Entenda a polêmica relação entre a grife Dior e artesãos indianos
A grife desembarcou em Mumbai com a coleção de pre-fall 2023 e homenageou os artesãos da Chanakya School, mas a ligação é criticada
atualizado
Compartilhar notícia
Na última quinta-feira (30/3), a Dior desembarcou em Bombaim, na Índia, para apresentar o desfile da coleção pre-fall 2023. A escolha pelo país não foi por acaso, já que a maison se associou à Chanakya School, ateliê indiano especializado em bordados de luxo.
Com aspectos de homenagem e referência, a grife apresentou peças geométricas em dourado, paetês e strass. No entanto, a relação que marcas mantêm com os trabalhadores do país é questionada. Vem entender!
O trabalho de artesãos é uma atividade bastante complexa, que exige habilidade. Geralmente, grifes de luxo recorrem a países emergentes para terceirizar a produção aos trabalhadores locais. A Índia é um dos principais locais no qual se encontra essa mão de obra, porque a prática é cultuada e passada por gerações, exclusivamente para homens.
Ao longo da história, a Dior mantém uma relação com os artesãos indianos, mas, assim, como outras grifes francesas, o reconhecimento aos trabalhadores nem sempre foi o justo. De acordo com informações do The New York Times, em 2020, a grife fazia parte de uma lista de empresas de luxo com acusações de trabalho análogo à escravidão no país.
Grandes marcas se aproveitam das leis trabalhistas locais precárias e investem na terceirização dessas atividades. No entanto, a forma e remuneração destinada aos trabalhadores não condizem com os direitos humanos. Segundo a publicação, os funcionários indianos seriam submetidos a jornadas de 17 horas de trabalho e receberiam por volta de US$ 20 por dia, valor que nem se compara aos preços cobrados por bolsas e sapatos da Gucci ou Saint Laurent, marcas também citadas.
Diversos desses ateliês se concentram justamente em Mumbai, local escolhido pela Dior para sediar o desfile de outono/inverno 2023. Para a ocasião, a marca investiu em uma imagem de referência e incentivo aos artesanato indiano. Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da grife desde 2016, tem uma relação de anos com a Chanakya School of Craft e faz parcerias para suas criações. A estilista, inclusive, é amiga da diretora da escola, Karishma Swali.
Na Índia
Para coleção de pre-fall 2023, a Dior chegou à Índia com a proposta de homenagear a cultura e o trabalho das artesãs indianas. A Chanakya School of Craft é um espaço destinado ao ensino das técnicas de bordados para as mulheres. Vale lembrar que, no país, a prática é destinada aos homens.
Os bastidores do trabalho colaborativo foi compartilhado como um processo de mútuo respeito e admiração. O incentivo à representação da cultura indiana também foi visto na escolha dos modelos. O local inspirou itens como lâmpadas de calêndula e diya, xadrez madras e tecidos de brocado benarasi.
Estrelas bollywoodianas e personalidades ocidentais, como Cara Delevigne e Maise Williams, estiveram entre as mais de 800 pessoas que acompanharam o desfile de perto. A coleção procurou ressaltar os aspectos característicos do país, mas sem perder o DNA da grife.
Questionar a maneira como as peças de luxo são produzidas precisa fazer parte de atitudes dos consumidores e amantes da moda. Assim como redes de fast fashion, grifes investem em mercados para baratear a produção e se esquivar da responsabilidade. A Dior, ao que parece, tenta com o desfile em Mumbai reverter a imagem e trazer para primeiro plano o trabalho das artesãs. Vale acompanhar os próximos passos.