Estreia de Hedi Slimane para a Celine, no PFW, decepciona fãs da grife
Apesar de linda, a coleção trouxe uma brusca mudança no DNA da marca e apresentou poucas novidades
atualizado
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A estreia de Hedi Slimane como diretor criativo da grife francesa Celine, na última sexta-feira (28/9), decepcionou mais do que agradou. No entanto, isso não foi nenhuma surpresa. Sua nomeação causou um grande hype: ele mudou o logotipo da grife, excluiu todas as fotos anteriores a sua chegada do Instagram e lançou a primeira bolsa da marca, numa pegada muito similar à Kelly – icônica peça da Hermès, escolhendo ainda a polêmica cantora pop Lady Gaga como garota propaganda.
Desde então, ficou óbvio que a intenção do designer era descaracterizar a Celine e transformá-la em algo muito mais a cara dele – extravagante e cheia de fórmulas dark.
O resultado não poderia ser positivo. Afinal, a grife sempre foi reconhecida pela elegância clássica da mulher francesa, com uma vibe minimalista e prática. Tons de bege apareciam em pantalonas, com produções simples compostas por camisas e casacos. Sem falar nas bolsas e sapatos que sempre foram chiques, discretos e, ao mesmo tempo, descolados. Eu, particularmente, adorava essa elegância despretensiosa da Celine sob o comando de Phoebe Philo.
E o que Slimane fez na estreia no Paris Fashion Week? Para a coleção Paris la Nuit (Paris à noite, em francês), ele saiu do bege, deixou de lado a fluidez das peças oversized, ignorou a importância dos acessórios. Trouxe brilho, silhuetas marcadas, ternos femininos e aquela mistura entre botinas e vestidos.
A coleção mostrou a mesma pegada que o designer tinha na St. Laurent: minivestidos, maxi ombreiras, saia balonê e muito preto.
Até aí tudo bem. Afinal, a passarela estava linda e as produções bastante desejáveis. O problema? Nem de longe parecia o desfile da Celine. Para tanto: talvez fosse melhor Hedi Slimane criar uma marca homônima ao invés de sair transformando grandes grifes em réplicas do seu próprio estilo.
Mesmo assim, vale a pena conferir. Vem comigo e descubra algumas curiosidades sobre a coleção!
A ideia inicial era que Slimane trouxesse a sua pegada jovem e rocker e unisse isso ao DNA clean e elegante da label. Mas as mudanças foram radicais e muito além do “toque pessoal”: nem o antigo acento do nome escapou das mudanças – antes escrevia-se Céline.
O estilo mais pesado dominou a coleção com várias peças em couro: calças, macacões, jaquetas e até camisas. Além de spikes, veio também na brincadeira o contraste do preto e branco na forma de poá, listras e conjuntos de alfaiataria. O designer acrescentou ainda bordados e patches coloridos em algumas peças, inspirados pelo trabalho do compositor e artista visual americano Christian Marclay.
Christian Marclay
Confesso que adorei os looks, no entanto, é inegável a falta de criatividade. O paetê e o skinny, traços marcantes do estilista, reforçam o toque Slimane à coleção. As minissaias armadas, junto aos voilettes, injetam um toque gótico. Vestidos curtos, saias balonê em preto ou repletas de brilho e junto a mangas vintage bufantes – sem deixar os ombros expostos – conferem um glamour rock ‘n’ roll, noturno e oitentista bem Saint Laurent. Nos pés, botas de cano médio em couro reluzente, com fivelas, e sapatos em estilo Oxford em preto e branco. Já a alfaiataria em shape slim é parte de sua passagem pela Dior Homme.
Toque Saint Laurent
Favoritos
É claro que apesar de todas as críticas, sou fã do legado que ele deixou na St. Laurent e, agora, desembarca na passarela da Celine. O estilo french e chic da grife foi ignorado, o que é uma pena, entretanto, as produções não deixaram a desejar. Veja alguns dos meus favoritos.
Bolsas
Se na passarela eu senti falta do estilo clean e elegante das peças, nem sei o que dizer em relação às bolsas. Para começar, Slimane apostou em clutches, abriu mão das maxis e parece ter o hábito de se inspirar em outras marcas para suas criações. Um modelo de sucesso em sua época na YSL era bem semelhante à clássica Chanel 2.55, com o detalhe da corrente na alça. Na Celine, mesmo antes da estreia na passarela, escolheu a popstar americana Lady Gaga para divulgar sua primeira peça na grife, batizada de 16.
A escolha da cantora já foi um direcionamento para a extravagância. A bolsa, apesar de linda, era bem semelhante à Kelly – item icônico do catálogo da francesa Hermès. O designer usou em mais de um modelo o “C” no fecho, reforçando no Instagram que a inspiração veio das antigas peças da marca. Onde está a criatividade?
O grande desafio de um estilista ao assumir a direção criativa de uma marca é conseguir dar seu toque pessoal, sem perder a essência original da grife. Essa transição, porém, está cada vez mais difícil.
A Dior, por exemplo, que sempre foi uma marca extremamente feminina, passou por um redirecionamento desde a chegada da italiana Maria Grazia Chiuri em 2016. Embora tenha trazido de volta a Saddle Bag – bolsa marcante do início dos anos 2000 –, no quesito roupa, ela investe em um toque mais masculino: peças oversized, calças jeans bocas de sino e patchwork. Será mesmo o fim do glamour?
O local escolhido para a grande estreia de Slimane na Celine foi o Hôtel des Invalides, ou Palácio dos Inválidos, monumento histórico de Paris que tem esse nome porque abrigava os soldados inválidos das guerras. Construído em 1671, por ordem de Luís XIV, guarda hoje os restos mortais de Napoleão Bonaparte e outros nomes ligadas ao militarismo.
O lugar já foi palco para desfiles da Dior e Givenchy, bem como o outono/inverno 2014 masculino de Slimane pela YSL. Desta vez, Lady Gaga, Karl Lagerfeld, Alexa Chung, Anna Wintour, Virgil Abloh e Mark Ronson foram conferir a apresentação.
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Colaborou Hebert Madeira