Dossiê das máscaras: um guia de como encontrar a opção ideal para você
Itens de proteção se tornaram indispensáveis – porém, achar modelos que atendam às nossas expectativas nem sempre é uma tarefa fácil
atualizado
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Desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil, em fevereiro, as máscaras de proteção individual passaram a fazer parte da nossa realidade. A princípio, o uso dos itens era indicado apenas para os profissionais que atuam no combate à Covid-19 e para as pessoas que apresentam sintomas. Não demorou muito até os acessórios se tornarem obrigatórios nas ruas das maiores metrópoles do país e do mundo. Enquanto muitos ainda se adaptam ao novo acessório, algumas pessoas se esforçam para encontrar opções que atendam às necessidades do cotidiano, uma missão um tanto complicada se você não conhece os modelos disponíveis no mercado.
Vem comigo saber qual o melhor para você!
O uso de máscaras em lugares públicos passou a ser um procedimento completamente necessário na luta contra o novo coronavírus. Símbolo da pandemia, o item de proteção individual é tema de debates recorrentes na mídia, a começar pelo consumo desenfreado do modelo N95, ainda no início do surto. Após a Covid-19 se expandir, muitas pessoas correram para estocar o respirador, considerado o melhor para evitar vírus e bactérias – porém, isso acabou zerando reservas de extrema importância para as pessoas que atuam no combate à doença.
Para lidar com a falta do produto no mercado, etiquetas que nunca imaginaram investir no segmento hospitalar direcionaram sua produção à fabricação de máscaras de proteção, no intuito de reabastecer os acervos do centros de saúde e colaborar com doações. No entanto, foram as comunidades afetadas pelo surto que se beneficiaram das ações, uma vez que os profissionais que lidam diretamente com pacientes contaminados precisam de itens como o N95 para evitar o contágio.
A comentada N95
A N95, também chamada de PFF2 e KN95, se encaixa firmemente ao redor do rosto e é capaz de filtrar 95% das partículas transportadas pelo ar. Máscaras comuns, como as cirúrgicas, não possuem dispositivos de purificação e aderência, logo deixam brechas que possibilitam a passagem de micro-organismos. Os respiradores, por sua vez, criam uma vedação hermética que separa quase todos os agentes patogênicos.
Os aparelhos foram desenvolvidos com o objetivo de ampliar o próprio poder de filtragem. Assim, quanto mais você usar uma máscara N95, mais eficiente ela se torna, já que o acúmulo de partículas forma uma camada de proteção extra. No entanto, essa barreira dificulta ainda mais a respiração, fazendo com que, em ambientes empoeirados, os respiradores precisem ser trocados após oito horas de uso.
Apesar de ser uma máscara bastante segura, essa opção não é indicada para qualquer pessoa, especialmente se for alguém contaminado, pois dificulta a ventilação. O item também não foi projetado para selar o rosto de crianças e indivíduos com pelos faciais, não sendo 100% eficaz nesses casos. Além disso, as versões que não contam com válvula de expiração podem se tornar um incômodo por conta do calor.
Todavia, assim como acontece desde a invenção do objeto, em 1910, ele deve continuar evoluindo. “Minha mãe diria que tem a mesma aparência até hoje, mas é porque queremos que sejam simples e fáceis de usar. Estamos sempre melhorando a parte tecnológica. Temos milhares de cientistas trabalhando nisso”, afirmou Nikki McCullough, diretora do setor de saúde e segurança ocupacional da 3M, ao site Fast Company.
Máscaras cirúrgicas e PFF1
Feita de tecido não tecido (TNT), as máscaras cirúrgicas vedam menos do que as N95 – porém, cumprem a função de impedir contaminações em atendimentos médicos. Durante os procedimentos, a missão do item é evitar que haja troca de saliva entre profissionais e pacientes, mas ele não impede a contaminação por vírus ou bactérias.
