Marcas internacionais suspendem compra de couro brasileiro
A empresa dona da Timberland e Vans confirmou a ação em comunicado à imprensa. O motivo é a crise nas políticas ambientais do Brasil
atualizado
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A empresa norte-americana VF Corporation, que detém etiquetas como Vans, Kipling e Timberland, suspendeu o uso de couro brasileiro em pelo menos 18 de suas marcas. Segundo comunicado enviado pela holding à imprensa, a medida vale “até que haja segurança” de que esses insumos não contribuam com o dano ambiental no Brasil.
De início, a informação foi comunicada pelo Centro das Indústrias de Curtumes no Brasil (CICB) ao Ministério do Meio Ambiente na terça-feira (27/08/2019). Depois de a notícia repercutir na imprensa, nessa quarta-feira (28/08/2019), o presidente da entidade corrigiu a informação, alegando que as marcas pediam apenas informações sobre o produto nacional.
No entanto, a VF Corporation confirmou a suspensão por meio de uma nota.
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Segundo a nota da VF Corporation, desde 2017 a empresa utiliza estudos para comprovar requisitos de provimento responsável por parte dos fornecedores. Dessa forma, asseguram o compromisso de “empoderar movimentos de estilo de vida ativo e sustentável” em seus negócios.
No texto, não há menção sobre as queimadas na região amazônica. “Como um resultado desse estudo detalhado, não conseguimos assegurar satisfatoriamente que nossos volumes mínimos de couro comprados de produtores brasileiros sigam esse compromisso [de sustentabilidade]”, justificou.
“Sendo assim, a VF Corporation e suas marcas decidiram não seguir abastecendo diretamente com couro e curtume do Brasil os nossos negócios internacionais até que haja segurança de que os materiais usados em nossos produtos não contribuam para o dano ambiental no país”, completa a empresa.
A empresa, com sede nos Estados Unidos, atua nos segmentos de vestuário, calçados e acessórios. A decisão vale para as etiquetas Altra, Bulwark, Dickies, Eagle Creek, Eastpack, Horace Small, Icebreaker, JanSport, Kipling, Kodiak, Napapijri, Smartwoll, Terra, The North Face, Timberland, Vans, Walls e Workrite.
O CICB é a associação responsável por representar as empresas produtoras de couro brasileiras nos âmbitos nacional e internacional. No dia 27 deste mês, em documento enviado ao governo pelo presidente-executivo do centro, José Fernando Bello, a entidade havia informado sobre a suspensão dessas 18 marcas.
No texto, o grupo apontou a repercussão das queimadas na região amazônica para o setor de exportações como justificativa.
“Para uma nação que exporta mais de 80% de sua produção de couros, chegando a gerar US$ 2 bilhões em vendas ao mercado externo em um único ano, trata-se de uma informação devastadora”, dizia o texto.
Para a entidade, a interpretação “do comércio e da política internacionais” sobre a situação do Brasil, do governo e da iniciativa privada seria “errônea”. Contudo, declarou ser “inegável” a necessidade de conter os danos à imagem nacional, para o mercado externo, sobre a situação da Amazônia.
Já nessa quarta-feira (28/08/2019), em comunicado à imprensa, a CICB disse que o “indicativo de suspensão de pedidos” não se confirmou. Dessa forma, o fornecimento e as exportações continuariam acontecendo normalmente, sem cancelamentos de pedidos ou determinações nesse sentido.
O que ocorreu, segundo a entidade, foi a “solicitação de levantamento de informações por parte de importadores mundiais de couro acerca do produto brasileiro”. Novamente, voltou a elencar a relação entre as queimadas e o agronegócio como motivo. A CICB também defendeu a segurança sobre a origem, o manejo e os processos do couro brasileiro.
“O Brasil é um exemplo em rastreabilidade bovina e controles sobre todas as etapas da produção de couros, seguindo um modelo amplamente reconhecido no mundo por meio da Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB). Ademais, os curtumes do país compõem a maior parcela em todo o mundo das empresas reconhecidas pelo Leather Working Group (LWG, protocolo internacional que avalia a conformidade ambiental de fabricantes de couro)”, informa o comunicado.
O assunto levou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) a se manifestar pelo Twitter. Ele declarou: “Àqueles que torcem contra o país e que vergonhosamente divulgaram felizes a notícia, informo que o Centro de Indústria de Curtumes do Brasil negou tal suspensão. As exportações seguem normais”.
– Mais cedo, jornais publicaram que 18 marcas suspenderam a compra de couro brasileiro. Àqueles que torcem contra o país e que vergonhosamente divulgaram felizes a notícia, informo que o Centro de Indústria de Curtumes do Brasil negou tal suspensão. As exportações seguem normais.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 28, 2019
Nesta quinta-feira (29/08/2019), no entanto, a holding VF Corporation confirmou a suspensão ao Metrópoles por meio de nota.
Procurada pela coluna, a assessoria de imprensa da CICB informou que a entidade ainda não foi oficialmente comunicada pela empresa. Por ora, reforçou a responsabilidade da indústria em uma nova nota:
“O CICB oficialmente reforça que a indústria do couro brasileiro trabalha respeitando as melhores práticas no setor, em rastreabilidade, reciclos, e as melhores práticas ambientais, atuando sob uma legislação rígida, apoiada não apenas nas leis do país, mas também de todo o comércio internacional. Os curtumes brasileiros atendem com louvor a todas as principais certificações internacionais exigidas pelas principais marcas e grupos compradores da nossa matéria-prima, respeitando, portanto, aos mais altos requisitos para uma produção social, econômica e ambientalmente responsável.”
Colaborou Hebert Madeira