianzi mostrou que você pode escolher o caminho legal. Você pelo menos tem uma chance, mesmo que não seja grande”, acrescentou.

Segundo especialistas, o fato de o tribunal ter aceitado o caso já é bastante significativo. Para a militante feminista Lu Pin, ainda há um longo caminho pela frente. “A sociedade chinesa mudou desde o movimento #MeToo? Não sei dizer”, disse ao veículo norte-americano. “Mas, 20 anos atrás, a sociedade era intencionalmente ignorante ou negava agressivamente o assédio sexual e a cultura do estupro. Hoje, pelo menos, forçamos o debate.”

 

Colaborou Rebeca Ligabue

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