Estilista Paulo Bastos fala de identidade drag e coleção Rubi Ocean
Designer, que apresentou sua primeira coleção no Destaque Moda Senac-DF, conta sobre seus sonhos e como dribla o preconceito. Vem comigo!
atualizado
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Paulo Bastos sempre carregou dentro de si a paixão pelo mundo da moda. Desenhista desde os 13 anos, o estilista autodidata transfere todo o talento para as passarelas, detalhado por meio de seus croquis. Inerente à sua personalidade, está Rubi Ocean, drag personificada por ele e da qual, confessa, Paulo não consegue se desassociar.
Para ele, atualmente com 25 anos, não existe complexidade sobre o assunto. Ao produzir suas criações num apartamento localizado em cima de uma barbearia em Samambaia Norte, Paulo trabalha com a noção de que suas peças podem ser vestidas por qualquer um: homens e mulheres – mas, principalmente, por seu alter ego.
Sabendo da importância de se divulgar a moda local e da necessidade de se mostrar a diversidade cultural do Distrito Federal, que tal descobrir um pouco mais sobre esse estilista?
Vem comigo!
A história de Paulo é rodeada de reviravoltas. Desde criança, revistas de moda chamavam atenção do menino nascido em Taguatinga. Aos 7 anos, ele teve de deixar a casa da mãe para morar com o pai, militar aposentado e bastante religioso.
“Ela achou que eu teria condições melhores se eu morasse com ele. Foi uma transição difícil, mas hoje nos damos muito bem. Ele é uma pessoa incrível e me ensinou muitas coisas, mesmo sendo bastante rígido. Mas, graças a ele, eu me tornei mais compreensivo com pessoas com opiniões diferentes das minhas”, revela o estilista.
Na adolescência, enquanto folheava as páginas da Vogue, Paulo foi se apaixonando pelos desenhos do ilustrador Hayden Williams e por todo senso fashion de Rihanna. Ao amadurecer seus desejos, ele foi morar sozinho e conseguiu desfilar sua primeira coleção de bolsas no extinto Capital Fashion Week. No entanto, a moda é apenas uma das vertentes profissionais de Paulo.
O jovem estilista também atua numa escola com um projeto do Banco do Brasil de incentivo à leitura para crianças e adolescentes. “Sempre tive uma conexão muito forte com criança e acreditei que fosse estudar pedagogia. Cheguei a fazer curso de monitor sociopedagógico. No entanto, trabalhar com educação no Brasil não é para quem gosta, mas sim para quem ama. Por isso, mesmo com esse trabalho em paralelo, busco sempre estar criando algo voltado para a moda”, reconhece o profissional.
Para a coleção desfilada no Destaque Moda Senac-DF, Paulo trouxe uma linha verão 2019 inspirada na botânica do Cerrado brasiliense. Para isso, fez uma busca por flores típicas do bioma que exprimissem uma identidade visual e proporcionassem harmonia entre as cores e formas.
“As flores quase sempre conferem um ar romântico e delicado, porém Brasília, com todas as suas formas e arquitetura, traz um modernismo único. Sendo assim, criei uma fusão entre a delicadeza das flores e o urbanismo moderno, resultando em peças arrojadas, visionárias e totalmente únicas”, explicou o estilista.
A ousadia da criação trouxe uma visão de design bastante única e absurdamente fashion, agitada por uma tabela de cores completamente vibrante e com a cara do verão. Entre os tons, laranja, vermelho e amarelo. Além disso, as criações conversam entre si de forma que poderiam ser mixadas e usadas livremente. Isso confirma, como Rubi Ocean defende, que não existem barreiras no mundo da moda e o desejo por uma identidade única e diferente pode fazer nascer algo impactante e irreverente.
Apesar de toda a energia contagiante, segundo Paulo, o desfile da coleção também foi marcado por um episódio desconfortável entre ele e a coordenadora do Destaque Moda, Verônica Fialho. “Desde a minha inscrição, estava definido que o nome da minha marca é o mesmo da minha drag. Não entendi por que ela argumentou contra mim minutos antes da apresentação. Quando estava me montando, ela disse que eu estava burlando as regras. Porém, consegui resolver tudo com outros profissionais e entrei na passarela. Decidi fazer isso até pelas minhas amigas drags. Elas estavam lá para me ver”, relata Paulo.
Em nota, o Senac reafirmou seu respeito à diversidade de gênero, repudiando “todo e qualquer comportamento que vá contra esse princípio”, garantindo que “todo o processo de realização do prêmio Destaque Moda Senac 2018 foi em busca de fazer a integração dos criadores de moda no DF”.
Para Paulo – ou melhor, Rubi Ocean –, o episódio infeliz ficou para trás. Seus planos no momento visam atender às inúmeras demandas do Instagram, consolidar a marca no mercado e fazer seu nome brilhar no mundo fashion.
“Eu amo a periferia, o artesanal e a moda. Adoro essa sensação de as pessoas terem percepções diferentes sobre as minhas criações. Posso dizer que, definitivamente, prevejo muitas coisas boas na minha história. Espere e verá”.
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