Curso on-line analisa os diálogos entre moda e cinema pelo figurino
O conteúdo será ministrado pelo pesquisador Brunno Almeida Maia e a figurinista Alice Alves, que explicam detalhes à coluna
atualizado
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No próximo mês, um curso on-line de moda mostrará como o figurino dos filmes revela muito mais do que looks bonitos. Moda e Cinema: Diálogos Através do Figurino é mais um conteúdo ministrado pelo pesquisador Brunno Almeida Maia pelo Adelina Instituto. As aulas começam no dia 10 de maio, com participação da figurinista Alice Alves. “Quem participar do curso nunca mais vai ver figurino como antes. Na hora em que assistir algum filme ou série, terá um outro olhar”, garante a profissional, com passagens pela Rede Globo, estúdios de cinema e publicidade.
Vem saber os detalhes!
Diálogos entre moda e cinema
Assistir a um filme com belos visuais é sempre uma grande experiência. Por outro lado, nem todo mundo percebe como o figurino expõe detalhes importantes por meio das roupas. Entre eles, a realidade política e cultural de uma época. São escolhas que demonstram a passagem do tempo, as mudanças, os sonhos e a própria formação do imaginário da sociedade.
“O cinema influencia o imaginário coletivo, mas a vida social também influencia o cinema. Não dá para falar o que vem primeiro, é uma reação holística”, observa Brunno Almeida Maia, em entrevista à coluna. “Nesse sentido, a figura prenuncia um desejo, um imaginário, uma subjetividade que será posta depois, na vida social, mas na própria narrativa do filme.”
A partir dessa perspectiva, o curso analisará os possíveis diálogos e as relações entre moda e cinema, tendo como base filmes do século 20. Especialmente a relação entre essas duas áreas e o conceito de imagem. Antes da chegada do cinema, Almeida Maia pontua que a imagem de moda começou a ser apropriada pela pintura e a fotografia, linguagens artísticas que não trazem uma ideia de continuidade.
Os filmes, em contrapartida, chegam com novas particularidades. “A pintura e a fotografia são uma imagem que está ali, costumo dizer que é um recorte, uma fatia do tempo. Não sabemos o antecedente e o precedente. O cinema vem modificar essa ação. Uma vez que ele é a imagem em movimento, possibilita uma continuidade”, analisa o pesquisador.
Conceitos e imagens
Nas aulas, Brunno Almeida Maia abordará conceitos baseados em perspectivas históricas de moda, cinema, filosofia, sociologia e literatura. Em seguida, Alice Alves apresentará análises de produções de cinema por meio de imagens. A partir do filme O Nascimento de uma Nação (1915), ela seguirá por épocas, passando por clássicos como Bonequinha de Luxo (1961) e Titanic (1997).
Nessa parte, a ideia é mostrar como o figurino do cinema influencia a moda e vice-versa. “Quando surgiu Star Trek [nos anos 1960], todo mundo que via falava: ‘Eu vou ser um astronauta”’, exemplifica. “Agora, a SpaceX, do bilionário Elon Musk, chamou um figurinista [Jose Fernandez] para fazer a roupa dos astronautas. Ele queria uma coisa que fosse estilizada, não só útil. Musk tinha essas ideias de filmes que ele viu”.
O curso promete abordar o trabalho de figurinistas como Ann Roth (vencedora de Melhor Figurino no Oscar 2021), Edith Head, Adrian, Travilla, Orry-Kelly Irene Sharaff, Cecil Beaton, Milena Canonero, John Mollo, Michale Kaplan, Colleen Atwood, Sandy Powell e Patricia Field. Entre os estilistas e costureiros, haverá Coco Chanel, Elsa Schiaparelli, Christian Dior, Hubert de Givenchy, Yves Saint Laurent, Jean Paul Gaultier e Yohji Yamamoto.
