#MeToo inspira edição especial da Elle com estrelas de Hollywood
Nicole Kidman, Scarlett Johansson, Zendaya, Gwyneth Paltrow, Natalie Portman, Mindy Kaling e Dolly Parton são alguns destaques
atualizado
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A indústria cinematográfica pode ser dividida em antes e depois do #MeToo. O movimento, que denunciou uma série de escândalos sexuais em Hollywood, mudou, inclusive, o mundo da moda. No entanto, uma dúvida pairava: para onde vamos a partir daqui? Com esse questionamento, a Elle norte-americana reuniu dez estrelas do meio artístico para falarem sobre as próprias perspectivas.
Nicole Kidman, Scarlett Johansson, Zendaya, Gwyneth Paltrow, Natalie Portman, Mindy Kaling, Dolly Parton, Lena Waithe, Melina Matsoukas e Jodie Turner-Smith são as convidadas da edição especial de novembro da revista que rendeu várias capas icônicas. Para elas, a resposta vem com a criação de um caminho desconhecido.
Vem comigo!
O impacto do #MeToo ficou claro há mais de um ano, quando o tapete vermelho do Globo de Ouro recebeu um luto coletivo. O episódio foi um gesto de sororidade das mulheres de Hollywood, no auge das denúncias contra Harvey Weinstein.
Agora, o movimento representa uma nova era. Afinal, as mulheres da indústria estão cada vez mais unidas e não vão se calar.
Na opinião de Dolly Parton, por exemplo, é preciso que, cada vez mais, outras mudanças se instalem. “Não adianta seguir a mesma estrada da cidade velha”, disse a cantora. “Temos outras estradas para percorrer”, completou.
As letras de Parton sempre foram narrativas para filmes e, para ela, música e Hollywood estão entrelaçadas. Na publicação, a norte-americana relembrou momentos em que tentaram impedi-la de ser ela mesma, com críticas em relação à aparência e ao fato de “usar muita maquiagem” e perucas.
“Era sobre eu saber quem eu era, ser feliz comigo e me sentir confortável na maneira como me apresentei. Se eu estivesse feliz, poderia fazer outras pessoas felizes. É assim que sempre olhei: pareço artificial, mas sou totalmente real, como compositora, como profissional, como ser humano. Um strass brilha tanto quanto um diamante”, declarou Parton.
Uma das participantes, Natalie Portman concorda que ainda há muito pela frente. No entanto, reconhece que os avanços são significativos.
“Vi uma mudança real [na indústria] desde os 20 anos. Mas não uma mudança total; você ainda vê esses papéis de ser apenas uma garota dos sonhos ou o que alguém quer que você decida”, observou.
Ela também refletiu sobre a definição moderna de feminismo. “Quando você mostra que uma mulher é um ser humano completo, tanto com os lados ruins quanto com os bons, isso é ser feminista. É uma maneira humanista de ver as pessoas”, ressaltou Portman.
Por se tratar de Hollywood, Nicole Kidman não poderia faltar. Além disso, a atriz é uma das protagonistas de um filme sobre abuso, baseado em fatos reais, que será lançado ainda este ano.
Bombshell aborda denúncias feitas por jornalistas de TV para acusar o dono da emissora de assédio sexual. Nicole interpreta Gretchen Carlson.
“A história que está tentando contar é mais ampla que a Fox News. “É muito mais sobre assédio sexual e as mulheres”, lembrou a estrela do cinema.
Scarlett Johansson também falou sobre um trabalho que está perto de estrear. História de um Casamento, da Netflix, mostra uma relação que acabou em divórcio.
“Foi a primeira peça que Noah [o diretor] me deu, e parecia familiar de alguma forma, mas não por causa do que eu estava experimentando na época”, explicou a atriz, que estava envolvida em sua própria separação com o fim do casamento com o francês Romain Dauriac. “Mas talvez por causa de como eu cresci, e pela dinâmica entre meus pais ou, talvez, porque eu tenha conhecido mulheres que se dedicaram à visão de seus parceiros e que saíram desse relacionamento de uma década parecendo quase um fantasma.”
Mindy Kaling aproveitou o espaço para abordar desigualdade de gênero. Ela acusou a organização do Emmy Awards de tentar excluir seu nome da lista de produtores indicados pela série The Office em uma das edições da premiação.
“Eles me fizeram preencher um formulário e escrever um documento sobre minhas contribuições como escritora e produtora”, afirmou. “Tive que pegar cartas de todos os produtores homens e brancos dizendo que eu fiz parte”, contou a atriz e produtora.
Ainda em entrevista à Elle, Kaling apontou que, independentemente de quão bem-sucedida ela seja, sente que sempre lidará com sexismo e racismo. “Realmente não importa quanto dinheiro eu tenho. Sou tratada mal com uma frequência suficiente para me manter humilde”, desabafou.
Já Zendaya revelou a batalha diária contra inseguranças. Ela acredita que isso foi desencadeado pelo fato de que, muitas vezes, foi impedida de seguir o próprio instinto.
A intéprete de Rue Bennett em Euphoria contou que, apesar de ser tímida, conseguiu ser atriz devido ao incentivo dos pais. “Sempre tive esse medo de falhar e não me sair tão bem”, reconheceu. “Estou tentando ser a melhor versão de mim mesma sem colocar pressão demais”, destacou.
Outra convidada foi Gwyneth Paltrow. Em 1999, ela ganhou um Oscar pela participação em Shakespeare Apaixonado e se tornou uma das estrelas de cinema mais renomadas do mundo. Contudo, começou a se afastar de Hollywood quando se tornou mãe, no início dos anos 2000.
Neste ano, ela está no elenco da série The Politician. No entanto, no últimos anos, dedicou-se principalmente ao empreendedorismo. Ela é a fundadora da plataforma de lifestyle Goop e, em 2016, lançou sua primeira linha de roupas, com o mesmo nome.
Paltrow admitiu que, como atriz, nunca se sentiu tão ambiciosa. “Nos anos 1090, quando eu estava começando, era um campo dominado por homens”, lembrou. “Você costumava ouvir: ‘Essa atriz é tão ambiciosa’, como se fosse uma palavra suja”, reparou.
Três mulheres da equipe do filme Queen & Slim também foram convidadas para a Women in Hollywood 2019. A roteirista Lena Waithe, a diretora Melina Matsoukas e a atriz Jodie Turner-Smith tiveram um diálogo sobre o peso que carregam com sua arte.
“Em nosso sucesso, vem o sucesso de outras pessoas negras, então, há muita pressão para que façamos bem, pela cultura. É difícil criar arte com esse peso, e eu sinto isso todos os dias. Falhar é um dos meus maiores medos. Só quero deixar meu povo orgulhoso”, declarou Matsoukas.
Por outro lado, Waithe tenta não pensar tanto na obrigação de acertar. “Se eu fizer isso, você vai me ver tentando ser perfeita. Não, eu não posso ter essa pressão. Só estou tentando ser honesta.”
O time também discutiu a falta de oportunidades para vozes femininas — sobretudo negras — na indústria cinematográfica. “Você precisa trabalhar duas vezes mais para ter a metade”, opinou Turner-Smith.
Todas as entrevistas podem ser conferidas on-line. A editora-chefe da publicação é Nina Garcia.
Colaborou Rebeca Ligabue