Diáspora 009 imprime a ancestralidade em criações com significado
A marca de moda fundada por Lia Maria aposta em modelagens agênero estampadas. A etiqueta englobou o festival Metrópoles Fashion & Design
atualizado
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A Diáspora 009 tece a ancestralidade em suas peças. Ao longo de cinco anos de trajetória, são mais de 20 coleções autorais lançadas, compartilhadas tanto na cena artística nacional quanto internacional. Como em um livro que se completa, cada item idealizado por Lia Maria é um manifesto político. Na série Moda Brasília desta terça-feira (29/11), a coluna detalha a história da marca que participou do Metrópoles Fashion & Design.
Vem ver!
“Eu sou rodeada por corpos empoderados. Logo, desenhar, escolher tecidos e propor um estilo afrocentrado com base na minha trajetória identitária foi combustível para uma nova caminhada de orgulho e admiração pelos símbolos, filosofia e beleza da cultura negra representados na moda”. Essa é a forma poderosa com que a criativa Lia Maria explica o início da Diáspora 009, marca fundada em 2017.
Naquele ano, a mestre em políticas públicas educacionais e ativista estava desempregada. Em uma tentativa de driblar a situação e pagar as contas, ela começou a empreender em algo que já era natural em sua vivência: a arte de vestir tecidos africanos.
“Comecei a fazer roupas para mulheres que se pareciam comigo, tinham gostos e trajetórias ativistas e profissionais similares. Inclui na importância de visibilidade de raça e gênero a orientação sexual e a pertença geográfica e geopolítica. Com isso, fui trafegando por um público diverso e potente, tanto para vendas quanto para representar uma egrégora amorosa e inclusiva”, descreve.
As criações apresentam cortes volumosos, tecidos africanos e tons vibrantes. Como todos os pontos na etiqueta, a estética característica tem um porquê: “Essa escolha se deu pela minha experiência de ter sido criada, estudado e ter trabalhado em 25 países, sendo nove deles no continente africano: Togo, Benin, Guiné Bissau, Quênia, África do Sul, Tanzânia, Etiópia, Senegal e Costa do Marfim”. Daí veio o “009”, que completa o nome da etiqueta.
A inclusão de corpos é uma das maiores preocupações da marca. Muito mais do que propor peças com estética vibrante, Lia busca criar modelagens para os mais diversos tamanhos.
“Tenho construído esse caminho com roupas não binárias, feitas para pessoas interessantes e que abraçam a proposta do tamanho ‘experimenta e veja se gosta’. Afinal, eu fui uma mulher obesa muitos anos da minha vida. Chegar em uma arara sem tamanho comercial e que recria um padrão de beleza era um sonho a ser compartilhado”, relembra.
O estilo da etiqueta segue uma perspectiva de representatividade, compreensão e empoderamento. O conceito por trás do processo criativo aponta para uma direção: vestir-se é um manifesto.
“Eu trato de criar peças modernas, com toques de alfaiataria. Mesmo que inspiradas em nossa realeza ancestral, viso lustrar as coroas de uma comunidade negra que merece ser exaltada com toda pompa, charme e cores que as nossas vitórias merecem”.
Metrópoles Fashion & Design
No MFD, que aconteceu entre os dias 5 e 6 de outubro, Lia Maria foi uma das convidadas para a palestra que abordou o resgate de culturas, tradições e saberes ancestrais de povos originários e de povos trazidos para o território brasileiro. No bate-papo, ela comentou sobre a ancestralidade negra na moda.
A convidada destacou a necessidade de ter orgulho e respeito a todos os povos originários do Brasil. “Nós, brasileiros, somos a quinta diáspora; somos a quinta região da África; somos o maior contingente de pessoas negras fora do continente africano. Isso significa que, depois da Nigéria, o Brasil tem o maior número de pessoas pretas e pardas. Falamos sobre ancestralidade porque a gente tem orgulho de ser quem a gente é”, afirmou durante a participação.
A Diáspora 009 também foi uma das selecionadas para o editorial que coroou as etiquetas participantes do evento. Nas fotos, o macacão comfy da marca, com estampas, foi a peça eleita para compor a produção.
Moda Brasília
A Coluna Ilca Maria Estevão deu início à série Moda Brasília em 2021. Toda semana, apresentamos marcas, designers e etiquetas locais, a fim de dar ênfase à moda criada no Distrito Federal, no Centro-Oeste.
O objetivo é apresentar iniciativas e empresas que atuam em prol da cadeia produtiva regional de maneira criativa, sustentável e inovadora. Os nomes são selecionados de forma independente pela equipe da coluna, a partir de critérios como diferencial de mercado, pioneirismo e ações que valorizem a comunidade.