No quesito durabilidade, esta opção é mais frágil, devendo ser trocada de duas em duas horas ou ao primeiro sinal de umedecimento. Logo, o item é mais indicado aos profissionais de saúde, que necessitam de uma barreira provisória contra possíveis vírus e bactérias – agentes infeciosos.
Um pouco mais resistente, a PFF1 é forrada com um filtro que repele 80% dos micro-organismos. Contudo, o custo benefício do produto pode não ser tão interessante, já que ele é descartável e seu preço não é dos mais baratos.
A vantagem das versões de vida curta é que elas oferecem a melhor maneira de deixar o vírus longe de casa, uma vez que podem ser dispensadas antes de entrar no recinto. As opções reutilizáveis podem levar agentes nocivos para outras superfícies do local, se não manuseadas corretamente.
Opções caseiras
Muitas marcas, fábricas e ateliês passaram a investir na confecção de máscaras após a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar o uso das versões caseiras por toda a população. Ao passo que alguns optaram por reproduzir as formas dos modelos médicos, outras resolveram investir em interpretações próprias.
“É recomendado que as pessoas usem uma cobertura de pano para cobrir o nariz e a boca em público. A medida é para proteger quem estiver ao seu redor, se você estiver infectado, ou bloquear gotículas respiratórias de outra pessoas”, pontuou Mike Bell, vice-diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), ao Healthline.
Kierstin Kennedy, chefe de medicina hospitalar da Universidade do Alabama, relatou ao portal que as máscaras também previnem contra corpos estranhos que podem agravar ainda mais o quadro de quem está contaminado. “As máscaras podem proteger contra qualquer doença infecciosa transmitida por gotículas, entre elas gripe, coqueluche e pneumonia. Alguns relatórios internacionais observaram um menor impacto da gripe durante a prevenção da Covid-19”, revelou.
Todavia, as peças de pano não são necessariamente para todos. “As coberturas faciais não devem ser colocadas em crianças menores de 2 anos de idade, pessoas que tenham dificuldade para respirar ou em alguém inconsciente ou incapaz de remover o objeto”, indicou Bell.
Se você tem dificuldade para respirar com a máscara, os especialistas relatam que o tamanho e estilo podem ser o problema. Kierstin incentiva as pessoas a experimentarem os mais diferentes tipos de revestimento para descobrir o que funciona melhor para cada um.
Entre as opções disponíveis, as modelagens mais fáceis de encontrar são as pregueadas, carteiras e ninjas. A primeira, formada por duas ou três pregas de tecido, tem como referência as máscaras cirúrgicas, enquanto a segunda se assemelha a uma carteira aberta. A última, feita com recortes mais curvados no nariz e abaixo dos olhos, delineia melhor o rosto.
“A máscara ideal deve ser rente, ao ponto de não deixar lacunas, mas folgada o suficiente para não restringir ou afetar a capacidade respiratória e a circulação sanguínea”, explicou Kierstin Kennedy ao site Helthline.
Em relação ao acabamento, podemos achar máscaras caseiras que se prendem às orelhas ou à cabeça, cada tipo com sua vantagem e desvantagem. Uma pode machucar ou puxar a hélice auricular e a outra pode bagunçar ou até arrancar alguns fios de cabelo. A melhor escolha deve ser a que incomoda menos.
Marcas brasilienses em campanha
As lojas reunidas no movimento #ModaBsbVive, idealizado pela empresária Duda Maia, oferecem máscaras caseiras a R$ 10 em Brasília. Ao comprar uma das peças, outra igual é doada à comunidade carente do Distrito Federal. “Nesta nova realidade, todos precisamos de máscaras caseiras para viver. Então, nos unimos e escolhemos um modelo confortável para vender por um valor simbólico”, frisa a dona da 5561 Brand Boutique.
