Entenda por que comprar uma bolsa de luxo pode ser um investimento
Especialistas explicam que modelos clássicos valorizam a cada ano. Marcas como Chanel, Hermès e Louis Vuitton estão entre as preferidas
atualizado
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Comprar uma bolsa de luxo é um sonho de muitos fashionistas. No entanto, a aquisição pode estar muito além de um capricho ou da vontade de compor looks com o acessório. O ato pode ser um verdadeiro investimento. Mesmo em meio à pandemia, que gerou uma crise global, alguns itens de luxo tiveram valorização significativa.
Vem entender!
No mercado de luxo, há marcas específicas que sempre estão em alta. No topo, estão etiquetas francesas, como Hermès, Dior, Chanel, Louis Vuitton, Saint Laurent e Balenciaga. Em empresas de revenda de luxo, elas são as mais procuradas. Marcas italianas também são relevantes na temática. Entre elas, estão Gucci, Bottega Veneta, Fendi, Prada, Valentino.
Especialista em mercado de luxo e fundador da MCF Consultoria, Carlos Ferreirinha destaca que as bolsas representam uma forte força de compra no mundo, sobretudo por serem acessórios indispensáveis, que estão há décadas na rotina das mulheres, principalmente.
Em geral, embora o comportamento de consumo varie constantemente, o interesse pelo luxo permanece intacto. “O mais importante é analisar que, mesmo diante de tantas mudanças dos hábitos, a atividade do luxo segue crescendo de forma significativa, o que deixa claro que as marcas têm conseguido se manter contemporâneas, atualizadas”, enfatiza Ferreirinha.
A consultora de imagem Valeria Doustaly explica que, como qualquer outro investimento, a ação de adquirir uma bolsa de luxo demanda cuidado. “São caras, tanto para quem não tem quanto para quem tem dinheiro. O valor absoluto é caro. São bolsas que a maioria das pessoas que querem vão tomar um tempo para a decisão”, aponta a argentina, idealizadora da iniciativa Paris Style Week, especializada em cursos de moda.
A partir dos anos 1990, o termo “it bag” passou a ser usado para se referir aos modelos que viravam tendência. “Também conhecidas como o ‘must-have’, são as peças que fashionistas e modelos da década mostravam. As grandes marcas também começaram a impulsionar os acessórios como porta de entrada para o consumo”, recorda.
“A febre fez com que as pessoas sentissem que era bom investir em uma bolsa que era considerada uma it bag. E também, ao comprar uma it bag, o consumo é levado para um lugar de pertencimento social”, completa Doustaly.
O que faz uma bolsa ser icônica?
É importante destacar que o mercado de luxo é um segmento seleto, que envolve status e privilégios. Pensando nesse público, a cada nova temporada, as grifes renomadas apresentam inúmeras opções de bolsas. Além de alguns modelos novos, costumam aparecer versões reeditadas de itens clássicos.
Carlos Ferreirinha ressalta que essas marcas têm décadas de história. “As principais marcas de luxo globais existem há mais de 100 anos, algumas chegando aos 200 anos. Marcas como Louis Vuitton e Hermès já possuem mais de 150 anos. A credibilidade de todos esses anos gera uma confiança de que elas seguirão crescendo”, afirma.
Para ser considerado icônico, de acordo com Valeria Doustaly, o produto precisa ser facilmente identificável. “As pessoas sabem do que está sendo falado, sem precisar de muita explicação. São bolsas que muitas vezes foram usadas por celebridades, por atrizes, por fashionistas”, esclarece.
Entre os exemplos, está a famosa Lady Dior, que homenageia a princesa Diana. Em 1995, a monarca ganhou uma bolsa de presente da então primeira-dama da França, Bernadette Chirac, ao visitar Paris. Em seguida, Lady Di foi fotografada com o gift em diversos momentos. Isso fez o modelo, até então chamado Chouchou, ser rebatizado, tornando-se um clássico da marca francesa Dior.
Outra personalidade que deu nome a um item de luxo foi a atriz Grace Kelly. A estrela de Hollywood eternizou a peça quando a usou para esconder a barriga de grávida dos paparazzi, em 1956. A foto foi parar na capa da revista Life. Em 1977, a bolsa – anteriormente chamada Sac à Dépêches – foi rebatizada.
Giovanna Nardelli, fundadora da Rent Bela, plataforma de revenda e aluguel de bolsas de luxo, lembra que as bolsas icônicas são ‘amigas’ do tempo . “Uma bolsa icônica é atemporal e clássica. Modelos que não saem de linha, como Alma, da Louis Vuitton; Clássica Double Flap, da Chanel; e Galleria, da Prada”, exemplifica a empreendedora.
O histórico duradouro de sucesso é indispensável, como acentua Doustaly. “Nunca poderíamos falar de uma bolsa icônica que acaba de ser lançada. Uma bolsa recém-lançada pode ser famosa e muito comprada, mas não icônica”, explica a consultora de imagem.
Segundo a especialista, os itens mais marcantes estão no próprio patrimônio de valor e no storytelling [narrativa de apresentação] das marcas. “São bolsas que têm quase uma vida própria dentro da marca. São muito procuradas, são icônicas através do tempo. Elas persistem”, conta Valeria Doustaly.
“A 2.55 da Chanel, por exemplo, foi criada pela própria Coco Chanel, em fevereiro de 1955. E a marca, mesmo desenvolvendo novas bolsas, mantém o modelo. É muito procurada, faz parte do patrimônio da etiqueta”, exemplifica. Outros bons exemplos são a Baguette, da Fendi, e a Speedy, da Louis Vuitton.
