João Camargo dá dicas para você se vestir bem no ambiente corporativo
Em Brasília para talk show realizado em parceria com a Voga Invest|XP, proprietário da Camargo Alfaiataria falou com exclusividade à coluna
atualizado
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João Camargo, referência nacional em ternos e costumes, voltou a Brasília nessa quinta-feira (11/04) para comandar um talk show feito em parceria com a Voga Invest|XP. Na ocasião, o proprietário da Camargo Alfaiataria debateu sobre moda no ambiente corporativo e deu dicas preciosas para se vestir de forma adequada no trabalho, sem perder o estilo pessoal. Após o encontro, o designer falou com exclusividade à coluna.
Vem conferir essa entrevista!
Quando o assunto é alfaiataria, João Camargo é a pessoa certa para conversar. Um dos designers mais requisitados do país, o paulista tem entre seus clientes uma longa lista de executivos e artistas. Contudo, antes de chegar a esse patamar, o empresário iniciou sua carreira no ramo de vendas, atuando em marcas como Bruno Minelli, Brooksfield e Ricardo Almeida, onde gerenciou uma das lojas da rede.
Sempre atento ao comportamento de seus consumidores, João identificou uma crescente demanda no segmento de ternos sob medida e resolveu investir em um negócio próprio. Em 2005, após diversas pesquisas de mercado, ele criou a Camargo Alfaiataria, que teve seu primeiro endereço na rua Mário Ferraz, em São Paulo, onde, ainda hoje, o alfaiate mantém uma de suas cinco lojas.
Em Brasília desde 2010, Camargo viu na cidade um grande potencial a ser desbravado e, com um tino empresarial aguçado, o paulista acertou em cheio. Atualmente, a capital federal representa sua segunda maior praça. Sempre que vem à cidade, o empresário não tem descanso, graças aos clientes mais exclusivos, que não perdem a oportunidade de encomendar seus ternos diretamente nas mãos do mago dos costumes.
Foi em meio a uma dessas concorridas visitas que João nos atendeu, entre um cliente e outro, tirando uma medida ali e mostrando suas mais recentes novidades. Na conversa a seguir, o empresário dá sua visão sobre como imprimir estilo pessoal no ambiente corporativo e fala a respeito de sua nova linha casual, feita em parceria com o lendário Giovanni Frasson, diretor de moda da Vogue Brasil durante 25 anos. Confira:
Como a roupa corporativa pode carregar informação de moda e, ao mesmo tempo, passar formalidade?
As pessoas confundem moda com o que a gente vê na passarela. O que se vê lá, obviamente, é moda, mas cada um tem seu estilo. Hoje, estou usando o paletó xadrez e as pessoas me perguntaram se podem usar isso no ambiente corporativo. As pessoas podem usar o que elas quiserem, mas é importante ter em mente que, quando você vive em um ambiente corporativo, o excesso de ousadia pode trazer transtornos. A roupa não tem de estar à frente da pessoa. Você tem que fazer o que tem vontade, mas sabendo que você vive em um cenário coletivo. O mais importante no mercado corporativo é a roupa te vestir bem. Dentro daquele universo de azuis marinhos e cinzas, escolha uma roupa que te caia bem e te favoreça. Que te alongue, dê postura, valorize o que tem de valorizar e esconda o que tem de esconder. Olho no caimento.
Usar peças com logos e monogramas de marcas de luxo pode ser considerado ostentação em alguns círculos. Isso cabe no ambiente de trabalho?
Cabe, sim! Eu, quando faço roupa sob medida para mim, não faço questão do monograma, porque eu acho que a roupa tem de falar por si só, mas no universo corporativo, quando você tem um monograma, isso mostra que você teve cuidado ao se vestir.
O que deve ser evitado no mercado corporativo?
Os excessos! Tanto a mulher quanto o homem devem mostrar sensualidade. O homem pode usar um sapato com meia invisível ou abrir um botão, a mulher pode investir em um decote, mas ambos não podem mostrar muito. Você não deve perder sua identidade, mas tome cuidado com os excessos.
E em relação aos acessórios? As gravatas, por exemplos, são uma boa forma de elevar o look?
Falando de gravatas, sou a favor de poucas e boas. É melhor investir em uma seda que dê para fazer um nó bacana do que em várias peças de poliéster que vão estragar sua produção. A cor também é importante. Peças pretas, marrons e cinzas bloqueiam sua comunicação e expressão corporal. É melhor apostar em tons de vermelho, bordô e azul.
E os demais acessórios, como bolsas e sapatos?
