Estudo analisa os impactos da produção de algodão, poliéster e viscose
A pesquisa Fios da Moda, divulgada neste mês, foi realizada pela plataforma de mídia independente Modefica
atualizado
Compartilhar notícia
Publicada neste mês, a pesquisa Fios da Moda, disponível on-line, analisa os impactos socioambientais da produção de algodão, poliéster e viscose, as três fibras mais utilizadas no Brasil. O relatório inédito foi feito pela Modefica, plataforma de mídia independente, em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVCes) e a consultoria para sustentabilidade Regenerate Fashion.
Vem saber mais!
Segundo a organização, o relatório foi desenvolvido a partir da necessidade de reunir dados e informações diante de um cenário climático em profunda transformação. “As informações, dados e conclusões presentes no relatório não são exaustivas, muito pelo contrário”, enfatiza Maria Colerato, diretora executiva da Modefica.
“Nosso principal objetivo é facilitar e aumentar o acesso a dados abertos; possibilitar tomadas de ações orientadas para sustentabilidade por parte dos diversos profissionais do setor; insistir na importância da transparência com rastreabilidade da rede produtiva; e destacar a importância do envolvimento da sociedade civil para cobrar por transparência nas cadeias produtivas nacionais e auxiliar à elaboração de políticas públicas que fomentem a circularidade da indústria têxtil e de confecção nacional”, destaca a plataforma.
O estudo chama a atenção para a agricultura envolvida na produção das fibras. Destaca-se que mais de 70% do algodão mundial é irrigado, e a média mundial de consumo de água de irrigação é de 10 mil litros de água por quilograma de fibra.
De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos. Ele é responsável por aproximadamente 10% do volume total de pesticidas utilizado no Brasil, com uma aplicação média de 28 litros por hectare.
Já a cadeia de confecção do poliéster é iniciada no refino de petróleo. A produção está fortemente relacionada com a presença de microplásticos nos mares e oceanos. Contudo, o documento aponta que uma das vantagens dessa fibra é o fato de ser reciclável.
O país está entre os 10 principais produtores de celulose solúvel (matéria-prima para a produção da viscose, que é uma fibra artificial), representando cerca de 11% da produção mundial em 2019, segundo a organização Textile Exchange. “Em relação à pegada de carbono, a produção de fibras de viscose, apesar de ter menos emissões de gases de efeito estufa associadas do que o poliéster, tem emissão estimada em aproximadamente 50% maior que a produção de fibras de algodão”, explica a pesquisa Fios da Moda.
Além disso, o relatório estima que apenas na região do Brás, em São Paulo, são coletadas 45 toneladas de resíduo têxtil por dia. O processo de fabricação (sobretudo o corte e a costura) é o que mais gera desperdício, com perda de 50% para o algodão e 29% para o poliéster.
A Modefica evidencia a necessidade de implementação da economia circular, com o reaproveitamento e a reciclagem de materiais. Também é essencial investir na agricultura familiar e agroecológica, que gera resíduos mais fortalecidos. Enquanto uma fazenda de 500 hectares de agricultura familiar oferece cerca de 200 empregos, a de eucaliptocultura oferta apenas três.
“Por meio da análise de cenários, foi possível verificar que o uso de fibras alternativas ajuda a reduzir as emissões upstreams, por exemplo, por meio de processos de produção menos poluentes ou uso de materiais reciclados em vez de materiais virgens”, recomenda. “A produção de algodão agroecológico e poliéster de garrafas PET recicladas apresentam, em geral, um melhor desempenho ambiental do que as fibras convencionais.”
A pesquisa demonstra ainda que diversas soluções e alternativas possíveis em teoria ainda não são viáveis na prática. Por isso, é preciso que haja cada vez mais investimento em tecnologias e incentivo à circularidade.
Colaborou Rebeca Ligabue