Estilista romena cria peças de roupa utilizando fios elétricos descartados
A designer Alexandra Sipa tem 23 anos e é formada em moda pela escola londrina Central Saint Martins
atualizado
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Com criatividade e muito estudo, objetos corriqueiros podem se transformar em matéria-prima nas mãos de pessoas talentosas. Prova disso são as criações da estilista romena Alexandra Sipa, baseada no Reino Unido, que produz peças de roupa dignas de alta-costura utilizando fios elétricos descartados. A ideia parece trabalhosa e difícil, e realmente é. Para criar um dos modelos que a jovem compartilha no Instagram, ela levou mais de mil horas.
Vem comigo conhecer o trabalho de Alexandra!
Inspiração e raízes romenas
Formada em moda pela renomada escola londrina Central Saint Martins, Alexandra Sipa desenvolve peças aliando consciência sustentável e referências ao país natal. A jovem de 23 anos nasceu e cresceu na cidade de Bucareste, capital da Romênia. A ideia de trabalhar com fios elétricos surgiu quando, um dia, seus fones de ouvido estragaram. Ao notar que os fios internos do aparelho são coloridos, ela viu uma ótima oportunidade de reciclá-los.
“Foi a quinta vez que quebrei meus fones de ouvido naquele ano, então, queria encontrar uma maneira de reutilizá-los e pensei em desenvolver um tecido com eles”, contou ela à Vogue US. É do país de origem que vem a técnica que ela usa para transformar os fios elétricos, adquiridos em centros de obras e canteiros de reciclagem, em verdadeiras rendas. Esses tecidos são transformados em obras de arte vestíveis, com direito a muitos babados tridimensionais.
Até o momento, ela deu vida a poucas – porém grandiosas – peças com os fios, já que as técnicas exigem bastante trabalho e tempo. Os modelos incluem um vestido, um casaco e um corpete, todos parte da coleção Romanian Camouflage, além de alguns acessórios. Balenciaga e Oscar de la Renta, duas grifes onde Alexandra trabalhou, estão entre suas influências.
“Minha coleção de graduação foi impulsionada pela minha motivação em criar têxteis de luxo inovadores a partir de resíduos. Usei fios para tecer roupas e acessórios por meio da hibridização de várias técnicas de confecção de rendas, tanto as tradicionais romenas quanto as ocidentais, mais populares”, explicou ao site Euronews.
Volta às origens
A relação com a moda vem da infância. A mãe de Alexandra é designer de lingeries e a ensinou a costurar. O desejo de usar o que tem ao redor para transformar em arte é uma herança da avó, que conseguia dar um novo uso a qualquer item, que logo virava decoração para a casa onde viviam. Além das técnicas, as peças de Alexandra também permeiam diversas referências à cultura da Romênia, desde as cores utilizadas até a pegada bem-humorada, com um quê de kitsch.
O estilo das mulheres romenas, sempre arrumadas para qualquer ocasião, foi uma das inspirações para a coleção de graduação da jovem. Além disso, ela se inspirou no contraste entre o ambiente urbano e as cores vibrantes das vestes femininas do país. As tradicionais toalhas de praia que elas costumam usar, com estampas de mulheres de biquínis, acabaram dando origem a um casaco da coleção.
Sustentabilidade
A filosofia de reutilização é enraizada em Alexandra. Em um vídeo no qual apresenta seu trabalho, ela diz que tudo em sua cidade de origem é pensado para durar uma vida inteira. Não é à toa que um de seus maiores sonhos é trabalhar em uma casa de alta-costura, o auge de experimentação na moda.
Por falar em experimentos, os fios elétricos não são os únicos materiais testados por Alexandra. Porém, o lixo eletrônico tem um significado importante para ela. “O lixo está se tornando um problema global e ambiental. A fonte de lixo que mais cresce é o do tipo eletrônico, chegando a 50 milhões de toneladas em todo o mundo em 2020. As empresas de tecnologia estão admitindo abertamente a obsolescência planejada, mas quase ninguém fala sobre isso”, destacou ao Euronews.
Quando o assunto é sustentabilidade, Alexandra não se prende apenas ao significado ambiental da palavra. Para ela, as pessoas que trabalham na indústria da moda devem receber salários dignos, tratamento ético e não serem obrigadas a forçar os limites diários do corpo e da mente. “A indústria está se conscientizando da urgência de mudanças devido à emergência climática e à crescente demanda dos consumidores por opções mais sustentáveis”, acrescentou.
Colaborou Hebert Madeira