Japonesas entram na guerra contra o salto alto!
Petição com 18 mil assinaturas, entregue ao Ministério do Trabalho do país, pede o fim da exigência da peça em ambiente corporativo
atualizado
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A era #MeToo tem redefinido o sex appeal feminino nas passarelas e campanhas, mas não são apenas as roupas que estão passando por reformulações graças ao movimento. Um grupo de mulheres japonesas enviou uma petição ao governo para protestar contra a obrigatoriedade de usar salto alto em ambiente corporativo.
Vem saber mais sobre essa iniciativa!
A campanha KuToo, trocadilho que une as palavras kutsu (sapatos) e kutsuu (dor), em uma analogia com a onda de protestos que tomou Hollywood em 2017, foi lançada pela atriz Yumi Ishikawa e rapidamente ganhou apoio on-line.
Após se deparar com uma vaga de emprego, em janeiro, em que era exigido o uso de salto alto, a artista foi ao Twitter demonstrar seu descontentamento com a situação e, para sua surpresa, a publicação foi compartilhada quase 30 mil vezes. “Quando percebi que muitas pessoas enfrentam o mesmo problema, decidi lançar a campanha”, disse ao The Guardian.
Segundo as mulheres japonesas, o uso do salto alto se tornou obrigatório nas empresas do país, até mesmo nas entrevistas de emprego. Para Ishikawa, essa prática deve ser encarada como assédio e discriminação de gênero, como ela explicou à imprensa após entregar as 18 mil assinaturas recolhidas ao Ministério do Trabalho. “Hoje, nós enviamos uma petição pedindo a introdução de leis que proíbem os empregadores de exigir o uso do salto alto”, afirmou Yumi.
De acordo com especialistas, o caso ressalta a misoginia ainda latente na cultura japonesa. Em 2018, por exemplo, o parlamentar japonês Kanji Kato afirmou publicamente que as mulheres deveriam focar em ter vários filhos, pois as que preferissem ficar solteiras seriam um fardo para o estado futuramente.
Uma petição similar foi assinada por mais de 150 mil pessoas no Reino Unido, em apoio à recepcionista Nicola Thorp, mandada de volta para casa depois de chegar no trabalho com sapatos baixos, em 2016.
Na época, um comitê de deputados investigou o caso e fez um estudo sobre códigos de vestimenta no ambiente de trabalho. No entanto, a comissão se recusou a implementar uma lei, alegando que tal situação já tinha sido abordada no Equality Act de 2010.
Ainda em 2016, a atriz Julia Roberts ficou descalça no Festival de Cannes, em resposta à exigência de salto no red carpet do evento. Na época, o diretor da mostra, Thierry Frémaux, chegou a se desculpar pelo requisito, mas decidiu manter a regra.
Em 2017, a província canadense Colúmbia Britânica e as Filipinas proibiram as empresas de obrigarem as funcionárias a usar sapatos altos, ao alegar que a prática é perigosa e discriminatória.
No início de 2019, a Norwegian Air foi amplamente criticada por demandar que suas comissárias apresentem atestado médico para terem o direito de usar sapatos baixos. Ingrid Hodnebo, porta-voz das mulheres do Partido da Esquerda Socialista do país, acusou a companhia de estar presa nos anos 1950.
Nos EUA, a luta contra o salto alto já dura quase 150 anos e, curiosamente, foi iniciada por homens. Soldados norte-americanos procuraram o The Times para relatar que as botas de salto estavam prejudicando as atividades do batalhão e machucando os combatentes.
Em 1920, após alertas da comunidade médica, a Massachusetts Osteopathic Society solicitou que o governo proibisse a fabricação de saltos com mais de 1,5 centímetro de altura. Já em Utah, um projeto de lei chegou a criminalizar a posse dos sapatos.
Colaborou Danillo Costa