Guilherme Siqueira abre o coração e conta sobre sua vida e a alta moda na Itália
Bati um papo com o relações públicas que conquistou Brasília e o mundo com competência, inteligência e charme. Vem comigo!
atualizado
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Eram 13h, de uma terça-feira, quando fui encontrar Guilherme. Escolhemos o restaurante Gero para fazer uma entrevista exclusiva. Gui é um brasiliense que ganhou o mundo. Mas segue discreto quanto a sua vida pessoal. O relações públicas vestia calça azul-marinho de alfaiataria, camisa polo e cashmere. O look Dolce & Gabbana era elegantemente monocromático. Perfeito para quem foi considerado, pela revista GQ, um dos 25 homens mais bem-vestidos do Brasil em 2017.
Nos últimos anos, o brasiliense tornou-se reconhecido internacionalmente como RP. Se divide entre a residência em Milão, que compartilha há três anos com o estilista Domenico Dolce, a casa de praia em Portofino e o apartamento em Nova York. E também, é claro, o charmoso endereço na capital federal.Tinha no braço um discreto relógio Cartier. O brilho vinha de um anel cravado com brilhantes no dedo indicador. Carregava ainda uma bolsa-carteira em croco. Guilherme Siqueira não se atrasou para o encontro. Não é de seu estilo.
Ele se orgulha de suas origens. Tem paixão por Brasília e sempre fala com admiração sobre as obras de Oscar Niemeyer. De sorriso doce e perfil sereno, Gui revelou, durante o bate-papo, sua trajetória e os caminhos que o levaram a se consolidar como um símbolo de beleza, de sofisticação, além da capacidade de relacionamento com famosos das mais variadas nacionalidades.
Com sua competência, conseguiu aproximar a sociedade brasileira da alta moda italiana. É comum vê-lo rodeado de celebridades de Hollywood, assim como enquadrado nas mesmas fotos com os amigos que conserva de Brasília.
Vem comigo!
Conheço o Gui há algum tempo. Em 2003, quando retornei ao Brasil, depois de sete anos estudando fora, ele era o assunto da cidade. O publicitário tinha um mailing imbatível e organizava eventos muito requisitados em Brasília. Aos 35 anos, sua agenda de contatos, agora, é disputadíssima no mundo.
Guilherme deposita sua energia profissional para promover a superbadalada Dolce & Gabbana: foi condecorado embaixador da Alta Sartoria (alta moda masculina) da grife. Embora seja modesto e declare não ter responsabilidade na expansão da marca italiana, a importância dele nesse processo é inquestionável.
Domenico Dolce e Guilherme Siqueira
Ao lado de Domenico, seu companheiro e sócio-diretor da marca italiana, Gui viaja pelo mundo. Em Milão, o Martini Bar é um de seus spots favoritos – ambiente que mistura toda a tradição e modernidade siciliana. Mas o seu lugar preferido mesmo é a Ilha de Capri, também na Itália.
Domenico Dolce e Guilherme Siqueira
Ao final das temporadas de desfiles, Gui e Domenico sempre tiram uns dias de férias – como aconteceu logo após a Semana de Moda de Milão, quando conheci o estilista. O casal partiu para Nova York. Lá, eles relaxam e vivem o dia a dia da cidade. Mas o descanso dura pouco.
Dessa última vez, Domenico seguiu para novos desfiles, na Ásia, enquanto Guilherme veio a Brasília visitar a família e rever os amigos. Na passagem pelo Brasil, compareceu a dois casamentos – entre eles, o da atriz Marina Ruy Barbosa. O mundo repleto de glamour parece ser a realização de um sonho, mas o publicitário afirma: nunca imaginou que isso poderia acontecer.
Duda Nagle, Sabrina Sato, Guilherme Siqueira, Patrícia Romano, Marina Ruy Barbosa, Xande Negrão, Vivianne e Nelsinho Piquet
Cresceu em Brasília, na tradicional quadra 207 Sul. Atualmente, mantém apartamento na 107 Asa Norte, incrivelmente decorado com obras de Vik Muniz, Francisco Galeno e Adriana Varejão. O ambiente é composto de móveis brasileiros da década de 1950 e, na sala, uma mesa em jacarandá contrasta com um lustre francês. O projeto virou um editorial em diversas revistas especializadas.
O rosto angular de Guilherme inspirou o artista Romero Britto, que retratou o publicitário em duas oportunidades. A primeira vez, quando Gui tinha 25 anos e, mais recentemente, para o aniversário de 35 anos do brasiliense – presentes guardados com muito carinho.
