Karl Lagerfeld: conheça a história do designer que revolucionou a moda
Relembre a trajetória do estilista que morreu nessa terça-feira (19/2) e deixou um legado de momentos, criações e tendências
atualizado
Compartilhar notícia
Nesta semana, o mundo da moda recebeu uma notícia trágica e marcante: a morte de Karl Lagerfeld. Com uma personalidade excêntrica, ele era uma das figuras mais respeitadas na indústria.
No entanto, o estilista não queria que os amigos e fãs ficassem tristes com a sua partida. “Não gosto de enterros e não quero que ninguém vá ao meu. Façam o que quiserem com minhas cinzas, podem jogar fora”, disse em entrevista à New York Magazine.
Durante décadas, ele moldou a indústria e lançou tendências. Conhecido pelas escolhas ousadas e inovadoras, fez história como diretor criativo das grifes Chanel e Fendi, além de ter comandado uma marca que leva o próprio nome. Afinal, disposição era com ele mesmo.
Cabelos brancos, óculos, blazer acinturado e luvas de couro são características do estilo icônico de Karl. Em Confidencial, documentário que acompanhou a rotina do kaiser, ele disse não existir moda sem amor. “Quando vejo esses estilistas de tênis e camisetas velhas fazendo vestidos a preços astronômicos, culpo a desonestidade intelectual”, opinou.
Inovador, Karl produziu desfiles dos jeitos mais inusitados e divertidos possíveis. Supermercado, aeroporto e cassino foram alguns locais escolhidos para apresentar coleções marcantes. Sem dúvida, ele construiu uma das carreiras de maior sucesso na história do universo fashion.
Vem comigo!
Karl Lagerfeld nasceu em Hamburgo, na Alemanha. Filho de um empresário e de uma violinista, ele sempre gostou de moda. Na infância, adorava recortar fotos de revistas. Também era conhecido por opinar sobre as roupas das outras crianças na escola.
Na década de 1930, com Hitler no poder, a família de Karl se mudou para uma área rural. Lá, os parentes evitavam falar sobre o nazismo. Foi na adolescência, quando voltaram a Hamburgo, que o estilista passou a se dedicar à carreira fashion. Em 1953, chegou a Paris.
Em 1962, foi contratado como assistente por Pierre Balmain. No ano seguinte, criou e assinou uma linha de roupas e acessórios para a Chloé, grife na qual trabalhou por 20 anos.
Chanel
Tornou-se diretor criativo da Chanel em 1983. Um ano depois, em 5 de março de 1984, ele terminou a nova coleção de alta-costura no estúdio da grife, na Rue Cambon, em Paris. As peças de outono/inverno foram apresentadas após três semanas.
A primeira linha foi um resgate às décadas de 1920 e 1930, com referências do trabalho deixado por Coco Chanel. A maison estava à beira da falência, mas Lagerfeld conseguiu trazer a empresa de volta ao sucesso, levando modernidade para uma grife que já estava caindo no esquecimento. Ao mesmo tempo, ele manteve as características marcantes e o legado da icônica marca francesa.
A última coleção apresentada com peças desenvolvidas por Lagerfeld foi a de primavera/verão 2019. Na Semana de Alta-Costura, em Paris, pela primeira vez em mais de 30 anos, o estilista não apareceu na passarela. Na ocasião, seu estado de saúde já estava debilitado.
Por isso, foi Virginie Viard quem representou o estilista nos aplausos finais. Ela já foi anunciada como sucessora do comando criativo da Chanel depois da morte de Karl.
A coleção de haute couture foi inspirada em paisagens retratadas nas pinturas do francês Jean-Antoine Watteau (1684–1721). A noiva, que normalmente veste o último look do desfile, apareceu de maiô e deu o que falar. Entre os itens, saias volumosas, tailleurs com corte reto e vestidos tomara que caia.
Ao longo dos anos, Lagerfeld criou um histórico de inovação nos desfiles da Chanel. Transformou situações cotidianas em verdadeiras passarelas e palco para sua imaginação fora do comum. A ideia do estilista era mostrar que as roupas da grife não servem só para ocasiões formais.
Temas políticos e de comportamento eram abordados pelo designer nas passarelas da maison. Na temporada de inverno 2014/2015, com inspiração no estilo de vida parisiense, Karl transformou o Grand Palais – cenário recorrente dos desfiles da Chanel – em um supermercado. O próprio estilista e as modelos entraram empurrando carrinhos e escolhendo produtos.
Quando a França enfrentava uma crise aérea, em 2015, Karl Lagerfeld usou o momento político para transformar o Grand Palais em um aeroporto fictício. Batizado de Chanel Airlines, o terminal foi palco para modelos desfilarem entre balcões de check-in e guichês de bagagens.
Outro bom exemplo foi quando ele optou pela sofisticação dos cassinos para lançar a linha de inverno de 2016, batizada de Cercle Privé (círculo privado, em tradução livre). O Cassino Chanel tinha mesas de jogos e máquinas caça-níqueis. Com a coleção Cruise 2017, a criatividade também não ficou de lado. O desfile aconteceu em Cuba, no Passeio do Prado – uma charmosa alameda em Havana. O resultado foi um cenário lindo e rústico.
