Coronavírus: entenda os impactos da pandemia na indústria da moda
Em meio ao caos decorrente do Covid-19, marcas fazem doações e personalidades se manifestam, enquanto o mercado fashion passa por incertezas
atualizado
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia devido à rápida expansão do coronavírus pelo mundo. Inevitavelmente, os impactos também atingiram a indústria fashion. Enquanto eventos foram modificados ou cancelados, as consequências foram sentidas nas vendas. Além disso, personalidades se manifestaram em busca de conscientização e doações.
Marcas chinesas e várias labels globais estão atuando por melhorias. Na semana passada, o grupo Armani, por exemplo, anunciou a doação de 1,25 milhão de euros. A quantia foi destinada a três hospitais de Milão (Luigi Sacco, San Raffaele e Instituto dei Tumori), ao Instituto Lazzaro Spallanzani, de Roma, e também à Agência de Proteção Civil Nacional.
Anteriormente, a Dolce & Gabbana havia anunciado apoio a uma pesquisa da Universidade Humanitas, em Milão. Quem também se comprometeu financeiramente foi a Versace. A diretora criativa da grife italiana, Donatella, e sua filha, Allegra, destinaram 200 mil euros ao departamento de terapia intensiva do Hospital San Raffaele, em Milão.
Na lista de apoio, o LVMH, nome por trás de grifes como Louis Vuitton, Fendi e Dior, deu US$ 2,3 milhões para a causa. Já o conglomerado Kering colaborou com mais de US$ 1 milhão. Juntas, várias marcas do grupo reuniram o montante. Gucci, Bottega Veneta, Balenciaga, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen e Stella McCartney estão entre elas. A verba foi revertida ao governo e à Cruz Vermelha chineses.
Entre as etiquetas que se solidarizaram, também estão joalherias. A Swarovski contribuiu com quase meio milhão de dólares. A Bvlgari fez grande doação a um instituto de Roma, mas não revelou o valor.
Uma das influenciadoras mais famosas do mundo, Chiara Ferragni não ficou de fora. Junto ao marido, o rapper Fedez, a fashionista lançou a campanha GoFundMe – Coronavírus: Rafforziamo La Terapia Intensiva (Coronavírus: Fortaleçamos os Cuidados Intensivos). A vaquinha on-line, que reuniu de famosos a fãs da influencer, juntou mais de 4 milhões de euros. Todo o valor arrecado será doado para a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital San Raffaele, em Milão.
Em um desabafo no Instagram, a italiana, que tem quase 19 milhões de seguidores, explicou a situação alarmante. O post foi direcionado principalmente aos followers estrangeiros, que, segundo ela, representam 70% do perfil.
“O Estado decidiu trancar todos os italianos dentro de suas casas até o dia 3 de abril, para impedir que o vírus se espalhasse ainda mais e que o sistema de saúde e hospitais entrassem em colapso. Estamos todos vivendo em quarentena agora, como algumas cidades da China fizeram no mês passado. Então, por favor, comece a conscientização e entenda que essa não é uma gripe comum. É muito mais perigosa para todos nós: fique protegido o máximo possível neste momento crítico”, escreveu Ferragni.
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Eventos
Uma das recomendações gerais é evitar aglomerações e manter distância mínima de 1,5 m de outras pessoas. Por isso, os eventos de moda passaram por modificações.
Duas semanas de moda da China, de Pequim e Xangai, foram adiadas por causa do coronavírus. Elas estavam previstas para começar nos dias 25 e 26 de março, respectivamente.
Em fevereiro, quando a situação ainda estava concentrada na China, a Semana de Moda de Paris cancelou desfiles de marcas chinesas. As grifes Calvin Luo, Jarel Zhang, Maison Mai, Masha Ma, Shiatzy Chen e Uma Wang não participaram da fashion week.
Como um todo, a temporada de outono/inverno 2020 do principal circuito internacional de desfiles foi afetada. As semanas de moda europeias aconteceram no mês passado, mas adotaram métodos de precaução.
Os desfiles de Londres e Milão tiveram transmissões digitais em tempo real e veiculação de conteúdos nas redes sociais. Além disso, hábitos rigorosos de higiene foram implementados.
Em meio ao surto, várias marcas tiveram a prudência de adiar desfiles. A Armani passou para novembro uma exibição que ocorreria em Dubai no mês de abril depois de fazer a apresentação de outono/inverno 2020 sem audiência. Previsto para o fim do próximo mês nos Estados Unidos, o fall/winter 2020 da Ralph Lauren também foi suspenso.
A Gucci cancelou o desfile cruise 2021, marcado para 18 de maio na cidade de São Francisco, na Califórnia. A Versace decidiu fazer o mesmo com a apresentação que seria dois dias antes.