Para exemplificar as influências mútuas entre figurino e moda, Alice Alves conta que o estilista Alexander McQueen usou referências de Blade Runner – O Caçador de Androides (1982) nas passarelas mais de uma vez. Um dos figurinistas do filme, Michael Kaplan, inspirou-se no trabalho do também figurinista Adrian nos anos 1930, como as ombreiras e os tailleurs. Este último assinou os visuais do clássico O Mágico de Oz (1939).
Na avaliação de Almeida Maia, o criador de moda tem capacidade de antecipação, algo que o filósofo, crítico e ensaísta judeu-alemão Walter Benjamin chamava de “o faro para o atual”.
“Ele está imerso no presente, e as potências do futuro já estão na vida social presente, só que poucos conseguem ler. Quem consegue é o artista, de uma maneira geral, e o criador de moda. O artista lida com sensibilidade 24 horas por dia, é o ofício dele”, analisa.
O que o figurinista faz?
Alice Alves explica que o figurinista é responsável por fazer a comunicação visual das produções cinematográficas (ou televisivas) por meio das roupas. A partir daí, transforma as informações do roteiro em referências, que devem ser aprovadas pelo diretor do filme e pelo diretor de arte. “Depois disso, elas transformam-se na roupa, e a chamamos de pele do ator. Muitas vezes, é na hora em que o ator coloca a roupa que ele encontra o personagem”, explica.
É muito importante que o profissional saiba fazer essa comunicação. Cores inadequadas, por exemplo, podem colocar toda a carga sentimental do personagem a perder. “O figurinista de Pinóquio (2019) falou que só o protagonista só usa vermelho. É uma cor cheia de carga, tem paixão, dor, um monte de significados explícitos. Precisamos saber de cor, história da moda”, exemplifica.
“Vejo, na moda, uma inspiração muito grande 40 anos depois. Os 1970 são muito inspirados nos 1930. Depois, os 1980 são muito inspirados nos 1940. Depois, não vi mais isso acontecer tanto. Agora, 2019 pegou os anos 1990”, observa Alice Alves. A propósito, nem sempre a vestimenta reflete a vida social de determinado período de forma exata.
Brunno Almeida Maia menciona o momento de tensão geopolítica dos anos 1970. “A crise do petróleo, a guerra do Iraque, o início do desmoronamento da União Soviética”, exemplifica. “Na moda, aquela década foi completamente escapista. Um lugar de sonho, desejo, do movimento Flower Power, das tribos. É a contradição. Muitas vezes, a moda faz uma leitura às avessas da vida social daquele período. O curso vai permitir uma introdução a isso, como ler essas imagens.”
Sobre os professores
Idealizador do curso Moda e Cinema, Brunno Almeida Maia é pesquisador em filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor convidado em várias instituições de ensino. O especialista mora na capital paulista e já esteve em Brasília para ministrar diferentes cursos, além de criar conteúdos on-line periodicamente. Muitos deles envolvem a moda, cuja relação com a literatura é objeto de estudo do educador desde 2012. Só neste ano, ele ministrou cursos de moda ligados a temas como surrealismo, filosofia e arte, pelo Adelina Instituto.
Alice Alves, por sua vez, trabalha com figurino há 19 anos e tem experiência com filmes, novelas e séries. Depois de seu primeiro trabalho, como estagiária de figurino na novela O Clone (2002), participou dos bastidores de outras atrações globais, como A Casa das Sete Mulheres (2003) e Celebridade (2003). Desde 2009, assina figurinos de produções como o filme As Doze Estrelas e a série Gigantes do Brasil, além de ministrar cursos voltados para essa área.
Informações úteis
As inscrições para o curso Moda e Cinema: Diálogos Através do Figurino estão abertas no site do Adelina Instituto e são limitadas. As aulas ocorrerão pela plataforma Zoom a cada segunda e quarta-feira, de 19h as 21h, entre os dias 10 de maio e 2 de junho, totalizando 16 horas de conteúdo.
O investimento é de R$ 350 reais à vista ou até 12 parcelas de R$ 36,20, com certificado. Em caso de dúvidas, procure a instituição pelo telefone (11) 94812 3175, ou pelo e-mail oi@adelina.com.br.
Colaborou Hebert Madeira