Estilo caubói e colares de pérola invadem a moda masculina
Mais do que tendências, novidades vistas entre homens da música e do cinema sinalizam uma reação direta ao tradicionalismo norte-americano
atualizado
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Como noticiamos em abril de 2019, a disseminação da moda genderless e a singularidade da geração millennial aos poucos oxigenam as práticas da moda masculina. Hoje, homens abandonam o básico para se entregarem a texturas e cores. Estilos clássicos, como o western, e acessórios femininos, como os colares de pérola, têm sido difundidos entre eles em um protesto fashion que vai muito além de tendências.
Vem comigo saber mais!
A moda masculina sempre foi ligada a arquétipos, em parte pela facilidade de criar um visual mirando em um estilo específico. Há algumas temporadas, a imagem do lenhador foi amplamente utilizada nas ruas, em um comportamento apelidado como lumbersexual.
Posteriormente, foi a vez dos soldados e pescadores ganharem as ruas e, agora, a bola da vez são os caubóis. No entanto, não vá achando que a pegada country atual pode ser sintetizada no uso de chapéus e fivelas de vaqueiro. No movimento yee-haw, como vem sendo chamado no circuito internacional, a regra é ousar.
Desde que o jovem Lil Nas X chegou à indústria fonográfica com o hit Old Town Road, é cada vez mais comum ver homens incorporando elementos western em suas produções. Não só pelo estilo, mas pelo o que isso passou a representar no cenário político norte-americano.
Com a presença de Billy Ray Cyrus na canção, Nas levou o “sertanejo” ao ranking dessa modalidade na Billboard, maior parada de sucesso dos Estados Unidos.
Mesmo com um veterano do estilo musical na composição, a música foi removida da lista por não ser suficientemente country, algo que, para muitos, foi lido como uma atitude racista.
“Um quarto dos caubóis nos anos 1800 eram negros. É desanimador o fato de Hollywood ter reduzido a figura ao que ela representava nos anos 1950 e 1960”, diz Bri Malandro, criador do termo yee-haw style, ao The Guardian.
Para Bri Malandro, a presença de Donald Trump na presidência norte-americana é um dos motivos pelo qual as composições rurais têm sofrido preconceito na moda masculina. “Não sou muito político, mas, desde que Trump está no cargo, ele causa segregação. Isso originou, nos negros, uma vontade de reafirmar a influência deles nessa cultura, algo que vem sendo apagado”, explica.
Nesse contexto, estilistas começaram a rejeitar tudo o que o vaqueiro representa no imaginário popular e, de repente, a imagem do caubói branco, cisgênero e colonial deu lugar a um boiadeiro extravagante e cheio de brilho.
Nomes independentes ligados à cultura gay, como Telfar e LaQuan Smith, se apropriaram do estereótipo em suas coleções. Grifes como Gucci, Christopher Kane, Louis Vuitton e Versace passaram a empregar traços sertanejos em seus compilados masculinos.
Com cada vez mais etiquetas investindo na proposta, o conceito entrou na mira dos stylists, nos red carpets e no street style. Enquanto Nick Jonas, Quavo e Dylan Sprouse deram à gravata bolo tie da Prada o mesmo status que os harnesses da Louis Vuitton alcançaram na temporada de premiações passada, Post Malone e Diplo incorporaram o yee-haw de maneira mais enfática.
Na semana de moda masculina de Paris, em janeiro deste ano, os chapéus de caubói reinaram absolutos. O acessório clássico da moda vaqueira surgiu entre bigodes proeminentes, camisas de flanela, botas e fivelas que brilhavam a metros de distância.
No Grammy 2020, a tendência se consagrou e mostrou que não deixará o mercado tão cedo. Lil Nas X, o precursor do glamour de rodeio, optou por um visual rosado Atelier Versace, agregando uma pegada fetichista com um harness por baixo da jaqueta country.
Billy Porter, conhecido por sua ousadia sem precedentes, finalizou um macacão de cristais com um chapéu alegórico de franjas que literalmente se abria para mostrar o rosto do ator. E não poderíamos deixar de mencionar Orville Peck, que só faltou “laçar um boi” tamanha a inspiração nesse universo.
Pérolas para eles
Desde que marcas como Dior, Alexander McQueen e Ryan Roche exibiram tiaras e acessórios tipicamente femininos em suas coleções masculinas, os colares de pérolas estão aparecendo cada vez mais entre homens da música e do cinema.
No Grammy 2020, os irmãos Joe e Nick Jonas apostaram na joia para a performance de What a Man Gotta Do, enquanto Usher elegeu as bolinhas brancas para a festa da Sony, logo após a premiação musical.
“Ver que Shawn Mendes e Joe Jonas estão experimentando tendências historicamente femininas, como os colares de pérolas, é um indicador claro de que toda novidade pode ser usada pelos homens hoje, independentemente do passado. A moda e o entretenimento estão entrando em um período onde não apenas as mulheres brincam com as tendências não-binárias”, conclui o stylist Andrew Gelwicks, ao Page Six Style.
Billy Porter, A$AP Rocky e Harry Styles também ostentaram pérolas nos últimos meses.
“Pessoalmente, eu amo essa tendência. Os homens estão se divertindo com a moda sem se amarrarem a estereótipos tradicionais de gênero”, diz o stylist Adam Ballheim, que trabalha com nomes como Zachary Quinto e Jharrel Jerome.
Colaborou Danillo Costa