Guilherme circula entre Anna Dello Russo e outras personalidades do mundo da moda, como Naomi Campbell. No universo da música e do cinema, conheceu Madonna, Sophia Loren, Sarah Jessica Parker e Thalia. Logo antes de começarmos a entrevista, ele recebeu uma ligação de Stefano Gabbana – sócio-criativo da marca e ex-parceiro de Domenico. Trocaram ideias, bateram papo e dividiram gargalhadas como grandes amigos.
Stefano Gabbana, Guilherme Siqueira e Domenico Dolce
E como foi a trajetória desse brasiliense que leva uma vida de nos deixar babando? Vou te contar!
Filho do psiquiatra Antonio Siqueira e da psicóloga Ângela de Campos Nogueira, Guilherme já chegou abrindo portas. Foi o primeiro bebê a nascer na Clínica São Matheus, na QI 9 do Lago Sul, em 19 de janeiro de 1982. Também fez parte da primeira turma a se formar pela Escola das Nações. Para se ter uma ideia, a classe tinha apenas nove alunos.
Gui teve uma infância muito boa. “Nenhum trauma”, diz ele. Costumava frequentar aula de natação, inglês e viajar para a Disney. A irmã mais nova, Ana Luiza, assim como a mãe, é formada em psicologia. Hoje, Ana Luiza mora em Nova York e trabalha como maquiadora. Gustavo, o irmão mais velho, tornou-se advogado e vive na capital.
Quando criança, o relações públicas estudou no colégio Candanguinho – e, mais tarde, se formou pela Escola das Nações. Fez publicidade e propaganda no UniCeub.
Mesmo antes da formatura, já trabalhava. Sempre teve o espírito livre e estava mesmo predestinado a voar. Queria pagar as próprias contas e, de vez em quando, como ele gosta de dizer, “comprar um pouquinho”. Gui ama relógios.
Nunca foi muito de balada e, na adolescência, já queria entender a dinâmica social da cidade. “Dos meus 15 anos em diante, comecei a ter uma consciência própria e frequentava eventos de lançamentos nas lojas da capital. Não tive essa adolescência frenética. Sempre fui caseiro. Até hoje, amo ficar uma sexta-feira à noite em casa”, comenta o profissional.
A relação com a família é próxima, embora Gui sempre tenha valorizado sua autonomia. “Meus pais se separaram quando eu tinha 11 anos. Saí da casa da minha mãe para morar com o meu pai aos 13. Temos um relacionamento bom, os vejo com frequência. Amo meus pais, mas sempre fui muito avulso. Sempre quis ser independente”.
Trabalho
Seu primeiro trabalho não foi com moda nem como relações públicas. Guilherme dava aulas particulares de inglês e, ao mesmo tempo, estudava publicidade e propaganda. Escolheu o curso por conta da conexão com Patrícia Figueiredo, ex-mulher do pai – com quem ele afirma ter uma “super-relação” e ser a responsável por cuidar de toda sua vida.
Nessa época, chegou a ministrar aulas para o Padre Abdon, muito conhecido na cidade, e Dona Alice Bittar, cuja família comanda os hotéis Bittar.
“Como tinha dificuldade de levantar cedo, resolvi dar aulas de inglês pela manhã, para me forçar a acordar. Lecionava três vezes por semana”, relembra Guilherme.
Não demorou e Guilherme entrou para o mercado da moda. Certo dia, a então mulher de seu pai o presenteou com uma mala Louis Vuitton. Gui queria trocar a peça e procurou a revendedora da grife na cidade. Na época, Cristina Barbosa era a responsável pela marca e, em conversa informal, pediu a Guilherme indicação de alguém para trabalhar com ela em Brasília. O jovem prontamente se ofereceu para o cargo. Foi contratado.
Guilherme gosta de gente. Sempre gostou. Muito bem conectado, se tornou relações públicas sem nem perceber. Foi tudo natural. Ele se interessa por quem tem algo a dizer. Tem prazer e paciência de ouvir as pessoas e acredita que esse hábito faz toda a diferença.
“Já conhecia muita gente das minhas próprias relações familiares e da escola. O primeiro evento que organizei foi da empresária Dani Weyne. Ela me chamou para fazer a abertura de sua loja. Dei um palpite aqui, outro ali e as coisas aconteceram. Nunca tive cartão pessoal, sempre decidi viver um dia depois do outro”, conta.
Na cidade, foi RP do Iguatemi, da Mixed, da Amelie, do ParkShopping, da MAC, da Louis Vuitton, da Gucci e da Prada. Trabalhou em todas, menos na Dolce & Gabbana. Também tinha contrato com o salão Ricardo Maia, mas foi na Magrella, loja da empreendedora e empresária Cleuza Ferreira, que deu expediente por um período mais longo. Com quatro décadas de história na capital, a Magrella é uma importante multimarcas do país. Especialmente por causa de seu espaço, curadoria e styling impecáveis, com os melhores nomes nacionais e internacionais. A junção de Gui com a loja foi mais um dos degraus para a sua ascensão.