Em 2017, ele decidiu retornar a Hamburgo para apresentar a linha Métiers d’Art no Elbphilharmonie – edifício que Karl considerava o mais interessante da Europa. As peças da coleção, inspiradas no período naval, foram desfiladas ao som de uma orquestra de música clássica.
A Chanel sempre foi conhecida pelas clássicas bolsas. A cada coleção, elas aparecem em novos tecidos, tons e formas. Uma das marcas de Karl foi ter lançado peças incríveis e renovadas, mas sem perder a essência da grife. Ele desenvolveu, por exemplo, uma linha batizada de Gabrielle, homenagem à fundadora da maison.
A assinatura de corrente, emblemática nas bolsas criadas por Coco, apareceram mescladas a diferentes tecidos nas camera bags. Karl também manteve a tradição de colocar símbolos de sorte nos itens da marca, sempre com criatividade.
Fendi
Karl assumiu o comando da Fendi em 1965. A história foi tão longa que virou livro: em 2015, lançaram a obra Fendi by Karl Lagerfeld, com relatos, desenhos, entrevistas e memórias do estilista alemão.
Quando a Fendi estreou na Semana de Moda de Paris, em 2015, Karl entrou para a história como o primeiro estilista a comandar dois desfiles de alta-costura na mesma temporada, considerando também o da Chanel. Ele colaborou com marcas como Diesel, Tommy Hilfiger, H&M, Melissa e Wolford.
Na grife italiana, um dos itens mais icônicos é o modelo de bolsa peekaboo. A criação de Sylvia Venturini Fendi surgiu na coleção primavera/verão de 2009. O nome é uma referência à brincadeira peek a boo, quando os bebês se divertem vendo os adultos escondendo o rosto com as mãos e mostrando em seguida. Em comemoração aos 10 anos do lançamento, a peça foi recriada.
Outra invenção na label foram os exagerados e coloridos chaveiros, que aparecem em vários tamanhos e formatos, inclusive no shape de um “mini Karl Lagerfeld”. Em 2014, na Semana de Moda de Milão, durante a temporada inverno 2014/2015, Cara Delevingne surgiu usando um casaco-vestido preto com capuz felpudo e, para completar, segurava o acessório que homenageia o estilista.
Outra paixão de Karl era a fotografia. Tudo começou em 1987, quando ele fez fotos para um material da Chanel destinado à imprensa. Desde então, não parou. Em 2015, o artista reuniu vários trabalhos e lançou a exposição A Visual Journey, na Pinacothèque de Paris. Em 2010, fotografou em Buenos Aires para a Chanel.
A exposição The Litttle Black Jacket passou por Tóquio, Nova York, Taipei, Hong Kong, Londres e Moscou. Em 2012, foi inaugurada no Grand Palais, em Paris. No ano seguinte, chegou a Milão. A mostra reuniu 113 fotos tiradas por Karl Lagerfeld de personalidades como Olivier Theyskens, Anna Wintour, Yoko Ono e Uma Thurman.
Uma curiosidade sobre Lagerfeld é que ele tinha uma gata e a tratava com muito luxo e conforto. Choupette foi inclusive citada como uma das herdeiras da fortuna deixada por ele.
Há três anos, a mascote ganhou mais de R$ 10 milhões por dois trabalhos publicitários. “Ela é como um ser humano, mas melhor. Sabe ficar em silêncio e não discute. Odeia os outros animais e as crianças”, afirmou Karl à revista The Cut.
Controvérsias
O estilista era conhecido por fazer comentários preconceituosos e controversos. No ano passado, Karl foi criticado nas redes sociais depois de declarar, em entrevista à Numéro Magazine, que era contrário o #MeToo – movimento que reúne forças contra casos de assédio sexual.
“Agora temos de perguntar a uma modelo se ela se sente confortável em posar? É simplesmente demasiado. De agora para a frente, como designer, não se pode fazer nada”, disse Karl, entre outras afirmações sexistas. O estilista também já soltou: “Se você não quer a calcinha puxada, não se torne uma modelo”.
Em 2012 e 2013, criticou o corpo da cantora Adele. Não para por aí: declarações xenofóbicas também fazem parte do histórico de Karl. Em maio, ao jornal francês Le Point, ele disse que poderia renunciar à cidadania alemã por causa dos muçulmanos recebidos no país.
Nem a própria criadora da Chanel escapou das observações de Karl. “Coco fez muito, mas não quanto as pessoas acham – ou o tanto que ela pensava no fim da carreira”, declarou, em 2010, ao International Herald Tribune’s Luxury Heritage. Ele discordava da opinião dela sobre minissaias e calças jeans – peças que Karl considerava emblemáticas para a década de 1960.
Para outras dicas e novidades sobre o mundo da moda, não deixe de visitar o meu Instagram. Até a próxima!
Colaborou Rebeca Ligabue