Homens de vestido e salto estão roubando a cena nos red carpets
Enquanto as mulheres passam a investir em composições discretas e minimalistas, público masculino caminha no sentido oposto
atualizado
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No início deste mês, durante a premiação Homem do Ano, da revista GQ, o cantor Sam Smith comemorou a primeira vez que usou saltos em um tapete vermelho. No entanto o britânico não tem sido o único a investir em peças tipicamente femininas para ocasiões como essa. O cabeleireiro Jonathan Van Ness, do reality show Queer Eye, compareceu à premiação técnica do Emmy, no último domingo (15/09/2019), com um vestido Christian Siriano e botas Rick Owens com pelo menos 10 cm de altura, enquanto o ator Billy Porter tem roubado a cena no London Fashion Week com suas produções sem gênero.
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Como adiantamos em abril, o movimento #MeToo tem redefinido o sex appeal feminino nas passarelas. Decotes, comprimentos curtos e roupas justas, aos poucos, dão lugar a silhuetas mais amplas, minimalismos e alfaiatarias. Contudo, ao passo que as mulheres se afastam da sexualização e da extravagância, os homens abraçam essas características como nunca antes.
A crescente disseminação da moda genderless e a singularidade da geração millennial têm dado ao menswear uma importante oxigenação de tendências e práticas. Nas ruas, rendas, animal prints, texturas e cores marcantes começam a se tornar mais comuns entre eles, indicando uma importante reinvenção no segmento para a próxima década.
Na última temporada de premiações, por exemplo, os tradicionais smokings ganharam vida com texturas e acessórios, ameaçando a hegemonia feminina nos red carpets. Graças a estrelas como Michael B. Jordan, Chadwick Boseman, Timothée Chalamet, Jared Leto e Young Thug arriscar deixou de ser um ato demonizado no século 21.
E, por falar em riscos, ninguém foi tão ousado quanto Billy Porter no tapete vermelho do Oscar. Apontado pela mídia especializado como o dono do melhor look do evento, o ator surgiu no Teatro Dolby em um volumoso Christian Siriano que referenciou a cultura ballroom, explorada na série Pose, protagonizada pelo artista.
Mais tarde, no Met Gala, o americano voltou a causar comoção ao adentrar as escadarias do Museu de Arte Moderna de Nova York como Deus Sol. Carregado por seis servos, Porter exibiu um visual dourado com direito a asas e muitas franjas.
Agora, durante a Semana de Moda de Londres, Billy voltou às manchetes como uma série de produções embaladas por fluidez, tanto de gêneros quanto de tecidos. Entre casquetes, vestidos e saltos, o ganhador do Tony mostrou que um estilo marcante já não depende de visuais binários.
Outro ator que investe em peças tipicamente femininas na hora de montar seus looks é Ezra Miller. Ele, que dá vida ao super-herói Flash nos cinemas, sempre aparece nos red carpets e premières com combinações cheias de irreverência e sem gênero definido.
O estilista Marc Jacobs também escolheu saltos para sua passagem pelo tapete vermelho do MTV Video Music Awards 2019. Porém não é de hoje que o designer flerta com a moda feminina. Muito antes do termo não binário aparecer, ele já desfilava pelas ruas de saia, sempre com produções impecáveis e cheias de estilo.
Na premiação técnica do Emmy, no dia 15 de setembro, o tapete vermelho do evento poderia ter passado em branco se não fossem dois membros do elenco de Queer Eye. Em meio às produções chatas e sem muita informação de moda, Jonathan Van Ness e Tan France roubaram a cena com seus trajes.
O primeiro apostou em um vestido Christian Siriano, desfilado na última semana de moda de Nova York, enquanto seu colega finalizou com uma túnica bordada e botas brancas de salto.
O termo “não binário”, amplamente difundido na Geração Z, começou a ser debatido por volta de 2014, quando a identidade de gênero tornou-se uma conversa internacional. Em 2017, um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, descobriu que 27% dos jovens entre 12 e 17 anos acreditam não ser vistos como parte de um gênero específico.
De acordo com um artigo publicado na revista Pediatrics, a previsão é que esse número cresça, pois cada vez mais adolescentes estão se identificando com rótulos não tradicionais. Algumas sinagogas progressistas e comunidades judaicas, inclusive, já realizam cerimônias de bar mitzvás não binários, ao passo que algumas pessoas sinalizam “sem gênero” nas habilitações americanas.
“Quando analisamos a comunidade de jovens que se identificam como não binários, o que realmente vemos é uma comunidade de pessoas que estão apenas aceitando a diversidade e forçando os limites dos estereótipos binários”, disse Jeremy Wernick, professor assistente do Departamento de Psiquiatria Infantil e Adolescente da NYU Langone.
Deborah Tolman, professora de psicologia da City University de Nova York, cujo trabalho se concentra na sexualidade, acha que esse movimento fashion é, para muitos, sobre brincar com masculinidade e feminilidade. “O objetivo disso, que muitos julgam como esquisito, é estar fora da caixa, valorizando a individualidade”, afirmou ao New York Times.
Colaborou Danillo Costa