Investimento
A valorização de uma bolsa de luxo pode ser superior a outros investimentos do mercado, como explana Carlos Ferreirinha. “Já existe um ícone informal no mercado que é o Índice Hermès; o mesmo tipo de índice do Big Mac, por exemplo”, elucida.
“Marcas atravessam a história em forte crescimento, rígida gestão, com alta credibilidade. Parte disse se transforma em valorização extrema da marca e dos produtos que comercializam”, sintetiza o especialista.
Nos últimos tempos, um fator que tem contribuído é a alta do mercado de segunda mão. A conscientização em relação ao impacto da moda no meio ambiente e a consolidação das mídias sociais como a grande voz do consumidor moderno transformaram o desapego na tendência que mais cresce no universo fashion.
De acordo com uma pesquisa da empresa de análise de varejo GlobalData, o valor global movimentado pelo second hand deve ir de US$ 24 bilhões para US$ 51 bilhões. Outro estudo, do e-commerce de revendas ThredUp, estima que o segmento de revendas deve movimentar cerca de US$ 64 bilhões até 2024.
Recentemente, a CNN revelou que uma das maiores vendas de bolsas da história da casa de leilões Christie’s foi feita em novembro do ano passado: uma Birkin, da Hermès, de pele de crocodilo, arrematada por quase US$ 390.000. Já na Privé Porter os preços ficam atualmente de 50 a 100% do preço de varejo, “exceto para algumas versões de coletor, que podem chegar a 10 vezes o preço de varejo”, segundo Jeffrey Berk, diretor da empresa.
A idealizadora da Rent Bela assegura que as bolsas podem virar ativos rentáveis, quando bem escolhidas. Alguns modelos podem ser revendidos por valores próximos ou até maiores do que o original.
“Entre os pontos pontos positivos de investir numa bolsa de luxo estão a altíssima liquidez, a alta durabilidade e a possibilidade de valorização, com aumento de tabela da marca, aumento do dólar e aumento na demanda por aquele modelo”, elenca Giovanna Nardelli.
“Em relação à valorização das bolsas, uma LV Alma BB em março de 2020 era vendida na loja por R$ 6.400, e agora, em maio de 2021, a mesma bolsa está custando R$ 8.150; um aumento de 27% em um ano. Em 2020, todas as marcas de luxo passaram por um aumento de tabela. Ou seja, quem já tinha esses artigos em casa, pôde ver a valorização dos mesmos na hora de revender”, acrescenta.
Sócia-fundadora do brechó on-line Etiqueta Única, Patricia Barros ressalta que Chanel e Hermès são as marcas que mais valem a pena para revenda. “Muitas marcas valorizam ao longo do tempo, por exemplo, uma bolsa da Chanel, a Double Flap Pequena, que você podia comprar por R$ 25.800, por volta de três anos atrás, hoje custa nas lojas R$ 48.200”.
Como escolher
Estrategicamente, os itens também costumam ganhar atualizações. Constantemente, as labels apresentam novos tamanhos, cores, texturas. Também os reinventam em collabs. Esses detalhes fazem diferença na valorização do produto.
“Pode-se acrescentar as cores icônicas. Por exemplo, se você vai comprar uma bolsa Speedy da Louis Vuitton, para que ela fique mais icônica, você pode escolher o monograma. No caso da Kelly da Hermès, você quer a mais icônica? Compre a laranja, porque é a cor da Hermès. É uma sutileza na hora de escolher”, recomenda Valeria Doustaly.
No etiqueta única, alguns modelos sempre estão em alta. “Os procurados com muita frequência são as Double Flap da Chanel, Neverfull da Louis Vuitton, Constance da Hermès, St Louis da Goyard e Marmont da Gucci”, evidencia.
Em Brasília, opções memoráveis também são buscadas pela clientela da Rent Bela. É o que salienta Giovanna Nardelli: “Modelos clássicos são sempre desejados, como Gucci Soho Disco, LV Speedy, LV Neverfull, Burberry Banner, entre outras. Há também os modelos mais desejados da estação, o que também impacta a valorização de alguns modelos”.
“Agora, a moda dos anos 2000 voltou com tudo com modelos Baguette, LVs multicolor, monogramas. Outra bolsa queridinha da temporada é a Bottega Veneta Cassette; as coloridas”, conta a empresária.
Analise as variáveis
Para Valeria Doustaly, um detalhe importante é apostar em uma bolsa que “faz bem” para quem compra, em diferentes aspectos. Isso vai depender do objetivo de cada consumidor. Se a ideia é ter uma peça curinga, vale investir em tons sóbrios. Para trabalhar, um item espaçoso. E por aí vai.
“Para ser um investimento, é preciso que ter uma boa qualidade e ser durável. Tem que ter a funcionalidade para qual você queria a peça”, assinala a especialista. “Depois, é possível, com respeito ao preço que foi pago, fazer uma avaliação a partir de variáveis que fazem a bolsa ser usada”.
Outra dica é se aprofundar na história das peças. “Fica tão fácil aumentar o repertório sobre história da moda por meio do estudo da moda. Com isso, é possível ter mais conhecimento para tomar decisões como compradores”, sugere Doustaly. “Abre possibilidades para entender os movimentos das marcas, as tendências, os lançamentos. O estudo é importante, o valor de conhecer o por que das coisas que vemos, consumimos e nos inspiram”, conclui.
Colaborou Rebeca Ligabue