Outra marca que cancelou o desfile da temporada resort foi a Prada. A etiqueta apresentaria em Tóquio, no dia 21 de maio, a primeira coleção conduzida por Miuccia Prada e Raf Simons juntos. Na lista, está a grife Alberta Ferretti, que faria o show para a temporada em 22 de maio na Itália.
A Chanel adiou um show na China, agendado para maio, que reproduziria o Métiers D’Art, assim como o cruise, na Itália. O cruise da Dior seria apresentado na Itália em 9 de maio. Max Mara montaria a passarela em São Petersburgo, na Rússia, em 25 de maio. A Hermès também suspendeu o resort, em 28 de abril, na cidade de Londres.
O Mercedes-Benz Fashion Week Australia deveria ocorrer de 11 a 15 de maio, em Sydney. No entanto, a temporada de resort 2021 da semana de moda foi impedida provisoriamente.
Com a chegada ao Brasil e o aumento rápido de casos, as iniciativas brasileiras também não conseguiram escapar dos efeitos do Covid-19. A grife À La Garçonne, por exemplo, deu um novo direcionamento para apresentar a coleção 01-2020. O show foi realizado sem público, na Casa Triângulo, devido à expansão do Covid-19 na cidade de São Paulo.
Dadas as circunstâncias, a equipe trabalhou para garantir todos os registros em vídeos e fotos. O número de profissionais foi reduzido ao longo do dia, assim como a permanência dos modelos no espaço. Tudo para manter o menor risco possível de vulnerabilidade ao local.
No dia 12 deste mês, o São Paulo Fashion Week também tomou uma atitude. A versão N49 do evento, que aconteceria entre 24 e 28 de abril, foi prorrogada.
“Diante do cenário atípico e visando preservar a saúde e o bem-estar de todos, a programação do Festival SPFW+ e a conferência internacional anunciada para o dia 27 de abril serão replanejadas”, informou em comunicado à imprensa e também nas redes sociais.
O Minas Trend (21 a 24 de abril) comunicou a suspensão da 26ª edição. “Os organizadores do evento entendem que, neste momento, a redução do contato social é fundamental para garantir o cuidado com a saúde humana. A possibilidade de uma nova data será avaliada”, anunciou a Federação da Indústrias de Minas Gerais (FIEMG).
E o Met Gala?
Também no dia 12 de março, o Metropolitan Museum of Art fechou temporariamente depois que funcionários apresentaram sintomas de coronavírus. Já era esperado Met Gala não vingasse por agora. O baile aconteceria em 4 de maio, mas seguiu as diretrizes do governo norte-americano. A determinação é que todos os eventos até 15 de maio sejam postergados.
O anúncio de adiamento foi feito nessa segunda-feira (16/03). Ainda não foi divulgada nova data para a festa, que terá o tema About Time: Fashion and Duration (Sobre Tempo: Moda e Duração) e celebrará os 150 anos do museu. Desde 1995, Anna Wintour preside o evento e organiza a lista de convidados.
A expectativa em torno do Met Gala estava alta. Afinal, trata-se do tapete vermelho mais esperado no meio fashion. Para completar, a imprensa internacional especulou sobre a possível presença de Meghan Markle.
Prêmio LVMH
Conhecido por lançar talentos emergentes na indústria da moda, o Prêmio LVMH (LVMH Prize for Young Fashion Designers) também não tem mais data confirmada. A edição deste ano prometia Rihanna, Virgil Abloh e Stella McCartney no júri.
“Após analisar cuidadosamente as diretrizes dos governos federal e estaduais, bem como das agências de saúde pública, o presidente do CFDA, Tom Ford, e Steven Kolb, presidente e CEO, juntamente com o apoio total do conselho, tomaram a decisão de adiar o CFDA Fashion Awards 2020”, esclarece comunicado divulgado nessa quarta-feira (18/03).
Outras medidas
Para tentar ajudar no combate ao Covid-19, o LVMH anunciou que vai produzir álcool em gel para distribuir na França. O produto será feito pela divisão de cosméticos da companhia, especificamente por três marcas: Parfums Christian Dior, Guerlain e Parfums Givenchy. O conglomerado vai manter o compromisso pelo tempo que for preciso.
“Dado o risco de faltar álcool em gel na França, Bernard Arnault instruiu a divisão de perfumes e cosméticos da LVMH a preparar as fábricas para produzir quantidades substanciais de álcool em gel para serem entregues às autoridades públicas”, explicou comunicado do grupo.
Apesar de muitos eventos terem sido cancelados e a população de diversos países estar em resguardo, algumas pessoas mantêm seus compromissos. Cuidados acompanham a decisão.
