Dior, Fendi e Burberry anunciam como irão lidar com seus próximos desfiles
Grifes de luxo optam por seguir o cronograma das semanas de moda, mas apresentações serão readequadas à nova realidade do mercado
atualizado
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Até agora, a maioria das notícias relacionadas aos desfiles de primavera/verão 2021 diz respeito às marcas que irão pular a temporada ou àquelas que abandonaram o cronograma das semanas de moda em nome de uma maior liberdade criativa. A movimentação fez os especialistas do setor questionarem o futuro das fashion weeks. Todavia, nos últimos dias, alguns gigantes do mercado de luxo sinalizaram que a indústria têxtil deve persistir em sua mais tradicional vitrine, mas, agora, em formatos adaptados à realidade pós-pandemia.
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Desde que as semanas de moda programadas para junho e julho foram adiadas, canceladas ou transferidas para o universo virtual, os fashionistas se perguntam sobre o destino da temporada de primavera/verão 2021, que costuma tomar as cidades de Nova York, Londres, Milão e Paris no mês de setembro.
Enquanto Michael Kors e Marc Jacobs adiantaram que não mostrarão suas próximas novidades nas passarelas, Saint Laurent e Gucci decidiram deixar as fashion weeks para se livrarem da obrigação de apresentar coleções no timing do eventos.
No início de junho, a Chanel exibiu sua coleção cruise em um desfile digital, anunciando que, embora esteja recorrendo a novos formatos, não pretende abandonar o calendário que rege a indústria há, pelo menos, 70 anos. Agora, outras grifes emblemáticas do mercado de luxo resolveram seguir os passos da maison francesa.
Fendi
Para marcar o solstício de verão, no dia 20 de junho, a Fendi levou a Accademia Nazionale di Santa Cecilia, uma das instituições de música mais conceituadas do mundo, para se apresentar na sede da empresa, em Roma.
Em meio ao concerto, transmitido nas redes sociais da etiqueta italiana, a empresa relatou que suas próximas coleções masculina e feminina serão apresentadas no dia 22 de setembro, em um show que abrirá o Milan Fashion Week de setembro, no Palazzo della Civiltà.
“Será um evento físico, com um número limitado de convidados e componentes digitais, porém, o formato ainda está sendo definido”, afirmou Serge Brunschwig, CEO da Fendi, ao WWD.
A label afirmou que adiará as liquidações do meio do ano, prolongando os valores integrais da coleção de primavera/verão 2020 até o final de agosto. O pre-fall, por sua vez, chagará às lojas apenas em setembro, enquanto o outono estará nas araras entre outubro e fevereiro, substituindo o lançamento do resort 2021.
Na versão on-line da Semana de Alta Costura, anunciada para o período entre 6 e 8 de julho, a Fendi não exibirá uma nova coleção, mas revisitará os modelos mais icônicos já criados pela casa em uma exposição que fará parte da programação oficial.
Burberry
Nessa segunda-feira (22/06), a inglesa Burberry divulgou que seguirá os passos da colega italiana. O diretor criativo da grife, Riccardo Tisci, revelou que fará um desfile ao ar livre, canalizando “a pureza e simplicidade dos horizontes britânicos”.
O show, marcado para 17 de setembro, servirá como abertura da semana de moda de Londres, que acontece entre os dias 18 e 22, e não terá público. Apenas os modelos e funcionários da companhia estarão presentes. “Como a maioria das pessoas não pode viajar, é importante criarmos um espaço onde elas possam mergulhar na experiência”, disse Tisci ao WWD.
A “apresentação física ao vivo”, como tem sido chamada pela casa, será transmitida em plataformas digitais e nas redes sociais da label. “Eu senti que, dessa forma, poderíamos abrir novos espaços para nossa comunidade, dando a todos a oportunidade de experimentarmos juntos esse lançamento”, explicou.
De acordo com Riccardo, a coleção de primavera/verão 2021 é uma expressão criativa do desejo por escapismo que floresceu no designer durante o isolamento social. “Para este show, me pareceu importante celebrar o ar livre britânico. O Reino Unido tem paisagens naturais incríveis e algumas se tornaram um patrimônio da empresa. Nosso fundador, Thomas Burberry, também tinha uma grande afinidade com esses elementos. Definitivamente, será um retorno às nossas raízes”, adiantou.
Ele defende que a moda perdeu seu senso de emoção nos últimos anos, e que resgatar a verdadeira essência das marcas trará de volta a pureza do segmento. “Quando comecei minha carreira, havia uma energia real na indústria. Designers como Martin Margiela, Ann Demeulemeester e Alexander McQueen serviam essa emoção em seus projetos. Não me interpretem mal: a criatividade, definitivamente, existe, mas o senso de identidade está um pouco ausente”, defendeu à publicação.
Indo contra as reflexões dos colegas Alessandro Michele, da Gucci, e Anthony Vaccarello, da Saint Laurent, o estilista não acredita que deixar as semanas de moda seja algo necessário. “Elas só precisam ser reimaginadas para o mundo em que vivemos agora. Não há nada como a experiência de estar em um desfile de moda. A energia na sala e a empolgação são coisas que eu não gostaria de perder. Sempre será importante manter uma fisicalidade na moda, para poder ver e entender a textura e os movimentos das roupas”, concluiu.
Dior
Logo após a Burberry divulgar seu desfile digital, a Dior anunciou a realização de um desfile que marcará o lançamento da coleção Cruise 2021, programada, inicialmente, para o dia 9 de maio. A apresentação também não terá plateia e será transmitida ao vivo de Lecce, na Itália, em 22 de julho.
Durante a conferência organizada para compartilhar a notícia, Pietro Beccari, CEO e presidente da Dior, e Maria Grazia Chiuri, diretora criativa da etiqueta, revelaram os motivos que levaram a empresa a investir na exibição.
“O primeiro é que, para Maria Grazia e eu, luxo são emoções. Quando se trata de moda, nada supre a emoção de um desfile físico. Gostaríamos que isso se tornasse uma mensagem de esperança, otimismo e renascimento após esse período de dificuldade. O sr. Dior teve a coragem de lançar sua linha logo após a Segunda Guerra Mundial, isso está em nosso DNA”, lembrou o executivo durante a transmissão.
O formato digital também será usado para o desfile de alta-costura, programado para 6 de julho. “Definitivamente, seguiremos o ritmo das semanas de moda. É importante lembrar que esses encontros são importantes não apenas para a família da moda, mas para as cidades que os recebem”, comentou Chiuri.
Questionada sobre o aguardado show de setembro, a dupla disse que tudo dependerá das medidas que estarão em vigor até lá. “Esperamos ter alguma audiência, se não uma sala cheia”, desejou Beccari.
Ao passo que o segundo semestre de 2020 se aproxima, outras casas de moda devem bater o martelo a respeito dos formatos que serão adotados em setembro. Afinal, para aquelas que decidirem seguir o calendário tradicional, serão menos de três meses para estruturar experiências que consigam recuperar as vendas perdidas no distanciamento.
A esta altura, é possível constatar que a grande maioria deve optar por transmitir os desfiles pela internet, mas, embora a indústria têxtil pareça bem entrosada com mundo digital, as plataformas on-line nunca foram devidamente exploradas pelo setor.
Uma coisa é certa: há muito tempo os amantes do vestuário não nutriam tanta expectativa pelas já tradicionais (e cansativas) semanas de moda. Esta crise, realmente, pode simbolizar uma importante renovação nas principais vitrines do mercado.
Colaborou Danillo Costa