Crise no varejo: Nordstrom e Neiman Marcus à beira de um colapso
Enquanto a rede de lojas de Seattle cancelou todos os pedidos, empresa voltada ao mercado de luxo deve anunciar falência nos próximos dias
atualizado
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Depois de fechar mais de 6,3 mil lojas em 2019, o varejo fashion norte-americano chegou a esta década com a difícil missão de sobreviver à expansão do comércio on-line. Enquanto Forever 21, Barneys e Opening Ceremony não resistiram às mudanças do mercado, outras empresas do setor tiveram prejuízos alarmantes no primeiro trimestre deste ano.
Agora, com os impactos econômicos do coronavírus, as companhias que já apresentavam sinais de falência entraram em um cenário ainda pior. Enquanto a Nordstrom divulgou que suspendeu todos os seus pedidos de maio, junho e julho, a rede de luxo Neiman Marcus deve declarar falência ainda nesta semana.
A crise no varejo norte-americano se alastra desde a bolha imobiliária de 2008. Na época, as empresas do setor mergulharam em fusões, empréstimos e liquidações para se recuperarem dos impactos gerados pelo declínio da economia nos EUA, mas nem todas tiveram sucesso.
Ao passo que redes como JCPenney, Macy’s, Sears e Kmart desativam centenas de pontos físicos a cada ano, e-commerces em expansão implementavam logísticas de entrega mais rápidas e preços competitivos, crescendo mais de 30% ao ano.
Entre os comércios físicos, por outro lado, o cenário piorou em uma proporção muito maior, principalmente após a pandemia do coronavírus. Fontes garantem ao The New York Times que a rede de luxo Neiman Marcus vai pedir falência ainda nesta semana, tornando-se a primeira grande loja de departamentos a sucumbir aos percalços da Covid-19.
A empresa com sede no Texas ficou com poucas opções depois que as políticas de contenção a obrigaram a fechar temporariamente todas as suas 43 unidades, além de 24 lojas da Last Call e duas Bergdorf Goodman, que também são administradas pela companhia.
Depois de não conseguir honrar seus débitos de março e abril, a Neiman multiplicou suas dívidas, que hoje chegam a US$ 4,8 bilhões, segundo a empresa de classificação de crédito Standard & Poor’s. Grande parte desse déficit provém do caos econômico de 2008.
Até o momento, a gigante do varejo norte-americano não comentou as declarações feitas pelas fontes do The New York Times, que argumentam que o pedido de falência tem como objetivo atrair o interesse de potenciais compradores.
O grupo Hudson’s Bay Company, dono da Saks Fifth Avenue, demonstrou interesse em adquirir a Neiman Marcus em 2017. Entretanto, pessoas familiarizadas com a negociação revelaram que a negociação foi interrompida após a empresa canadense ser repassada a um grupo de acionistas liderado por Richard Baker.
“À luz dos eventos decorrentes da pandemia de coronavírus e da nossa expectativa de recessão nos EUA neste ano, acreditamos que as perspectivas de recuperação da empresa são cada vez mais baixas”, escreveram os analistas da Standard & Poor, em nota.
O cenário no qual a NM se encontra é evitado há anos. A rede de lojas renegociou obrigações financeiras e fez um acordo de reestruturação com seus credores, todavia, o surto da Covid-19 levou a empresa à beira do abismo.
Embora tenha pedido que alguns funcionários retornassem às lojas fechadas para atender pedidos on-line, a rede não chegou perto de compensar as vendas físicas, já que e-commerces de luxo, como Net-A-Porter e Farfetch, dominam o mercado de luxo virtual.
Empresas como Macy’s e Nordstrom perseguem novos financiamentos e empréstimos, no intuito de honrar as folhas de pagamentos e aluguéis das lojas. A segunda companhia, inclusive, cancelou todos os pedidos, além de transferir sua tradicional campanha de aniversário para agosto.
A ação promocional normalmente é realizada em julho, quando o varejo enfrenta uma baixa nas vendas. Trata-se do principal evento comercial da rede. A tática de disponibilizar as coleções de outono quando as concorrentes não têm produtos novos nas araras se tornou um grande case de sucesso na indústria.
“Estamos reavaliando nossas necessidades para o evento. Dado o ambiente promocional atípico estimulado pelo fechamento do comércio de rua, sabemos que haverá menos demanda para a venda de aniversário agora”, justificou a Nordstrom, que fechou todas as suas lojas em março.
A companhia encerrou 2019 com uma receita de US$ 850 milhões, mas, para se defender dos efeitos devastadores da quarentena, não hesitou em cortar mais de US$ 500 milhões em despesas operacionais, além de suspender seus dividendos.
“Essas ações são para nos posicionar melhor entre nossos funcionários, clientes e acionistas. São medidas proativas para fortalecer nossa flexibilidade financeira e oferecer liquidez a curto e longo prazo, na medida em que emergirmos deste período sem precedentes”, diz a diretora financeira Anne Bramman, ao WWD.
Outras lojas de departamento que não conseguem retorno significativo no comércio eletrônico também podem perecer devido à pandemia. A J.C. Penney, por exemplo, considera pedir falência para renegociar suas dívidas, impagáveis a esta altura.
Colaborou Danillo Costa