Feios: filme da Netflix tem figurino da brasileira Cris Araujo
A artista trouxe referências a animes no longa futurista com Joey King e Laverne Cox, baseado na saga escrita por Scott Westerfeld
atualizado
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Quem assistiu ao filme Feios, da Netflix, pode não ter reparado em um detalhe dos créditos: a figurinista do longa é Cris Araujo, uma brasileira. Vivendo em Los Angeles desde os anos 2000, a artista tem diversos trabalhos importantes no currículo, como Jogos Vorazes: Em Chamas (como key costumer) e Taurus (figurinista), estrelado pelo rapper e cantor mgk (ou Machine Gun Kelly).
Em entrevista à coluna, ela detalhou o processo criativo por trás de seu filme mais recente, baseado na saga de livros de Scott Westerfeld.
Vem saber mais!
Desenvolvimento
Em Feios, adaptação do primeiro volume da saga pós-apocalíptica de Scott Westerfeld, jovens são obrigados a realizar cirurgias plásticas ao completar 16 anos, para atender aos padrões de beleza impostos pela sociedade distópica.
A trama tem como figura central Tally Youngblood (Joey King), que passou a vida sonhando com o dia em que seria “perfeita”, mas desiste quando chega seu 16º aniversário, pois parte na busca por sua melhor amiga que desapareceu.
Cris Araujo desenvolveu o figurino do filme ao longo de sete semanas, o que, para um filme distópico e futurista, é desafiador. As roupas eram o único aspecto que o diretor, McG, ainda não tinha em mente. A artista, então, apresentou boards com as ideias e referências que reuniu, lendo os livros e o roteiro. Assim nasceram os looks, com influência dos animes japoneses e até pitadas da saga de ficção científica Tron.
“Minha ideia, depois de ter feito Jogos Vorazes e trabalhado com um pouco desse mundo sci-fi, era realmente trabalhar na tecnologia do tecido”, comenta. “Então, no começo você vê, por exemplo, aquelas camisas Dri-Fit da Nike. Estava pensando: 300 anos no futuro, vamos ter algum tipo de tecnologia. Foi tudo baseado um pouco nisso. Obviamente, parte disso se traduziu na tela, parte é mais na nossa imaginação.”
Além do tempo curto, outro desafio foi a continuidade das cenas, já que nem todas são filmadas em sequência. A naturalidade da história depende de detalhes como a sujeira das roupas nos takes com fogo, por exemplo, filmados já no início das gravações. Tally, como explica Cris, tinha três estantes de roupas, para Joey King e as dublês, e cada cena precisava de um visual coerente com a situação do enredo.
Três mundos
Ao todo, Cris Araujo coordenou a criação do figurino para 1.500 pessoas, divididas em três núcleos, como se fossem três mundos distintos: os estudantes, os perfeitos e os rebeldes da sociedade Fumaça. Para os estudantes, os uniformes precisavam ser futuristas e funcionais.
Os perfeitos, por sua vez, têm visuais glamourosos e aparecem, principalmente, em uma cena de festa.
Para os integrantes da Fumaça, havia uma naturalidade proposital. “Pensamos em cada detalhe. Se David (Keith Powers) fez a jaqueta dele, como desenvolveu sozinho? O que acharam nas matas para fazer as outras roupas? Era tudo uma adaptação, uma mistura do uniforme com o que eles achavam em outras bases”, detalha.
Para Cris, foi incrível trabalhar com todo o elenco. Ela conta que a atriz Laverne Cox (Dr. Cable) fez elogios ao figurino. “Estamos em um mundo futurista, então temos um grande espaço para fazer as coisas do jeito que queremos. Logo na minha primeira reunião com ela, mostrei todos os desenhos e ela adorou”, relembra. O visual da personagem era o mais diferenciado, carregado de imponência, já que ela comanda os estudantes.
Trabalhos anteriores
A carreira de Cris Araujo no cinema começou a partir de conexões com pessoas da área quando ela se mudou para Los Angeles. Começou como assistente de produção, já no setor de figurino, em filmes independentes. Em seguida, passou a trabalhar em comerciais de marcas até chegar às grandes produções de Hollywood.
Hoje, além dos filmes já mencionados, o currículo da artista inclui trabalhos como Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011) e É o Fim (2013), como key costumer, o figurino dos curtas Boutoniere (2009) e Ape (2017), e a supervisão de figurino de Em Busca da Justiça (2007). Isso sem falar em trabalhos para marcas como Nike, Reebok, Diesel e Mont Blanc.
“Muita gente me pergunta como você entra no [ramo do] cinema, e, na verdade, é um pouco parecido com o Brasil. É difícil entrar no cinema no Brasil também. É tudo por meio de conexões com pessoas que já estão na área”, conta. “Tive a sorte de ter amigos que faziam parte e foi assim que eu acabei aqui”, complementa.
Sobre trabalhos futuros, Cris espera que a saga ganhe continuações. “Trabalhei com a Joey King em um comercial e estávamos conversando sobre isso, seria muito legal podermos dar a continuação. Nunca se sabe, então, espero que seja esse o próximo projeto”, finaliza.