London Fashion Week abandona gêneros e passa a ser 100% digital
Antes dividida entre os segmentos masculino e feminino, semana de moda britânica unifica estilistas em programação multicultural on-line
atualizado
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Embora os conselhos de moda da França e da Itália tenham suspendido seus próximos eventos por conta da pandemia do novo coronavírus, a organização do London Fashion Week ainda não havia se manifestado sobre o destino da edição masculina do evento previsto para junho. Eis que, nessa terça-feira (21/04), o Conselho de Moda Britânico, instituição que detém o projeto, finalmente revelou como irá proceder com suas futuras ações.
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Investindo em formatos digitais, a exemplo do que vem acontecendo com as semanas de moda da China, Rússia e Japão, a organização irá fundir trabalhos masculinos e femininos em uma programação 100% digital e genderless.
Com a proposta, as marcas que participam da iniciativa podem optar por se apresentar em junho, quando antes acontecia o London Fashion Week Men, ou em setembro, mês dedicado às coleções femininas.
Além de exibir desfiles e possibilitar a encomenda das peças vistas nos shows, o evento on-line ainda abrangerá os mais diversos âmbitos do universo fashion, oferecendo aos consumidores entrevistas, podcasts, exposições digitais e conteúdos multimídia.
“A pandemia está nos levando a refletir sobre a sociedade em que vivemos e sobre o caminho que queremos seguir depois que tudo isso passar. Ao apostar em uma semana de moda cultural, estamos adaptando as inovações digitais às nossas necessidades atuais. Os estilistas vão poder compartilhar suas histórias e, para os que conseguirem, suas coleções”, diz Caroline Rush, presidente do British Fashion Council, em comunicado enviado à imprensa.
Os designers escalados para a primeira edição do London Fashion Week digital, a ser hospedada no site da semana de moda entre 12 e 14 de junho (data anteriormente reservada à London Fashion Week Men), ainda não foram confirmados, mas o conselho espera um line-up mais democrático.
Estendendo a experiência a pessoas que não tinham um contato direto com o evento, a instituição pretende dar aos diretores criativos participantes uma maior flexibilidade quanto ao público que eles querem alcançar. “Muitos empresários adotam o London Fashion Week como uma plataforma não apenas de moda, mas de influência cultural”, justifica Caroline Rush.
O novo formato, todavia, não inviabiliza a retomada dos eventos presenciais, que podem retornar ainda em 2020. De acordo com o WWD, as quatro semanas de moda realizadas pelo Conselho de Moda Britânico anualmente voltam ao normal assim que o isolamento social cessar. Se isso acontecer antes de setembro, os shows da temporada de primavera/verão 2021 devem voltar às ruas de Londres, em paralelo aos conteúdos on-line.
O London Fashion Week não é a primeira semana de moda a experimentar um formato 100% on-line. Eventos de Xangai, Moscou e Tóquio inauguraram a proposta entre março e abril. A cidade de Helsinque, na Finlândia, também anunciou que seus próximos shows de moda, originalmente previstos para julho, serão totalmente digitais.
Caso a pandemia do coronavírus adentre o segundo semestre, espera-se que Paris, Itália e Nova York desbravem as plataformas on-line para não terem que cancelar mais ações. Enquanto isso, designers e executivos debatem sobre o futuro das passarelas, apontadas por muitos como um formato de divulgação ultrapassado.
Durante a conferência virtual Global Conversations, realizada na semana passada pela Vogue, Olivier Rousteing, diretor criativo da Balmain, adiantou que pretende deixar as salas de desfiles de lado: “Após esse confinamento, quero criar algo nas ruas, quero trazer de volta a união.”
Enquanto isso, Natascha Ramsay-Levi, da Chloé, defendeu a ideia de reinventar o formato das exibições de moda. “A forma como os desfiles de moda são realizados precisa parar. É preciso reconectar totalmente”, defende a estilista.
Com o sucesso de ações como o Victoria’s Secret Fashion Show e Savage X Fenty Show, as grifes podem partir para o show business. Recentemente, o lendário estilista Jean Paul Gaultier decidiu abandonar as passarelas para organizar um espetáculo que misturava desfile e show burlesco.
O futuro é incerto, mas muitas personalidades da indústria concordam que a moda pode se reinventar diante do caos. Por enquanto, modelos e estilistas de diferentes nacionalidades, assim como grande parte da população mundial, seguem em isolamento social e investem em atividades para distrair a mente.
Colaborou Danillo Costa