“Trabalhei com ela muito tempo. Saí da Magrella antes do Iguatemi pensar em existir em Brasilia. Foram de oito a 10 anos de uma parceria em que aprendi muitíssimo, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional”, conta.
Para saber mais sobre Guilherme Siqueira, confira a entrevista abaixo!
Crescer em Brasília te influenciou profissionalmente?
Não. Mas trabalhar em Brasília, sim. Essa é a cidade mais difícil para ser um relações públicas. Por conta da política e do funcionalismo local, as pessoas não socializam, como acontece em outras cidades. O networking, aqui, é feito entre quatro paredes. Além disso, muitos brasilienses já têm emprego garantido e não veem a necessidade de sair. Então, é difícil você tirá-los de casa. Você tem que batalhar. Isso foi bom para mim, porque, hoje, consigo tirar qualquer um de casa, em qualquer lugar do mundo.
Nunca usei as pessoas. Nunca quis ser confundido com um vendedor, até porque nunca tive nada para vender. Quem trabalha com evento é obrigado a saber a diferença entre uma mera relação de compra e querer convidar o cliente para ter uma experiência bonita. Se rolar a parte do consumo, é algo natural, porque ele realmente quer e gostou.
Você cultiva muitas amizades antigas. Quando está em Brasília costuma encontrá-las?
Sempre vejo meus amigos da Escola das Nações. E também as amigas mais próximas da minha faixa etária, como a Bruna Teixeira, Tetê Valença, Isabela Gontijo e a Paty Neves. Tem o Bruno Mello, Felipe, André Queiroz. E não posso me esquecer da Marina Slaviero, Bob e Lilian Lima, Geninho e Tati Lacerda. Passei diversas férias em St. Barth com Vivianne e Nelson Piquet. São eles quem mais me visitam em Milão. Na Itália, tenho vários amigos e colegas de trabalho e sempre recebo algum amigo de fora.
Fernanda Adriano, Yan Acioli, Vivianne Piquet, Marina Slaviero e Bruno Mello
E a vida mudou muito? É só glamour agora?
Sim e não. Enxergo o mundo por meio de outra perspectiva, diferente da que sempre vivi. Mas continuo gostando das mesmas coisas. Viajo muito e tenho experiências que eu nunca imaginei. Já fui para a China, Tailândia, Japão. Isso é uma grande mudança para mim. Nunca pensei em ir embora de Brasília. Tudo aconteceu de maneira muito lenta. Refleti durante um ano.
Lindsay Lohan, Luciana Gimenez, Thalia e Lory Harvey
Como é sua vida em Milão?
Moro perto do quadrilátero da moda. Passamos muito tempo lá e alguns finais de semana em Portofino, dependendo do clima. Mas a base é Milão. A cidade italiana me lembra Brasília, no sentido de ser pequena. Você consegue fazer tudo a pé.
As pessoas sempre me perguntam se sinto saudades do Brasil e eu digo que não. Mas quando estou em Nova York, não tenho saudades de Milão e vice-versa. Em Brasília, estou feliz. Posso ficar aqui um mês inteiro e minha cabeça não pensa em outro lugar.
Fale um pouco sobre o seu trabalho com a Dolce & Gabbana.
A mudança para Milão foi uma jornada pessoal e não profissional. Mas o Domenico, dentro da genialidade dele, tem uma capacidade muito grande de entender as pessoas. Ele sabia que seria bom para mim. E o trabalho veio muito depois, e de forma natural.
Hoje, está oficializado: sou embaixador da Dolce & Gabbana. Mas, no começo, não queria. Ainda acho um título muito grande para mim. Dou palpites sobre marketing e eventos. Mas não dou toques na loja. Sou mais ligado às pessoas.
Quando falamos da marca, sou zero influência. Dou minha opinião, mas, se elas são acatadas, é uma outra história. O Domenico e o Stefano não têm medo de correr riscos e eu aprendo com isso. Muitas vezes, posso dar dicas, mas mérito não tenho. Só acompanho.
Me diga uma curiosidade sobre a dupla Dolce e Gabbana.
Os dois interagem muito pouco com outros estilistas. Existe um senso de comunidade, mas eles são muito independentes. Não ficam querendo saber o que está acontecendo no ateliê de outras grifes.
Todos querem saber a sua história com o Domenico Dolce. Como tudo aconteceu?
Conheci o Domenico em 2013, na abertura da loja deles no JK Iguatemi de São Paulo. Mas demorou um ano para nos encontrarmos de novo. A gente se cruzou em Nova York e, ali, engatamos um romance que já dura três anos. Ele, inclusive, conheceu meu pai.
