Livros que inspiraram coleções de moda para ler no isolamento
Clássicos da literatura são referência para estilistas na criação de peças e desfiles icônicos. Relembre!
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Para quem quer viajar sem sair de casa, os livros se tornaram refúgio durante a quarentena. As publicações oferecem aventura e consolo enquanto o isolamento social ainda é recomendado para evitar o contágio do novo coronavírus. O momento é propício para se reconectar com os clássicos que estão disponíveis na estante da sala e também dar oportunidade a novas obras. Se você está nesse mood, narrativas que inspiraram coleções de moda são uma boa opção para adicionar à lista de leituras.
Vem comigo!
Imergir na mesma literatura que serviu como referência e inspiração às mentes criativas da moda parece ser uma atividade interessante. Algumas delas despertaram novos olhares aos estilistas e serviram como temática para arrematar as criações que marcaram temporadas.
A relação do universo fashion com a literatura é reflexo da expressão cultural de cada época. Segundo o ensaísta Walter Benjamin, a moda é capaz de, por meio das imagens, sensivelmente traduzir e trazer uma constelação de significados de um período.
Autores que transitam entre os séculos 19 e 20, por exemplo, se apropriam da roupa para traçar um perfil psicológico de cada personagem. Elas mostram o contexto histórico, social e político do período. A roupa como protagonista ou como alegoria também é uma proposta utilizada na construção de histórias.
Entre os estilistas que se inspiraram em livros, estava o saudoso designer Alexander McQueen, assim como Alessandro Michele, nome por trás da direção criativa da italiana Gucci. A designer de moda Grace Wales Bonner, a japonesa Rei Kawakubo e a grife Vaquera também bebem da literatura para embasar suas criações.
Confira livros que foram referência para coleções de moda:
Orlando
O romance Orlando, assinado por Virginia Woolf, foi publicado em 1928. É conhecido como “a mais longa e encantadora carta de amor de toda a literatura”.
Na obra, Orlando, um jovem inglês, vive seus 350 anos de idade no período da Idade Moderna. Com aspecto imortal, os amores e a ambiguidade da identidade de gênero são retratados. A vida do personagem ganha possibilidades fluidas quando ele acorda no corpo de uma mulher, durante uma viagem à Turquia.
Durante os séculos, os princípios e a personalidade são mantidos e descritos com bom humor. Posteriormente, em 1992, o romance foi adaptado para o filme Orlando – A Mulher Imortal, protagonizado pela premiada atriz Tilda Swinton. Após ganhar as telonas, a narrativa influenciou a coleção de outono/inverno 2007 da marca homônima comandada por Ann Demeulemeester.
Christopher Bailey se inspirou no mesmo romance para a temporada de outono/inverno 2016 da Burberry. A dualidade de gênero da personagem principal desembarcou na coleção masculina e feminina de primavera/verão 2020 da Comme des Garçons pelas mãos da fundadora Rei Kawakubo. Em seguida, as peças criadas pela estilista japonesa viraram figurino de uma ópera, com silhuetas distorcidas e peças acolchoadas.
Frankenstein
Ainda na linha de romances inspirados no romantismo, a obra clássica Frankenstein foi escrita em 1823 por Mary Shelley. Com essência de terror gótico, o livro de ficção científica conquistou o posto de clássico da língua inglesa.
A obra reverbera na moda com representações do monstro em estampas da Prada e em prints distribuídos na coleção de outono/inverno 2013 da marca Christopher Kane.
A literatura de ficção científica entrega a história do cientista Victor Frankenstein, que dá origem a um monstro em seu laboratório. A narrativa aborda as limitações humanas e outros temas, como poemas de implicações religiosas.
De forma mais sutil, o livro também foi uma das referências para a primavera verão 1999 de Alexander McQueen e na temporada primaveril de 2019 da Feng Chen Wang. Na italiana Gucci, Frankenstein também serviu como base para o atual diretor criativo Alessandro Michele.
O Manifesto Ciborgue
O texto pós-moderno de Donna Haraway aborda ciência, tecnologia, feminismo e política. Originalmente publicado em 1984, o manifesto traz uma metáfora para rejeitar os binários e criticar a identidade.
De forma crítica, o estilista Alessandro Michele criou o seu próprio ciborgue para a Gucci em 2018, com elementos surrealistas em uma passarela que retratava um consultório médico.
Laranja Mecânica
As imagens de Laranja Mecânica se tornaram icônicas. Na trama publicada em 1962, o jovem protagonista descrito por Anthony Burgess vive uma vida perigosa. Aos 15 anos, Alex se torna membro de uma gangue de adolescentes que pratica crimes em Londres por puro prazer.
A história foi adaptada para as telonas em 1972 e as imagens de Laranja Mecânica se tornaram icônicas.
O clássico foi referenciado pelo diretor criativo Jun Takahashi, em 2019, para o outono/inverno da grife Undercover. Nas passarelas, modelos tiveram os rostos cobertos por máscaras, chapéus de coco adornados com penas e trajes simbólicos dos personagens do livro clássico, como bastões.
Mumbo Jumbo
Criado por Ishmael Reed, o livro Mumbo Jumbo detalha uma epidemia na década de 1920. A doença Jes Grew é causada por um vírus que é transmitido apenas por artistas negros. A história levanta princípios do jazz, preconceito racial e teorias das conspiração.
A narrativa encantou Grace Wales Bonner, que procurou inspiração para o outono/inverno 2019 da sua marca homônima. O desfile foi apresentado na semana de moda feminina de Londres e foi embalado com uma performance artística do poeta americano Ishmael Reed.
The Island of Doctor Moreau
The Island of Doctor Moreau é um romance com toque de ficção científica. Explora as definições e limitações do ser humano. No enredo, um sobrevivente de um naufrágio pousa em uma ilha pertencente ao doutor Moreau, um cientista que pratica vivissecções.
A icônica coleção intitulada como It’s a Jungle Out There, de McQueen, roubou os holofotes em 1997, e faz referência à obra romântica de HG Wells. Na época, o estilista traduziu a história por meio de uma maquiagem exagerada, com aparência de felinos e cabelos despenteados.
Além de inspirar os estilistas, essas obras embasam campanhas publicitárias, arte e até mesmo a arquitetura. Gostou da seleção? Leia e deixe a mente fluir!
Colaborou Sabrina Pessoa