Entre os envolvidos na iniciativa, estão as labels Capezio, Abi Project, The Market, Pretty New, Wish, Isabella Nasser, Sol e Vento, Maracujá Mixed, Leticia Gonzaga, Q.U.A.D.R.A., Luciana & Yasmim, Setedezessete, Via Faro, Laboissiere, Drew, Grifith e Tecnótica, além da consultora Janaina Ortiga.
A Dane-se, também da capital federal, desenvolveu uma máscara com a popular logomarca da etiqueta. A criação da empresa é preta e tem reguladores que facilitam o ajuste do objeto. O kit com dois exemplares sai a R$ 38.
Toque de estilo
Passada a urgência em reabastecer o mercado, as empresas que atuam na produção de máscaras passaram a prestar mais atenção nos designs dos produtos, uma vez que a demanda por modelos esteticamente agradáveis e divertidos se tornou uma realidade.
Pensar em itens de proteção individual como um traço de estilo talvez ainda soe como um gesto duvidoso – porém, ao analisarmos a trajetória dos óculos de sol e chapéus, a possibilidade de encontrarmos máscaras statement parece apenas um preview das vitrines do futuro.
“Muitas empresas aproveitaram a oportunidade para fazer e vender máscaras de tecido. Uma grande variedade de estilos e modelos já está disponível. Cada vez mais, as pessoas usam o objeto para ressaltar sua personalidade”, salientou Kierstin Bell.
Antes mesmo do aparecimento do novo coronavírus, os itens de proteção já estavam se infiltrando nas passarelas e no street style, graças a marcas como Off-White, Marine Serre e Fendi, além de celebridades como Billie Eilish e Cardi B. Após a pandemia, a movimentação se tornou uma necessidade.
Todavia, o mercado de máscaras se revelou um tanto espirituoso para aqueles que se aventuraram nele. Depois de disponibilizar máscaras a R$ 147 em seu e-commerce, a etiqueta carioca Osklen recebeu uma chuva de críticas nas redes sociais. Algumas horas depois, retirou os produtos de circulação.
Nos Estados Unidos, a empresária Kim Kardashian lançou uma linha própria de protetores, cobrando US$ 8 por unidade. Os objetos se esgotaram em uma hora, mas a estrela foi acusada de lucrar em cima da Covid-19 e, de quebra, foi apontada como racista por dizer que a versão preta do produto é “nude”.
Ressignificando a moda
As etiquetas de moda veem na produção de máscaras uma oportunidade de pagar os funcionários e se manter em meio à pandemia – enquanto, do outro lado, existem pessoas que, de fato, querem pagar a mais por versões mais “decorativistas” do acessório.
Há quem analise a modernização de um momento tão trágico como um comportamento surreal, mas, no fim das contas, não há fórmula para lidar com essa nova realidade. Algumas pessoas preferem injetar um pouco de cor e positividade para aliviar o caos.
O designer Michael Ngo, famoso por criar visuais de palco para Ariana Grande, Jennifer Lopez e Nicki Minaj, lançou coleção de máscaras ornamentadas para uma ação social. Oferecidos por valores entre US$ 45 a US$ 500, os objetos tiveram 100% de seu lucro destinado ao Los Angeles Food Bank, que fornece refeições para comunidades de baixa renda.
“Quando o bloqueio começou, eu quis fazer máscaras para ajudar hospitais e organizações próximas a mim, mas eu tinha apenas os tecidos que trabalho comigo. Essa foi a forma que achei de ajudar”, explicou ao Page Six Style.
Também se dedicando a suprir a escassez de máscaras, a enfermeira indígena Naomi Greensky resolveu incluir pinturas de uma artista de sua tribo nos itens. “Tenho muito orgulho de vestir as obras dela dessa forma. Para mim, os padrões são relevantes para a nossa cultura. As pessoas da comunidade os veem e perguntam: ‘Quem fez isso? Onde posso conseguir um?”, relatou à CNN.
