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Entenda por que a Farm gerou revolta após a morte de Kathlen Romeu

A jovem de 24 anos, que trabalhava como vendedora na loja da grife carioca em Ipanema, morreu após ser baleada na última terça-feira (8/6)

atualizado

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Rogério Jorge/Instagram/Reprodução
Kathlen Romeu
1 de 1 Kathlen Romeu - Foto: Rogério Jorge/Instagram/Reprodução

A Farm recebeu milhares de críticas nas redes sociais, na quarta-feira (9/6), e foi acusada de lucrar com a morte de Kathlen Romeu. Vítima de bala perdida durante troca de tiros entre facção criminosa e a Polícia Militar na última terça-feira (8/6), no Rio de Janeiro (RJ), a jovem de 24 anos estava grávida de 14 semanas e trabalhava como vendedora da grife carioca. Em um post no Instagram, a marca havia anunciado que a comissão das compras feitas no código de Kathlen seria revertida para a família da jovem. Acusada de se aproveitar da situação para vender, a marca removeu o código do ar, horas depois: “Erramos”, afirmou, em outra publicação.

Kathlen Romeu
Kathlen Romeu, morta por bala perdida na última terça-feira (8/6), no Rio de Janeiro (RJ). A jovem estava grávida de 14 semanas e havia anunciado a gestação há poucos dias

 

Posicionamento inicial e críticas

Antes da controvérsia sobre o código, o fundador e CEO da marca, Marcello Bastos, havia se manifestado sobre o assunto em seu perfil pessoal no Instagram. No texto, ele fez elogios à trajetória profissional da jovem, que trabalhava na loja do bairro de Ipanema. O empresário disse ainda que está “completamente devastado com essa tragédia absurda”. Na manhã da quarta-feira (9/6), colegas de Kathlen colocaram flores na fachada da loja, em homenagem a ela.

Já no começo da tarde, na mesma data, a marca carioca emitiu um comunicado no Instagram lamentando a perda de Kathleen e de seu bebê. Afirmou, ainda, que daria o suporte necessário à família da jovem, além de apoio psicológico e emocional a quem precisasse. Em seguida, mencionou a ação que gerou polêmica nas redes sociais.

“A partir de hoje, toda a venda feita no código de Kathlen – E957 – terá sua comissão revertida em apoio para sua família. Reforçando que nós também vamos apoiá-la de forma independente e paralela”, informou. Não demorou para usuários da rede social e influenciadores digitais se manifestarem nos comentários, apontando a insensibilidade da ação.

Post de Marcello Bastos, fundador e CEO da Farm, sobre a morte de Kathlen Romeu
Marcello Bastos, fundador e CEO da Farm, havia se manifestado sobre a morte de Kathlen antes da polêmica

 

homenagem a Kathlen
Na manhã de quarta-feira (9/6), as colegas da jovem fizeram uma homenagem na fachada da loja onde ela trabalhava, em Ipanema

 

Publicação da Farm sobre a morte de Kathlen Romeu
Já no começo da tarde, a marca fez um comunicado no perfil oficial e gerou revolta ao anunciar um código de vendas

 

Nath Finanças, por exemplo, afirmou que a marca poderia oferecer a oferecer ajuda “sem precisar lucrar” em cima da situação. No caso da comissão, como ela explicou, o vendedor ganha apenas uma porcentagem do valor das vendas, enquanto outra parte fica para a empresa. “Se autopromover com a morte alheia? Ganhar dinheiro em cima? Como pode, Farm?”, criticou.

“Não precisa de cupom nenhum! Vocês têm dinheiro suficiente para poder ajudar a família”, comentou uma internauta. “Por que não fazem uma doação, então?”, perguntou outra. “Ou seja, a Kathlen vai continuar gerando lucro para vocês até depois de assassinada?”, questionou a escritora e pesquisadora Winnie Bueno. Até a manhã desta quinta-feira (10/6), o post do comunicado no Instagram tinha mais de 17 mil comentários, além de o assunto ter entrado nos Trending Topics do Twitter.

Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu
Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu

 

Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu
Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu

 

Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu
Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu

 

Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu
Comentários em post da Farm sobre Kathlen Romeu

 

Resposta da marca

Algumas horas após anunciar a ação polêmica, a marca se retratou em outra publicação. “A Farm vem a público se desculpar pela ação que envolveu o uso do código de vendedora de Kathlen Romeu nesse momento tão difícil. Com vocês, entendemos a gravidade do que representou esse ato, por isso, retiramos o código E957 do ar. Continuaremos dando o apoio e suporte à família, como fizemos desde o primeiro momento em que recebemos a notícia”, comunicou. Em nota à imprensa, a empresa anunciou que vai reverter 100% dos valores gerados com as vendas feitas pelo código para a família de Kathlen.

A publicação voltou a receber críticas, algumas delas acusando a marca de não ter aprendido com erros anteriores. No passado, a Farm se envolveu em polêmicas, que incluem uma estampa com desenhos de escravos, além de acusações de plágio e de racismo, como em fotos com referências à cultura negra estreladas por modelos brancas.

A líder da área de diversidade da Farm, Caroline Sodré, manifestou-se sobre a controvérsia recente pelo Instagram Stories, em seu perfil pessoal. A historiadora afirmou que concorda com tudo que foi falado em relação à ação da marca e agradeceu pelas trocas, que permitiram uma “interação construtiva”.

“Estou com a equipe interna, até agora, pensando, refletindo e entendendo. Erramos feio, mesmo que a intenção tenha sido boa. De boa intenção, o inferno está cheio. Vou voltar aqui para conversar com vocês. Obrigada”, escreveu. “Sempre serei honesta e 100% transparente com vocês. Sempre. E nunca vou fugir do BO”, completou. A Farm pertence ao Grupo Soma, que também é dono de grifes como Animale, A.Brand, Cris Barros, Maria Filó e ByNV.

Comunicado da Farm após polêmica com código de vendas de Kathlen Romeu
A marca se retratou sobre o uso do código diante do “momento tão difícil”, mas os seguidores mantiveram as críticas. Algumas acusam a marca de não ter aprendido com os erros anteriores, já que há várias polêmicas anteriores a este caso

 

Modelo em editorial da Farm
Esta foto, com referências à cultura negra e estrelada por uma modelo branca, rendeu críticas relacionadas a apropriação cultural e racismo, em 2014. Na legenda desta foto, a marca havia dito: “Nossa Iemanjá”

 

Estampa da Farm
Em 2017, esta estampa com desenhos de escravos também foi alvo de críticas

 

Estampa de pipoca em peças da Farm
No começo do ano passado, a grife foi acusada de plagiar o trabalho da estilista Ligia Parreira nesta estampa

 

Justiça por Kathlen

O caso de Kathlen Romeu gerou revolta por resultar em mais pessoas negras mortas (ela e o bebê) durante uma ação policial. Uma das manifestações nesse sentido foi da Coalização Negra por Direitos, que reúne entidades de todo o Brasil dedicadas ao movimento negro. A ONG pediu justiça para este e outros casos de pessoas negras mortas e marcou um ato para as 17h desta sexta-feira (11/6) em frente ao Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), na capital paulista.

“É inaceitável a política de segurança pública genocida do Rio de Janeiro, que hoje fez mais uma vítima: Kathlen Romeu, mulher negra de 24 anos, grávida de quatro meses, baleada durante uma operação da Polícia Militar, na comunidade do Lins, zona norte da capital. A política de morte do RJ, alinhada ao governo Bolsonaro, mantém em curso o genocídio do povo negro no Brasil”, declarou.


Colaborou Hebert Madeira

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