Quando a gente fala de mundo corporativo, falamos de uma moda prática. Quando tem excesso de sofisticação, a peça aparece mais do que a pessoa. Vamos supor que estou negociando um investimento, vendendo confiança. Se o cliente olha e tem um acessório que desvie a atenção dele, a chance de conquistá-lo diminui. Sempre gosto de usar o exemplo do Fantasma da Ópera. Tem uma cena, uma das mais lindas do mundo, onde o fantasma desce cantando, em um cenário gótico. Imagina se, nesse momento, onde todo mundo está focado naquela emoção, aparece alguém de vermelho ou rosa pink na minha visão periférica. Me tira a atenção e acaba com o momento.
O mundo corporativo gira em torno de atenção e confiança. Se essa confiança está sendo vendida por uma mulher com um decote enorme, ou uma com uma turmalina paraíba grande no pescoço, não é legal. Nesse caso, menos é mais.
A alfaiataria vem se renovando ao longo dos anos, com modelagens cada vez mais justas. Esse estilo slim fit cabe no ambiente corporativo ou o clássico ainda causa melhor impressão?
Invista no seu estilo. O melhor personal stylist é o seu espelho. Mesmo que você não entenda de moda, se alguma coisa tá te incomodando, ela não é a melhor opção. Com relação a cortes mais justos e largos, ainda existem muitas pessoas que preferem o tradicional, ainda que o segmento esteja se modernizando. O tradicional para eles é aquela roupa que oferece menos riscos. A roupa larga te esconde e pode transmitir baixa autoestima. Esse lance da roupa mais ajustada é porque todo o mundo quer ser mais magro e mais alto, então a roupa vem se aproximando do corpo ao ponto de ficar muito justa, mas estamos indo em direção a um equilíbrio. Nos próximos 10 anos, as roupas tendem a ficar um pouco mais largas. Os tecidos estão vindo com cada vez mais elasticidade, então será possível usar um blazer para andar na ciclovia, por exemplo. Essa praticidade vai ser muito bacana.
Por ser uma cidade com corpo diplomático e sendo a sede do poder, Brasília é mais formal que capitais como o Rio. Os executivos daqui têm um estilo específico?
A única coisa diferente é que, de fato, o dress code daqui é o terno. Proporcionalmente, usa-se muito mais ternos aqui do que em São Paulo. Outra coisa interessante é que aqui temos muitas tribos. Eu fico na sala vip do aeroporto e você vê todos os estilos e biotipos, mas todo o mundo de terno.
O que você mais vende na capital federal hoje?
Os ternos semiprontos hoje são meus principais produtos. Eles não são sob medida, mas também não estão prontos. Isso permite mais recursos do que uma roupa pronta e custa metade do preço do sob medida. É um produto que vende muito.
E qual a novidade mais quente da marca?
Na busca pela praticidade, estou entrando com uma linha casual, chamada Power. Esse trabalho foi desenvolvido em parceria com o Giovanni Frasson, que durante 25 anos foi editor de moda da Vogue. Essa, de fato, foi a primeira vez que fizemos uma coleção casual. A linha tá fresca nas lojas e mistura tecidos com elasticidade, conforto, tecnologia e impermeabilidade. A segunda será lançada em setembro, voltada ao verão.
Por que você decidiu apostar no segmento casual?
Sempre estou estudando o comportamento do brasileiro e atualmente as pessoas estão buscando peças que possibilitam uma transição de ocasiões. A mulher sabe que tem de ter uma terceira peça e o homem, muitas vezes, esquece disso. Aqui em Brasília, por exemplo, o clima varia muito, então é legal que você tenha uma jaquetinha na mochila. O cara sai do escritório, tira o blazer, põe uma jaqueta de nylon que tá dentro da mochila, pega a bicicleta e vai embora.
Falando das mulheres que trabalham no ambiente corporativo, qual dica você dá para que elas acertem em cheio nas produções?
Outro dia foi o Dia da Gentiliza e eu postei um vídeo no Instagram, comentando que eu ainda sou um homem que não deixa a mulher andar do lado de fora da calçada, pois fui criado assim. Eu não consigo chegar em um restaurante e não colocar a mulher para dentro, abrir a porta para ela entrar. Minha filha me alertou, dizendo que eu preciso ter cuidado para não ser machista. Da mesma maneira, é necessário ter cuidado com o feminismo.
Estamos em uma época em que as mulheres estão poderosas, no mundo inteiro, mas isso não pode subir à cabeça. Você nunca perde pela simplicidade. É preciso ter um equilíbrio. Você vive em um cenário, então você tem de estar de acordo com ele. No mundo corporativo, a gente fala de equipes e elas também precisam estar em sintonia.
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Colaborou Danillo Costa