“Parece que quando as pessoas têm uma máscara que as representa, elas têm mais vontade de usá-la. Na comunidade médica, estamos felizes em ver o adicional de estilo. É interessante notar como uma cultura pode ser reverberada por meio de uma máscara”, analisou Naomi.
A estilista de moda plus size Ashley Nell Tipton deixou de lado as saias e os vestidos para exaltar a arte mexicana nos protetores faciais. “Não é apenas importante estar seguro e usar uma máscara, mas evocar um sentimento ao usá-la. As pessoas compram minhas máscaras porque, durante esses tempos difíceis, usar arte lhes traz alegria. Se você vai usar alguma coisa, por que não refletir seu estilo pessoal nisso?”, disse Tipton.
No Brasil, a designer Augusta Wagner foi uma das primeiras a investir em opções mais chamativas. Ela começou com exemplares estampados, experimentou versões em couro e, agora, disponibiliza modelos em veludo, textura holográfica e até croco fake. Os valores vão de R$ 7 a R$ 45.
“Antes da pandemia, meu trabalho era focado nos públicos infantil e gestante, mas como achei que as vendas iam diminuir após o isolamento, comecei a fazer as máscaras para dar de brinde. Peguei uns retalhos que eu já tinha, criei algumas e postei um composê no Instagram. Na época, o uso ainda não era obrigatório, mas, ainda assim, fez muito sucesso. Viralizou muito rapidamente. Pessoas que nem conheciam meu trabalho vieram me procurar, e eu nem estava fazendo para venda”, lembra a costureira.
De olho no potencial dos novos produtos, ela começou a desbravar todos os materiais que tinha ao seu alcance. “Ninguém estava oferecendo kits assim, então, resolvi produzir outros para vender. Inicialmente, todas eram de tecido comum, mas, um dia, prestes a sair, tive a ideia de fazer uma com um pedaço de couro que eu tinha, porque ia ficar ótimo com a roupa que eu estava. Confeccionei rapidinho, experimentei para ver se dava para respirar e adorei o resultado. Logo que o meu marido viu, ele me pediu uma”, lembra Augusta, que já vendeu mais de 4 mil itens de proteção desde abril.
Labels como Amir Slama, Malwee, Hope e The Paradise também oferecem reinterpretações diferentes finalizadas em animal print, padrões geométricos ou paetês. Para quem se define como nerd, o Mercado Livre ainda conta com vendedores que apostam em personagens de quadrinhos.
Máscaras como expressão artística
A arte é uma das diversas formas de documentar um período histórico, e alguns profissionais da área concluíram que a melhor forma de retratar a pandemia é por meio das máscaras de proteção. A inglesa Freyja Sewell recriou oito versões do item a partir de objetos que achou em sua casa. Cada obra homenageia um grupo de trabalhadores que atua no combate ao novo coronavírus.
O estúdio de design belga WeWantMore, por sua vez, reinterpretou o objeto a partir de tênis velhos, enquanto a designer islandesa Ýrúrarí Jóhannsdóttir investiu em aplicações tridimensionais de crochê. Em entrevista à Vogue, a artista falou sobre como seu projeto incentiva a autoexpressão.
“Fiz as máscaras para promover a ideia de que o uso dessas peças pode ser divertido, e estou muito feliz que elas estejam sendo símbolo dessa conscientização. Tudo o que colocamos em nós pode ter um traço de nossa personalidade. Se fazer as pessoas sorrirem é parte do seu jeito, em tempos como esses, continuar fazendo isso é muito importante”, destacou.
No fim, o mais importante é usar a máscara. Essencialmente, não importa se sua máscara é de TNT, tricoline ou couro. Se ela prende na orelha ou na cabeça, também tanto faz. Os itens de proteção individual são cruciais para contermos o avanço da Covid-19 em nosso país – portanto, não deixe o acessório de lado. A vida de milhares de brasileiros depende disso!
Colaborou Danillo Costa