Estilistas e marcas europeias se unem para alterar calendário de moda
Criado a partir de 40 assinaturas, o grupo reúne grandes nomes do setor, como Marine Serre, Paco Rabanne, Nina Ricci e Tory Burch
atualizado
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O mundo da moda trabalha a todo vapor. Em geral, as tendências são identificadas com um ano de antecedência. O próximo passo é idealizar uma coleção e, em menos de um mês, os esboços feitos em papéis ganham modelagens tridimensionais. Diante do cenário de pandemia, que pede mais calma, estilistas e grifes se uniram na Europa para reformular o tradicional sistema de lançamentos e as promoções nos valores das peças recém-chegadas.
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Liderado pelo belga Dries van Noten, o time está pressionando a indústria da moda. Além da mudança no calendário das coleções, as personalidades pretendem ajustar o mercado às necessidades reais dos consumidores e evitar liquidações antecipadas das coleções que abasteceram recentemente os estoques das lojas.
Em carta aberta publicada na terça-feira (12/05), mais de 40 nomes da moda se comprometeram com alterações no setor. Entre eles, Tory Burch, Thom Browne, Proenza Schouler, Mary Katrantzou, Marine Serre, Paco Rabanne, Nina Ricci e a etiqueta sueca Acne Studios, além de Dries van Noten.
“Concordamos que a situação atual, embora difícil, apresenta uma oportunidade de mudanças profundas que podem simplificar nossas atividades e torná-las mais responsáveis, tanto ambiental quanto socialmente”, ressaltam, em trecho do pronunciamento.
O plano de ações convoca o mercado a se realinhar, propondo que as coleções para o outono/inverno permaneçam nas lojas de agosto a janeiro. As peças desenvolvidas para a primavera/verão, por sua vez, ficariam expostas de fevereiro a julho, respeitando, de fato, as estações na Europa.
Além disso, a prudência se estende às vendas especiais e liquidações que acontecerão em janeiro e julho, na troca das temporadas. O primeiro impacto da proposta sugerida pelo grupo recai sobre as ofertas de Black Friday e Cyber Monday. Os participantes da iniciativa justificam que as margens de lucro e o valor das marcas diminuem nessas datas.
No entanto, nenhuma etiqueta das grandes holdings Kering (grupo dono da Gucci e Saint Laurent) e LVMH (controlador de Dior e Louis Vuitton) participaram do acordo europeu, tampouco as grandes cadeias de fast fashion, reconhecidas mundialmente pela produção acelerada e entrega rápida de novidades para as lojas. Apesar da ausência de grandes nomes, o debate também encontrou espaço no mercado brasileiro.
A Associação Brasileira de Estilistas (Abest) divulgou carta aberta no mês passado, em parceria com showrooms, e com apoio do São Paulo Fashion Week, InMod e FFW, estabelecendo novo calendário para a moda, começando pela coleção atual, de inverno 2020.
No comunicado, a associação sugere vendas no atacado a partir da segunda quinzena de junho e coleções de inverno para novembro. As liquidações foram agendadas para os meses de agosto e fevereiro.
“A chegada da Covid-19 nos fez refletir sobre um assunto que há muito está na cabeça das marcas 100% brasileiras, autorais e pertencentes ao chamado slow fashion. Por que temos que seguir esse calendário maluco das marcas de fast fashion? Por que, depois de 15 dias, o que está na arara ou na vitrine está velho e temos que expor e vender uma nova coleção? Nosso produto não é perecível nessa velocidade. Fazemos peças para durar, para serem usadas hoje, amanhã, no próximo ano e assim por diante”, refletiu a Abest no comunicado.
A Haute Couture and Fashion Federation, o Conselho de Designers de Moda da América (CFDA, na sigla original) e o British Fashion Council ainda não se pronunciaram sobre o assunto.
No meio da crise causada pelo novo coronavírus, o Conselho de Moda Britânico revelou que irá manter o London Fashion Week, marcado para 12 de junho, mas digitalmente e misturando as coleções masculina e feminina. “É essencial olhar para o futuro e aproveitar esta oportunidade para mudar e inovar ”, assinalou Caroline Rush, diretora da instituição, em nota à imprensa.
Colaborou Sabrina Pessoa