Exclusivo: presidente da Abit analisa efeitos da pandemia na moda
Fernando Pimentel lamenta falta de financiamentos praticáveis, entrega o próximo drama do setor e afirma: “Não há dicas para enfrentar isso”
atualizado
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Com grande parte da indústria e do comércio paralisada por conta do isolamento social, a moda brasileira amarga sua pior crise. Levantamento divulgado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) aponta que 97% do setor sentem o impacto gerado pela pandemia do coronavírus. Em entrevista à coluna Ilca Maria Estevão, o presidente da organização, Fernando Pimentel, até tenta achar algo positivo no cenário, mas, a verdade, segundo ele, é de que “não há dicas” de como superar os impasses resultantes da Covid-19.
Vem comigo entender a situação da indústria têxtil!
A pesquisa da Abit, realizada entre 16 e 26 de março, com 225 fábricas e confecções de todo o país, revela que 88% das empresas tiveram pedidos adiados ou cancelados, 41% delas registraram dificuldades no abastecimento e 28% afirmam que os custos para produzir aumentaram, impactando nos preços finais.
No entanto, para Pimentel, não há muito o que ser feito a respeito. “Posso recomendar é que os empresários preservem ao máximo sua sanidade financeira, trabalhando de forma cooperada com sua cadeia de produção. O período é crítico e a transição não será imediata, então todos devem pensar na sua sustentação financeira”, alerta.
Além disso, o especialista ressalta que todas as decisões devem ser tomadas após análises assertivas. “É importante ter atenção para não resolver um problema criando outro. A realidade foi redimensionada e muitos consumidores estarão desempregados. É preciso repensar os negócios”, frisa.
De acordo com o presidente da Abit, muitas empresas estão investindo no segmento hospitalar para diminuir o impacto da crise. “As empresas voltadas à produção de equipamentos médicos estão passando bem por este período, então várias fábricas estão convertendo suas produções para esse setor.”
O estudo identificou que 93% das empresas já tomaram medidas em relação aos seus colaboradores, 62% deram férias coletivas aos funcionários, 34% recorreram ao banco de horas e 30% optaram pelo home office. Para 22% das companhias sondadas, demissões foram necessárias.
“A situação é dramática porque estão acabando as férias coletivas dadas anteriormente. Tanto a indústria quanto o varejo precisam se organizar para o retorno, porque será lento e cheio de protocolos”, explica.
Apesar do contexto nada favorável, 70% das empresas procuradas pela Abit disseram não ter obtido qualquer facilitação nos financiamentos bancários. Uma parcela de 44% reclama que não houve mudança nos prazos, 23% acreditam que deve haver adiamento na cobrança de impostos e 21% defendem a liberação de crédito.
“As medidas relacionadas à parte trabalhista aliviam um pouco a situação, mas precisamos de ajuda nesta travessia, com fluxo de capital a custo mínimo, para dar liquidez, e longos prazos, para aguentarmos a transição”, enfatiza Fernando.
Várias instituições, como o BNDES e o Comitê de Política Monetária, divulgaram ações emergenciais, mas nada teve efeito real na saúde econômica da indústria do vestuário. “Há muitas medidas sendo criadas, mas elas não estão chegando à ponta”, revela Pimentel.
Para tentar reverter os empasses da crise, a associação tem investido em ações conscientizadoras. No Instagram, a Abit pediu que empresas grandes apoiem os fornecedores de pequeno e médio portes.
“É hora de pensar no bem maior, ajudando aqueles que têm menos lastro para suportar esta crise. É hora de estender a mão, para que, quando as atividades forem retomadas, possamos ter empresas aptas a responderem ao mercado. Não é o momento para comunicados secos informando sobre não pagamento e cancelamentos de pedidos”, aconselha o dirigente da associação em um vídeo.
A entidade ainda lançou o projeto Moda Brasileira – Tamo Junto, que incentiva a compra dos insumos produzidos no país. “É importante neste momento que todos os brasileiros se unam para preservar as empresas e os empregos das pessoas, para que a economia continue a girar”, salienta o executivo.
Colaborou Danillo Costa