Curso sobre a Semana de Arte de 1922 traça relação com a moda
Sob tutela do Museu de Arte Moderna de São Paulo, as aulas apresentam as relações da vestimenta com o movimento estético-político
atualizado
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Da próxima segunda-feira (31/01) até o dia 14 de março, acontecerá o curso Moda e Modus na Semana de Arte de 22. A convite do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, o pesquisador e curador de moda Brunno Almeida Maia apresentará as relações da moda com o movimento estético-político da Semana de Arte de 22 – em celebração ao centenário do evento. As aulas serão virtuais e sempre às segundas-feiras.
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Será comemorado, neste ano, o centenário da Semana de Arte Moderna, movimento que redefiniu os rumos da cultura brasileira. O evento, que aconteceu entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, marcou o rompimento com o tradicionalismo associado às correntes literárias e artísticas anteriores, tais como simbolismo e arte da academia. O mundo estava otimista com o fim da Primeira Guerra Mundial e entrava em voga uma aura de renovação das estruturas mentais e políticas da sociedade.
Além disso, o ano de 2022 também marca o bicentenário da independência do Brasil e serão realizadas as eleições para o Executivo e o Legislativo. É nesse clima ambivalente de celebração da história do Brasil com incertezas políticas que Brunno Almeida Maia, filósofo e pesquisador da relação entre sociedade e estética, busca conceituar a moda enquanto fenômeno social, organização da aparência e do gosto e traçar suas relações com a Semana de Arte Moderna de 22.
“O curso foi pensado com uma estrutura que permite ao estudante ter uma dimensão do que foi a Semana de 22 no seu significado político e social, e sua relação com movimentos artísticos europeus, como o fauvismo e o surrealismo, mas no contexto brasileiro com artistas como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral”, explicou Brunno Almeida Maia à coluna. O professor contou também que as aulas propõem uma reflexão sobre como a burguesia e a aristocracia brasileiras se relacionavam com a moda que vinha do exterior.
“Ainda somos modernistas?” é a indagação das últimas aulas do curso. Brunno Almeida Maia tem a preocupação de colocar em pauta não apenas questionamentos, mas também estilistas e marcas pertinentes na atualidade. Para ele, designers brasileiros, como Alexandre Herchcovitch, reforçam um certo “elemento antropofágico” ao fazerem coleções que mesclam símbolos nacionais com de culturas que não a nossa.
O filósofo trouxe como exemplo uma coleção feita por Alexandre Herchcovitch que tinha a cantora Carmen Miranda como inspiração, mas trazia, ao mesmo tempo, a gatinha de desenho japonês Hello Kitty. Apesar de não comandar mais a marca homônima, o estilista paulistano segue a mesma linha em sua nova etiqueta, À La Garçonne.
Tarsila é pop
A paulista Tarsila do Amaral não só é uma das pintoras mais famosas do Brasil, como é uma das artistas-chave da Semana de Arte Moderna. Suas obras já foram não só referência para as marcas de moda, por exemplo, como também estamparam de forma literal peças diversas. Em 2017, a Osklen apresentou na semana de moda uma coleção inspirada em seus quadros mais famosos. Antecipando o boom que os modernistas terão em 2022, a Melissa e a Água de Coco lançaram, no ano passado, coleções inspiradas na artista.
Para Brunno Almeida Maia, sob a ótica da moda, Tarsila pode ser interpretada como uma figura controversa. “Ela veio de uma família conservadora do interior de São Paulo, mas teve a oportunidade de estudar fora e dominava quatro idiomas… Quando mudou para a Europa, passou a se utilizar da vestimenta como uma espécie de afirmação da identidade pessoal”. Segundo o professor, a pintora queria, ao mesmo tempo, se adequar à moda local, mas também tinha necessidade de se diferenciar.
Serviço
As aulas serão on-line, de 19h às 21h, e sempre às segundas-feiras, entre os dias 31 de janeiro e 14 de março. O curso custa R$ 480 e está disponível para compra no site do MAM.
Colaborou Carina Benedetti