Funkeira brasiliense foi trilha em desfile de marca de luxo em Paris
A artista Natralinha teve o remix Onda da Balinha tocado durante a apresentação da etiqueta francesa Mugler, na Semana de Alta-Costura
atualizado
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Diretamente de Brasília, uma funkeira embalou a trilha sonora na passarela do evento mais importante da moda, em Paris, na França. Natália Lucena, ou Natralhinha, que faz sucesso em trends do TikTok, é a brasiliense responsável pela música tocada no desfile da Mugler, durante a Semana de Alta-Costura, com apresentações para a temporada de primavera/verão 2023. Em entrevista à Coluna Moda Fora dos Padrões, a jovem conta relembra sua trajetória, a relação com a moda e os próximos passos da carreira.
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O desfile da Mugler foi um dos mais aguardados no encerramento da Semana de Alta-Costura, na última quinta-feira (26/1). O regresso da marca, que estava desde fevereiro de 2020 afastada das passarelas físicas, foi marcado por uma experiência com ares cinematográficos. O público conferiu ao vivo uma espécie de bastidores de uma gravação.
Comandada pelo estilista norte-americano Casey Cadwallader, o compilado diz respeito a corpos e identidades. Entre couro, performance de modelos e rendas, o funk brasileiro marcou presença na trilha sonora ao som remixado de Onda da Balinha, canção de Natralhinha que deu ritmo a modelos que riscaram à passarela. O show teve direção musical assinada pelo DJ Big Gay Idiot.
@muglerofficial Mariacarla Boscono for #Mugler Fall Winter 2022/23 by @Casey Cadwallader ♬ original sound – Mugler
Trajetória
A relação de Natralhinha com o funk é de longa data. Contudo, foi em março de 2022 que a profissional transformou a paixão pelo ritmo musical em profissão. Passou, assim, a representar um dos movimentos culturais mais importantes do Brasil. De lá para cá, a funkeira de 24 anos registrou o envolvimento independente com a música na rede social TikTok e na própria plataforma já teve o retorno positivo e apoio da rede de seguidores.
“Eu sou de Brasília, só que eu gosto muito do Rio. E foi isso que me abriu a cabeça para começar a fazer música. Sempre gostei muito de funk, desde pequenininha. Tanto que, entre as minhas amigas, eu sempre fui conhecida por gostar de funk, eu tinha meus amigos alternativos, mas eu sempre fui do funk”, revela.
A boa recepção resultou em um milhão de visualizações logo na primeira música, batizada de Cara de Tralha. Em agosto do ano passado, o remix em versão de funk virou trend no TikTok e foi reproduzida por influenciadoras na plataforma: Maria Clara Garcia, Vanessa Lopes, a humorista Gkay e Beca Barreto, por exemplo, compartilharam a faixa. O alcance também abriu portas para a colaborações com DJs, resultando em novas variações da canção.
Depois, Natália desembarcou em São Paulo para a gravação do clipe, com a produtora Love Funk. Agora, ela revela que o remix no desfile da Mugler foi uma surpresa “Alguém me belisca pra eu ver se estou acordada”, celebra Natralhinha.
A funkeira começou a ser marcada por amigos em uma publicação da revista Vogue Brasil no Instagram e não conteve a emoção de ter conquistado mais esse espaço, com repercussão internacional. “A vitória não é minha, é do funk!”, introduz.
“Estou representando o Brasil no funk. Gosto de destacar que não pertenço a cultura do funk, ela é da periferia. Eu sempre deixo claro, não posso me apropriar sem dar o mérito”, destaca.
Relação com moda
Natralhinha cita a ligação da moda com a música, dentro do universo artístico. Paralelamente à carreira, a funkeira também está concluindo a graduação em geografia na Universidade de Brasília (UnB). No trabalho de conclusão de curso (TCC), a artista aborda, por meio da geografia cultural, a relação do universo da moda com o gênero musical. “A moda da periferia entrega uma estética bem específica e tem uma relação direta com o funk”, introduz.
“A militância pode ser chata, mas tenho muito cuidado. Acho extremamente relevante citar a cultura da periferia, meu trabalho também tem o objetivo de abrir os olhos das pessoas. Em relação às peças, temos o exemplo dos calçados da Kenner, cultura da periferia, que teve o preço elevado depois que a elite passou a consumir. Outra característica estética é o cabelinho loiro dos meninos”, ressalta.
Próximos passos
“O meu trabalho está só começando!”, destaca Natralhinha. “Apesar de as coisas estarem indo rápidas, eu tenho amigos aqui de Brasília que também representam a cena. Acho que somos muito inviabilizados”, complementa. A funkeira também destaca a importância das ligações profissionais: no início, ela teve apoio das amizades para ter seus músicas reproduzidas em festas.
Criticada inicialmente pela família, Natália também destaca a importância da criação da mãe e avó. Assustada, mas orgulhosa de seu trabalho, a jovem também planeja os próximos passos de sua carreira.
“Agora, é manter esse padrão que as pessoas estão gostando. Eu quero uma coisa que leve o funk exatamente para as pessoas valorizarem, verem que não é não é só aquilo que o povo fala que é ruim. O funk é muito marginalizado. E, hoje, é mundial graças à Anitta, uma das minhas várias referências. Também quero seguir esse espaço e levar o ritmo musical para outro patamar”.
Funk na Mugler
Esta não é a primeira vez que a grife francesa, fundada em 1973 por Thierry Mugler, leva o funk para suas apresentações. A campanha de primavera/verão 2022 teve a música brasileira Tomando na Pepekinha, de Mc Lucy e DJ Gabriel do Borel, como parte da trilha sonora, para apresentar looks cheios de recorte e transparência ao público.
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