Feito à mão: Meu Crushê propõe peças de crochê modernas e descoladas
A etiqueta brasiliense cria peças sob medida e foi uma das participantes do programa de mentoria do São Paulo Fashion Week Regeneração
atualizado
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Quantas linhas tecem uma peça repleta de significado? Para a Meu Crushê, são necessários três elementos-chave: propósito, dedicação e inclusão dos corpos. A etiqueta brasiliense especializada em itens de crochê nasceu em 2020, durante a pandemia. Propondo diversidade e sustentabilidade na moda, a marca foi uma das participantes do programa de mentoria Regeneração, promovido pelo São Paulo Fashion Week. Para a reportagem da série Moda Brasília desta sexta-feira (3/12), a coluna bateu um papo com uma das fundadoras, Natália Lopes, que detalhou os passos da marca e planos para o futuro.
Vem conferir!
Tecendo significado
Natália Lopes e Luíza Couto se conheceram na faculdade de geologia, na Universidade de Brasília (UnB), em 2013. Apesar de seguirem por caminhos distintos — Luíza migrou para o curso de geografia — compartilhavam dois interesses em comum: sustentabilidade e moda consciente. Antes mesmo do nascimento da marca, Luiza costumava fazer crochê por hobby. O hábito acabou influenciando a amiga durante um período em que Natália estava enfrentando um quadro de depressão.
Durante o carnaval de 2020 e por demanda de amigos próximos, a dupla de amigas desenvolveu algumas peças temáticas para vender. “O nosso objetivo era fazer uma graninha extra no período dos bloquinhos e festas. Sendo assim, produzimos alguns biquínis, tops em estilo fantasia e acessórios para curtir a folia”, relembra. Com o tempo, os pedidos dobraram. Avaliando a demanda crescente, elas fundaram a Meu Crushê.
A marca nasceu durante o momento mais rigoroso de isolamento social. Para as empreendedoras de primeira viagem, o início foi, sem dúvidas, repleto de obstáculos. Os bons frutos, porém, tornaram a caminhada mais leve. Firmada em valores como slow fashion e consumo consciente, a etiqueta conquistou uma clientela engajada com as pautas que permeiam a indústria da moda. “É desafiador ter sua amiga como sócia, mas também é incrível. A compreensão, a cumplicidade, o carinho e a sintonia que temos transparecem na nossa marca”, afirma Natália.
SPFW Regeneração
Recentemente, a Meu Crushê adicionou uma importante conquista ao currículo: a participação no SPFW Regeneração. O programa selecionou 49 núcleos criativos diversos e sustentáveis em todo o país. A jornada imersiva promoveu mentorias e encontros exclusivos, coordenados por Lala Deheinzelin e Graça Cabral, com a metodologia Fluxonomia 4D, que combinou estudos de futuro com novas economias: criativa, compartilhada, colaborativa e multimoedas.
“Essa oportunidade nos possibilitou trocas valiosas. Com o apoio da ACG (Associação de Culturas Gerais), fizemos uma coleção-cápsula em parceria com um coletivo de mulheres em Mariana, Minas Gerais, e Conde, na Paraíba. As artesãs produziram quadradinhos de crochês que mostravam visuais de sua localidade e, juntamente com os nossos desenhos, montamos a peça”, detalha. O trabalho resultou no vestido Sinergia. Como um livro, a peça conta a história através da iconografia de cada estado.
Confira a entrevista com Natália Lopes, sócia-fundadora da Meu Crushê:
Vocês começaram a empreender no meio da pandemia. Como foi esse início da marca?
Natália Lopes: Posso dizer que fomos nos ajeitando como era possível, considerando que somos apenas nós duas à frente de todas as etapas. Algumas peças, como vestidos, por exemplo, podem levar até 20h de trabalho para ficar pronto. Como ainda não temos um ateliê, nos dividimos entre a minha casa e a da Luiza. Por conta da demanda, contamos com o apoio da minha mãe e mais duas crocheteiras de Brasília. Às vezes, apenas uma pessoa produz. Outras, tecemos juntas.
Quais são os valores defendidos pela Meu Crushê?
A nossa marca está firmada em pilares que carregamos para a vida, como sustentabilidade, cadeia de trabalho humanizado e valorização do meio ambiente. Eu sou geóloga e a Luiza geógrafa, por isso temos essa forte conexão com os meios físicos. Trazemos o cerrado para as nossas criações e seguimos os princípios do slow fashion, destacando o que é artesanal. Acreditamos fortemente que, ao tecer uma peça, estamos deixando muito de nós ali.
Do ponto de vista de uma marca nascendo agora no segmento, vocês percebem que as clientes estão interessadas em terem peças únicas, que levam esse DNA artesanal?
Com certeza! As nossas clientes são muito parecidas com a gente e consomem de marcas pequenas, que são movidas por propósito. Elas prezam por itens diferentes e nos destacamos neste sentido porque não fazemos peças que podem ser encontradas tão facilmente. Além disso, buscamos ressignificar o crochê, uma técnica antiga, propondo uma roupagem nova. Além disso, consideramos a moda para todos os corpos como um dos pilares da nossa marca.
Como funciona a confecção dos itens?
As peças sob encomenda são o nosso carro-chefe. A cliente escolhe o modelo, nos envia uma mensagem direta pelo Instagram e alinhamos as medidas e cor desejada. O prazo de confecção leva de duas a quatro semanas e, assim que finalizamos, enviamos o pedido via Correios. Por uma questão de sustentabilidade, preferimos tecer uma peça que já tem uma dona determinada. Em nossos pontos físicos, em Alto Paraíso de Goiás, e no Desapeguei Bonito, aqui em Brasília, deixamos os produtos mais estabelecidos. Os nossos best-sellers são os tops Quadradinho e Calu, e a linha de cuidados com a pele, que conta com discos de crochê.
Para o verão, vocês têm pensado em alguma coleção especial?
Estamos no processo de criação da nossa primeira linha focada em beachwear e o lançamento está previsto para janeiro. Já produzimos algumas peças desse modelo sob encomenda, mas estamos planejando uma linha com novidades e muitas cores para a temporada.
Quais são os planos para o futuro da marca?
Neste momento, o maior sonho é ter o nosso próprio ateliê. O espaço físico nos ajudaria a dividir as demandas com as crocheteiras que nos auxiliam e concentrar a produção em um só lugar. Além disso, queremos atender as nossas clientes com todo o conforto, tendo essa proximidade. Tendo isso em mente, temos estudado a possibilidade de abrir o nosso espaço no próximo ano.
Série Moda Brasília
A coluna Ilca Maria Estevão deu início à série Moda Brasília em 2021. Toda semana, apresentamos marcas, designers e etiquetas locais, a fim de dar ênfase à moda criada no Distrito Federal e no Centro-Oeste.
O objetivo é apresentar iniciativas e empresas que atuam em prol da cadeia produtiva regional de maneira criativa, sustentável e inovadora. Os nomes são selecionados de forma independente pela equipe da coluna, a partir de critérios como diferencial de mercado, pioneirismo e ações que valorizem a comunidade.
Colaborou Marcella Freitas