Com o Domenico, me tornei alguém melhor. Ele me faz muito bem. Sou mais tranquilo e menos ansioso. Aprendi muito em termos pessoais e emocionais nesse tempo. Me encontrei. Amo esse clima família. Engraçado como sou tão avulso da minha própria família, mas ali me senti acolhido. É um contraste grande da minha história. A nossa vida privada é tranquila, normal e caseira. E o resto é trabalho.
Domenico Dolce e Guilherme Siqueira
E ele costuma visitar Brasília?
No Brasil, veio em duas ocasiões. Mas em Brasília, apenas uma vez. Ficou uma semana no meu apartamento da Asa Norte e amou a cidade. Levei ele no Itamaraty, no Palácio da Alvorada, no Palácio do Planalto. Até hoje, o Domenico fala para todo mundo que amou a capital.
Qual o desfile mais inesquecível da marca?
Antes da história com Domenico, nunca gostei de desfile. Nunca fui. Agora, fico emocionado em todas as apresentações da Dolce porque sei do trabalho nos bastidores. Quando cheguei em Milão, em 2015, um dos primeiros que vi foi aquele das mulheres grávidas e mães com bebês no colo. Chorei muito e achei lindo.
Diante de tantas celebridades que você já teve o prazer de conhecer, quem mais te inspirou?
Tive a sorte de conhecer a Sophia Loren. Ela faz parte de uma geração clássica de artistas. Conhecê-la foi incrível. Mas, para dizer a verdade, nunca tive muitos ícones. Gosto quando eu consigo desenvolver uma relação pessoal e afetiva com as pessoas. Também fiquei muito feliz quando conheci a Sarah Jessica Parker, porque amo “Sex & The City”. Ela foi superquerida.
Sarah Jessica Parker e Sophia Loren
Qual é a diferença entre a mulher brasileira e a italiana?
A mulher brasileira e a mulher italiana não saberia comparar. Já o italiano e o brasileiro têm muita coisa a ver. Não sou muito antenado para falar de estilo, mas acho o homem italiano o mais elegante do mundo.
Você foi eleito um dos 25 homens mais bem vestidos pela revista GQ. Qual peça não pode faltar no seu guarda-roupa?
Quanto mais peças você tiver, melhor. Adoro a chance de poder brincar. Sempre fui muito padronizado e, hoje, me divirto um pouco mais. Só não pode faltar autoestima, o resto está tudo certo.
Quais são seus monumentos favoritos na capital?
O Memorial JK e o Itamaraty.
O que gosta de fazer quando está em Milão?
Adoro ir ao Teatro La Scala.
Quais são seus lugares favoritos na hora de viajar?
Amo Nova York! Adoro Londres, Hong Kong, Moscou e toda a Itália.
O que mais tem aprendido com essa jornada?
Aprendo todos os dias. Mas, principalmente, que amar o trabalho faz toda a diferença.
E o que mais gosta na Dolce & Gabbana?
Sempre amei a marca. Hoje em dia, minhas roupas são quase 100% de lá. Talvez, só algumas de academia vêm de outras grifes.
Ilca Maria, Ivete Sangalo, Costanza Pascolato, Anitta, Naomi Campbell e Goldie Hawn
Como é desenvolvida a atuação da marca no Brasil?
Por ser brasileiro e ter trabalhado anos no mercado, participo um pouco dos acontecimentos da grife por aqui. Mas o time do Brasil é fantástico e a clientela também.
Foi você que aproximou Marina Ruy Barbosa e Grazi Massafera da marca?
Eu não trabalho com o mundo das celebridades. Temos uma RP no Brasil que faz essa atividade de maneira excepcional. Em alguns casos, por ter uma relação pessoal, ajudo numa aproximação, mas não é a regra.
Grazi Massafera e Marina Ruy Barbosa
Como é o ritmo de trabalho?
Na verdade, hoje trabalho como antes, mas com um novo olhar, público e áreas distintas. Sinto uma evolução na linha do que sempre fiz e fui.
Qual é o melhor lugar do mundo para se estar?
Na minha casa, em frente à televisão.
Pratica alguma atividade física?
Faço treinos funcionais, gosto de algo baseado no equilíbrio do corpo. Sempre falo para o meu personal: quero ser magro, elástico e ajustar a minha postura.
Vou te dizer uma palavra e você me fala o que vier a sua cabeça.
Saudade: tenho de quem já morreu. Porque, se eu sinto falta de quem está vivo, ligo e falo.
Fé: tenho muita. Sou católico, mas não preciso me rotular. Sou muito de energia, fé e espiritualidade.
Sonho: continuar em paz.
Trabalho: adoro!
Brasília: minha cidade, minha história, minha vida.