Instituto C&A lançará programa de empreendedorismo para grupos sociais
Iniciativa abrangerá empreendedores negros, LGBTQIA+ e imigrantes. Alguns poderão comercializar seus produtos no site da marca
atualizado
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O Instituto C&A, braço filantrópico da varejista no Brasil, lançará em abril um programa de empreendedorismo voltado para grupos sociais vulnerabilizados. Entre eles, negros, comunidade LGBTQIA+ e imigrantes. A iniciativa estreitará os laços desses empreendedores com a C&A e possibilitará que alguns deles comercializem seus produtos no marketplace da marca. Quem adianta os detalhes com exclusividade é o gerente executivo do instituto, Gustavo Narciso.
Vem saber mais detalhes!
Funcionamento do programa
O objetivo do programa é desenvolver negócios protagonizados por grupos sociais que trabalham moda autoral, com práticas sustentáveis e trabalho decente. Isso abrange empreendimentos comandados pela comunidade LGBTQIA+, negros de territórios periféricos, mulheres, egressos prisionais, idosos, pessoas com deficiência, imigrantes e refugiados.
Esses negócios serão aperfeiçoados de diversas maneiras. Entre elas, mentorias, cocriação e desenvolvimento de produtos, sob os cuidados dos colaboradores da C&A. Também poderão se tornar fornecedores de compras indiretas da empresa, como brindes e kits corporativos. A oportunidade mais atrativa, certamente, é a possibilidade de vender seus produtos no marketplace da empresa, desde que atendam a uma série de critérios e requisitos.
“Acho que essa é a grande inovação que teremos dentro do programa. Conseguir desenvolver empreendedores de moda de grupos específicos, valorizando o trabalho decente e as práticas sustentáveis, para que eles tenham produtos para o cliente C&A. Essa é uma relação ganha-ganha, dentro de um modelo justo, entendendo o tamanho da marca e do empreendedor”, explica Gustavo Narciso.
Idealizado antes mesmo da pandemia e estruturado ao longo de 2020, o programa será duradouro e terá abrangência nacional. Os principais focos de 2021 serão o afroempreendedorismo, transempreendedorismo, o público de imigrantes, refugiados e territórios periféricos. Para isso, o instituto acolherá cerca de cinco parceiros intermediários que atuem em territórios ou grupos específicos. Podem ser empresas, coalizões ou organizações da sociedade civil.
“Esse parceiro terá o papel de conduzir projetos de gestão, aceleração, pesquisa e mapeamento de empreendedores de negócios de moda, que pertencem a grupos sociais com mais dificuldade de acesso a direitos”, acrescenta o gerente executivo. O formato de atuação dos empreendedores também será variado, incluindo marcas, negócios sociais, cooperativas ou coletivos.
Início das atividades
Os primeiros editais serão lançados em abril, para todos os públicos-alvo. Empreendedores em vários níveis terão oportunidades, desde os mais iniciantes, com menor faturamento, até os mais maduros, que poderão adentrar o marketplace da empresa com mais facilidade. No caso desses, os esforços serão concentrados na digitalização e melhoria dos produtos, para torná-los coerentes com o portfólio da própria C&A.
Como se sabe, o Brasil está no pior momento da pandemia de Covid-19. Por isso, as atividades do programa ocorrerão de forma remota e cumprirão as orientações distanciamento social. “Isto coloca mais um elemento desafiador à execução, pois sabemos quanto o contato enriquece a troca”, observa Gustavo Narciso. Ele conta, também, que o instituto tem buscado formas de fortalecer a resiliência dos empreendedores diante da crise atual.
“Estamos estudando formas de apoio para que eles tenham a infraestrutura necessária para se dedicar às plataformas que iremos oferecer em 2021, através de parceiros que possam oferecer microcrédito a juros baixos ou capital semente. Entendendo que estamos em um momento difícil para o consumo de moda no país”, complementa.
Diálogo com organizações
Para desenvolver a estrutura da iniciativa, o Instituto C&A dialogou com organizações como Central Única das Favelas (Cufa), Rede Asta e G10 das Favelas para entender a melhor forma de fazer um programa que atendesse às necessidades da comunidade. Adriana Barbosa, fundadora e CEO do evento Feira Preta e da Pretahub, foi convidada para o conselho administrativo da entidade com intuito de reforçar esse desenvolvimento.
“Isso foi todo o ano de 2020. Agora, chegou a hora de colocar esse carro na rua. Temos, pela primeira vez, a possibilidade de conectá-lo [o programa] às nossas ações de uma forma um pouco mais robusta, pragmática e que gere resultado para os dois campos. Tanto para o campo do negócio quanto para o campo braço filantrópico”, afirma Gustavo Narciso.
Mudanças no Instituto
O Instituto C&A foi criado em 1991 para apoiar organizações e projetos ligados ao fortalecimento da educação de base no Brasil. Em 2015, passou a focar na transformação da indústria da moda em nível global. Já no ano passado, o conglomerado da família Brenninkmeijer (dono da C&A) concentrou as iniciativas mundiais na recém-criada Laudes Foundation. O instituto, por sua vez, retomou os esforços exclusivos ao Brasil.
Há 30 anos, o braço filantrópico da marca tem um programa de voluntariado corporativo – o mais antigo do país, segundo Gustavo Narciso. São iniciativas que geram renda, capacitam pessoas e impulsionam o público beneficiado por meio de organizações sociais ligadas à moda. O novo programa de empreendedorismo surgiu como uma forma de ampliar o portfólio de ações com responsabilidade social do instituto, além das verbas anuais que já são liberadas para ajuda humanitária.
“Já tínhamos esse desejo de trabalhar com comunidades ‘vulnerabilizadas’. Quando a pandemia estourou, congelamos o programa, porque não víamos um cenário propício para fazer programas de mentoria e desenvolvimento, e canalizamos o investimento que teríamos naquele ano para ajudas humanitárias”, justifica. Nesse período, o instituto apoiou organizações que atuaram no combate à fome e na produção de máscaras.
Liderança e representatividade
Antes de assumir a gerência executiva do Instituto C&A, Gustavo Narciso foi gerente de projetos da marca até 2017. Naquele ano, assumiu o comando do Comitê de Diversidade e Inclusão da C&A, criado por iniciativa dele. Já em 2019, entrou para o time do instituto, que ainda atuava em nível global. Após a criação da Claude Fountation, ele e Gabriela Santiago foram convidados para refundar o braço filantrópico da empresa no Brasil.
Formado em engenharia bioquímica, Gustavo Narciso é o único profissional negro à frente de um instituto corporativo no país atualmente. “Sei a responsabilidade que isso tem e estou aqui para conseguir criar e tentar subverter e atualizar o investimento social privado, as demandas, a realidade e as possibilidades de furar a bolha. Olhar para uma moda mais sustentável e justa”, defende.
Sem dar detalhes, Narciso adiantou que o Distrito Federal está no radar de futuros projetos do Instituto. Vamos aguardar!
Colaborou Hebert Madeira