Lixo têxtil: os impactos da moda e como descartar roupas corretamente
O Brasil produz 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. Especialistas discorrem sobre como marcas e cidadãos podem ser mais sustentáveis
atualizado
Compartilhar notícia
A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Segundo o relatório Fashion on Climate, do Global Fashion Agenda com a McKinsey and Company, as empresas que confeccionam roupas e acessórios emitiram, em 2018, cerca de 2,1 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. Esse montante equivale a 4% das emissões globais. Só no Brasil, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são produzidas 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. Desse total, 80% é destinado a lixões e aterros sanitários. Entender como fazer a sua parte para não piorar a engrenagem e como cobrar as marcas é essencial para começar uma transformação sustentável – mesmo que pequena.
Vem mergulhar no assunto!
A realidade é global. No deserto do Atacama, no Chile, por exemplo, há toneladas de roupas abandonadas. Segundo a BBC, são peças descartadas pelos Estados Unidos, pela Europa e também pela Ásia, enviadas para serem revendidas. A maioria dos itens importados acabam parando em lixões clandestinos.
No Brasil, o Instituto Modefica, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgou em 2021 o Fios da Moda, um relatório que analisa de forma macro a confecção de roupas no Brasil. De acordo com a pesquisa, em 2018, foram produzidas cerca de 9 bilhões de peças no país, o que representa mais de 40 unidades por habitante. Com esse dado em mente, não é estranho descobrir que só na região do Bom Retiro, que concentra mais de 1.200 confecções da cidade de São Paulo, são descartadas mais de 12 toneladas de sobras de tecido por dia. O dado é do Sindicato Têxtil de São Paulo.
Para a professora Izabel Zaneti, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), a raiz do problema está na obsolescência programada das roupas, que são feitas para serem descartadas rapidamente. “A moda é ditada pelos grandes lançamentos internacionais, revelando as tendências das estações. Com as vendas on-line, são oferecidos no mercado uma gama de produtos ainda maior, o que aumenta o consumo e a quantidade de roupa que vira lixo”, explica à coluna.
Na sua visão, cabe ao governo definir “políticas públicas de incentivo fiscal para que a indústria fabrique roupas em tecidos com maior durabilidade”, o que poderia reduzir a geração de lixo têxtil. Já os cidadãos que tenham roupas que não servem mais para ser vendidas ou doadas, a melhor alternativa é a coletiva seletiva, que encaminha as peças para indústrias de reciclagem.
O problema, porém, é que essa indústria não é economicamente sustentável. De acordo com o Fios da Moda, os fornecedores pagam de R$ 0,30 a R$ 0,60 por quilo aos catadores para a coleta dos resíduos têxteis. Como não há multa para quem envia as roupas para os aterros sanitários, é financeiramente mais interessante deixar lá do que “pagar por um gerenciamento adequado de resíduos que facilitem a reciclagem”, como explica o relatório.
Responsabilidade das marcas
Consultora de moda sustentável, Giovanna Nader acredita que não cabe aos consumidores pensar na duração das peças. A responsabilidade é da indústria e das autoridades públicas. “O governo deve interferir para melhorar esse ciclo. Até porque, se não vier por lei, a boa vontade não virá da indústria. Se, por exemplo, tivesse uma lei de circularidade das peças, as marcas teriam que lidar com aquele resíduo”, afirma à coluna.
Recalcular a rota seria um passo essencial para as empresas, segundo Giovanna Nader. “Sabendo que a gente vive num planeta com recursos finitos, não dá para uma marca ficar crescendo a lucro ilimitado. É muito importante que a grande indústria olhe para o planeta de uma maneira consciente e fale ‘como eu posso realinhar o meu plano de negócio para crescer em outro lugar?’”.
A sugestão da consultora é pensar nas alternativas do consumo colaborativo, que têm crescido. Entre as opções, estão aluguel de peças ou um sistema de venda de roupas usadas.
Como fazer sua parte
É preciso ter em mente que, quanto mais tempo prolongarmos a vida das peças, melhor para o planeta. A venda em brechós ou a doação das roupas e dos acessórios são ótimas opções, mas, caso o item já não sirva mais para seguir no ciclo, a ideia é dar outra utilidade a ele.
Giovanna Nader sugere ativar a criatividade e usar os tecidos “para fazer enchimento de almofada, por exemplo, ou até paninho para limpar a casa”. O portal Uma Vida Sem Lixo leva a filosofia sustentável para várias vertentes da vida, mas também tem dicas práticas sobre como ter um guarda roupa mais ecológico.
Para quem mora no Distrito Federal, é importante ficar atento aos dias e horários da coleta seletiva para dar o descarte correto não apenas aos resíduos têxteis, mas aos de outra natureza. As informações estão disponíveis no site do Serviço de Limpeza Urbana (SLU).
Para outras dicas e novidades sobre o mundo da moda, siga @colunailcamariaestevao no Instagram. Até a próxima!
Colaborou Carina Benedetti