Grupo LVMH desiste de comprar a Tiffany & Co. e gera conflito
Conglomerado de luxo francês citou alguns fatores que levaram ao impasse na compra. Joalheria norte-americana revidou com um processo
atualizado
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A maior aquisição do segmento de luxo na história pode ir por água abaixo. Nessa quarta-feira (9/9), o conglomerado de luxo LVMH informou que não será “capaz de concluir” a compra da Tiffany & Co., cujo acordo foi firmado em novembro de 2019, por US$ 16,2 bilhões. A notícia vem depois de especulações a respeito de negociações sobre a compra, que circularam durante o verão europeu. O acordo foi afetado pelas incertezas e o impacto econômico da pandemia de Covid-19.
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Motivos do grupo LVMH
Em comunicado à imprensa, o grupo francês mencionou “uma sucessão de eventos que prejudicam a aquisição” da joalheria norte-americana. Um dos fatores para a desistência da compra é a ameaça da imposição de tarifas dos Estados Unidos sobre produtos franceses. Os valores estariam previstos para serem cobrados a partir de 6 de janeiro de 2021, em produtos como bolsas e maquiagens. As taxas seriam uma resposta aos impostos franceses sobre serviços digitais dos EUA.
Além disso, o Ministério das Relações Exteriores da França solicitou ao LVMH que a compra seja adiada para depois desse período, como uma reação aos impostos. Em resposta a esse pedido, a Tiffany acionou a justiça no estado norte-americano de Delaware para forçar o grupo francês a concluir a compra. A medida teria como objetivo proteger a empresa e seus acionistas. A companhia alega ainda que o pedido do governo francês não tem amparo legal.
Outro fator citado pelo LVMH foi o pedido da Tiffany de adiar de 24 de novembro deste ano para 31 de dezembro a “Data Externa” no acordo de fusão. Por causa de todos esses elementos, o grupo se orientará pela data firmada no acordo de incorporação em novembro do ano passado, cujo prazo de encerramento é de até 24 de novembro de 2020, e não prosseguirá com a compra. “Tal como está, o Grupo LVMH não poderá concluir a aquisição da Tiffany & Co”, informou a holding francesa no comunicado.
Processos e ameaças
Em um longo comunicado de imprensa, a joalheria detalha a ação judicial tomada no estado de Delaware, nos EUA, e cita que o grupo LVMH estaria atrasando (ou evitando) o recebimento de aprovações regulatórias. Faltam autorizações para regulamentação do negócio, por exemplo, na União Europeia e em Taiwan. No México e Japão, os pedidos estão pendentes. Agora, o LVMH teria apenas três meses para correr atrás disso.
Sobre as discordâncias a respeito do acordo de fusão, a empresa afirmou: “A Tiffany acredita que este último desenvolvimento representa nada mais do que o esforço mais recente da LVMH para evitar sua obrigação de concluir a transação nos termos acordados. Não muito diferente das tentativas oportunistas e sem base da LVMH de usar os protestos de justiça social e a pandemia de Covid-19 para evitar o pagamento do preço acordado pelas ações da Tiffany.”
Nesta quinta-feira (10/9), mais um desdobramento: o grupo LVMH disse que foi surpreendido com a ação movida pela Tiffany, a qual considera improcedente. Via comunicado de imprensa, afirmou que a acusação da joalheria sobre o conglomerado é sem fundamento e pretende provar isso ao tribunal, em Delaware, e processar a marca de joias pela crise de gerenciamento.
“Ele [o processo] foi claramente preparado pela Tiffany há muito tempo, comunicado de forma enganosa aos acionistas e é difamatório. LVMH irá se defender vigorosamente. A longa preparação desta tarefa demonstra a desonestidade da Tiffany em suas relações com a LVMH. Esta ação é essencialmente baseada na acusação da Tiffany de que a LVMH falhou em tomar as medidas razoavelmente necessárias para obter as aprovações das várias autoridades regulatórias em tempo hábil”, alegou o grupo em um trecho.
No texto, a companhia afirma ainda que os resultados da Tiffany no “primeiro semestre e as suas perspectivas para 2020 são muito decepcionantes e significativamente inferiores aos de marcas comparáveis do Grupo LVMH durante este período”. O LVMH discorda da distribuição de dividendos substanciais no período em que a joalheria esteve deficitária durante a crise provocada pela pandemia. Dessa forma, o conglomerado acrescenta que as condições para a conclusão da aquisição da marca de joias não foram cumpridas.
Força no segmento de joias
A compra, cujo acordo foi fechado em novembro de 2019, fortaleceria a posição do grupo LVMH no mercado de joias, diante de concorrentes como a Cartier, que lidera o segmento. O conglomerado de luxo, vale lembrar, é considerado o maior do mundo.
“A aquisição da Tiffany vai reforçar a presença da LVMH em joias e aumentar ainda mais sua presença nos Estados Unidos. A entrada da Tiffany vai transformar a divisão de relógios e joias da LVMH e complementar a lista de 75 casas que compõe o portfólio do grupo”, afirmou o grupo em comunicado, no fim do ano passado.
Com a crise do novo coronavírus, todo o setor de luxo foi afetado. Segundo a CNBC, as same-store sales da Tiffany caíram cerca de 44%, detalhe que ajudou a colocar em cheque a compra pela holding francesa.
Colaborou Hebert Madeira