Irmãs da Estrutural criam marca com foco no crochê periférico
Crescidas na periferia, Nikolly e Tamara Souza encontram na prática manual uma forma de renda. A Slanvy tem crescido no Distrito Federal
atualizado
Compartilhar notícia
Derivado de técnicas artesanais, o crochê se popularizou com o passar do tempo e ganhou espaço na moda. Os itens deixaram o aspecto de “vovó” e surgiram nas passarelas e nas coleções de grandes marcas. Nascidas na Cidade Estrutural, região administrativa do Distrito Federal, as irmãs Tamara e Nikolly Souza, de 23 e 19 anos, respectivamente, encontram na prática manual uma forma de renda para reverter as expectativas sociais. Defensoras de uma moda autoral e marginal, as duas criaram a Slanvy, que tem se destacado na cidade.
Vem conhecer!
Desde a infância, Nikolly Souza está em contato com o crochê. A prática foi ensinada pela mãe, que é considerada uma grande “estilista” pela jovem. “Eu sempre fui autodidata, mas, nessa parte de artesanato, ela me ajudou muito. Comecei fazendo tapetes e acessórios”, lembra, em entrevista à coluna.
De origem periférica, a família de Nikolly é essencialmente feminina. Foi durante a pandemia que a jovem empreendedora começou a produzir peças de crochê para vender, indo além do comércio restrito a amigas. Com o apoio da irmã mais velha, Tamara Souza, a empresa ganhou asas.
A Slanvy, nome em homenagem à Nikolly, tem cerca de um ano. As duas explicam o sucesso “meteórico” da etiqueta entre o público. “A galera começou a enlouquecer quando passei a compartilhar no meu perfil. A gente teve uma explosão de encomendas. Paralelamente, começamos a criar a identidade”, conta Tamara.
Moradoras da Cidade Estrutural, as jovens têm revertido o cenário que vivem com uma união de moda e política. Estudante de Ciências Sociais na Universidade de Brasília (UnB), Tamara Souza reflete como a realidade interfere no trabalho.
“A gente não se priva de mostrar a nossa vivência dentro da marca, porque o crochê é uma coisa que sempre existiu. Mas tem ficado muito elitizado. Queremos aproximá-lo também para as pessoas da periferia.”
Ambas refletem a versatilidade que o crochê pode apresentar na moda, além de ressaltar o legado familiar e feminino que a prática manual carrega. “Queremos quebrar esse paradigma de ser algo de luxo. Por isso, criamos varias oportunidades e promoções. A ideia é que todos os tipos de pessoas e classes consumam a Slanvy”, defende Tamara.
Crochê com propósito
Entre os principais projetos das irmãs está o propósito de unir a prática de crochê com uma identidade periférica. “Eu não tenho emprego físico, minha renda vem apenas do artesanato. Participo de feiras e eventos. Faço parte do grupo de pessoas que encontra uma forma de sobreviver”, conta Nikolly.
As jovens refletem sobre os desafios de empreender em uma área tão específica como o crochê, que não segue uma escala industrial de produção. “A gente está inserida nesse cenário e nós somos pessoas marginalizadas, com muito orgulho. Queremos fugir do mais do mesmo que já tem em Brasília. Autenticidade é a palavra que nos define”, finaliza Tamara.
Brasília Fora dos Padrões
A coluna deu início ao quadro Brasília Fora dos Padrões, como uma extensão da série Moda Brasília. Toda semana, apresentamos pessoas que se destacam pelo estilo próprio, a fim de dar ênfase à moda no Distrito Federal, no Centro-Oeste.