Há oito dias, em uma postagem no Instagram, a top model Naomi Campbell apareceu toda “empacotada”. Os cliques foram feitos no Aeroporto Internacional de Los Angeles, na Califórnia. A supermodelo aproveitou para avisar aos seguidores que publicaria um vídeo em seu canal no YouTube sobre a proteção em relação ao coronavírus.
Na mesma vibe, a cantora Erykah Badu usou visual inspirado em uniformes de proteção para ir ao Texas Film Awards. A premiação aconteceu no dia 12 de março, em Austin, nos Estados Unidos.
Assinado por ela mesma, o look foi batizado de “costura de distanciamento social”. Coberta da cabeça aos pés, a norte-americana usou macacão branco como peça-chave. O item foi estilizado com monogramas da Louis Vuitton. Para completar, máscara, luvas e capuz.
Vendas e impacto no mercado
Com o caos na China, fábricas e lojas no país foram fechadas. Em geral, a queda no primeiro bimestre é a maior em três décadas. A indústria chinesa despencou 13,5% em janeiro e fevereiro em comparação com o mesmo período de 2019. Na moda, o comércio também tombou. Afinal, o país é o maior consumidor do segmento de luxo.
A indústria têxtil da Ásia deve perder cerca de US$ 238 milhões por causa do Covid-19, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Além da China, os países mais afetados são Vietnã, Tailândia e Indonésia. Só no Vietnã, onde o mercado é crescente, são 3 milhões de empregados do segmento.
Ao longo do tempo e com a expansão descontrolada da doença, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, as consequências passaram a afetar completamente o mercado global. De acordo com a agência de comércio e desenvolvimento da ONU, o coronavírus deve custar US$ 1 trilhão à economia mundial em 2020.
Todo o mercado está em um momento delicado. Uma das consequências gerais mais evidentes é a interrupção de vendas. A Inditex, proprietária da Zara, baixou quase 300 milhões de euros em estoque e disse que as vendas caíram 24% nas duas semanas até 16 de março.
Na semana passada, Adidas e Puma relataram um colapso nas vendas na China e advertiram estava se espalhando para outros locais. A Nike também já havia anunciado um declínio.
A Adidas, por exemplo, informou que no primeiro trimestre a queda deve ser de até 1 bilhão de euros na Grande China (incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan). Mais cerca de 100 milhões no Japão e na Coreia do Sul.
À medida em que o setor fashion se prepara para intensas consequências econômicas, as empresas tentam se adaptar aos contínuos esforços de contenção. Chanel, Sephora, Nordstrom e Selfridges estão entre os nomes que fecharam as portas provisoriamente em países com mais risco relacionado ao Covid-19. Até a pandemia ser amenizada e autoridades locais demonstrarem avanços.
Nessa quarta-feira (18/03), o grupo Kering fechou todas as lojas no Reino Unido e também na América do Norte. Isso engloba espaços de labels como Gucci, Balenciaga, Saint Laurent, Bottega Veneta e Alexander McQueen.
A princípio, a atitude vai durar duas semanas. A holding manteve o pagamento integral dos trabalhadores do varejo e o funcionamento do comércio eletrônico.
No Brasil, apesar das recomendações de isolamento, muitos shoppings e estabelecimentos comerciais continuam funcionando. Para diminuir o contato físico, algumas marcas oferecem promoções para quem comprar pelos e-commerces. Farm, Capezio e Cris Barros estão entre elas.
O coronavírus
A infecção causada pelo novo coronavírus foi relatada no ano passado em Wuhan, na China. O surto inicial de Covid-19 atingiu pessoas com alguma associação a um mercado de frutos do mar.
A OMS emitiu o primeiro alerta para a doença em 31 de dezembro de 2019. Outras variações mais antigas de coronavírus, como Sars-CoV e Mers-CoV, são conhecidas pela comunidade científica.
Contudo, nessa quarta-feira (18/03), a OMS afirmou que o novo coronavírus (Sars-Cov-2) representa uma ameaça sem precedentes. No mundo, já foram detectados mais de 200 mil infectados e cerca de 8 mil mortes. Depois da China, a Itália é o país mais afetado, seguido por Irã, Espanha e França.
O Brasil registrou 394 casos em 20 estados e no Distrito Federal, segundo dados das secretarias estaduais de saúde. Até o momento, três mortes foram confirmadas no país.
É importante destacar que o vírus pode ficar incubado por duas semanas. Os primeiros sintomas podem aparecer nesse período, desde a infecção. Entre eles, febre, tosse e dificuldade para respirar.
As recomendações de prevenção incluem lavar frequentemente as mãos; não compartilhar objetos de uso pessoal; utilizar lenço descartável para higiene nasal; e cobrir nariz e boca ao espirrar ou tossir. Para quem puder, a orientação é ficar em casa.
Colaborou Rebeca Ligabue