Consultora de moda relata ter sofrido racismo na loja Pinga, em SP
Nayane Carolline alega que diretora branca da multimarcas Pinga, em São Paulo, recusou atendê-la em uma entrevista de emprego
atualizado
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Nessa quinta-feira (1º/9), Nayane Carolline, de 26 anos, usou as redes sociais para expor uma situação de discriminação racial que alega ter passado em uma loja de roupas em São Paulo. À coluna, a consultora de moda aponta ter sido vítima de racismo, ao não ser entrevistada por Rosana Amoras, diretora de finanças e administração da Pinga. A multimarcas de grifes autorais é cofundada por Catharina Tamborindeguy, filha da socialite Narcisa Tamborindeguy.
“Aconteceu algo muito chato comigo. Eu nunca tinha passado por uma situação dessa e fiquei bem constrangida”, iniciou o vídeo publicado no Instagram. “Eu cheguei antes do horário, muito bem vestida para a ocasião e para o local, porque isso pedia. Ainda que não fosse, não era motivo para ser recebida da forma que eu fui”, avaliou.
Entenda o caso
Nayane Carolline é formada em empreendedorismo pela Universidade Cruzeiro do Sul, e, atualmente, cursa design de moda na Unicesumar. No momento, ela trabalha como consultora de imagem, por meio da empresa própria, batizada de Madam. Na busca por mais oportunidades no segmento, a jovem havia se cadastrado por meio do site Carreira Fashion, focado em vagas de emprego no ramo fashion, para participar de um processo seletivo na Pinga.
Ao entrar em contato, uma funcionária da multimarcas avisou que haviam duas vagas disponíveis: uma para assistente administrativo e outra de estágio na área de estilo, para a qual Nayane topou se inscrever. A entrevista seria realizada às 14h30, nessa quinta-feira (1º/9), em um prédio comercial que fica próximo à loja, em um bairro nobre.
Nayane conta que chegou com antecedência ao local, por volta das 14h15. “Quando entrei, a Rosana estava a alguns metros da porta, atendendo outra menina, que também era branca”, conta. “Na mesma hora, ela não respondeu o meu boa-tarde, e percebi que ela me encarou, mas até aí eu relevei… Não queria entrar na entrevista com esse pensamento”, reconhece.
No mesmo momento, Nayane ouviu Rosana falar para outra funcionária [Bruna] conferir o WhatsApp. Segundo a candidata à vaga, a diretora bateu o celular na mesa, e continuou a encarando, com a “cara fechada”.
“A Bruna levantou, me levou para outra sala e começou a se desculpar. Ela estava segurando um papel em branco; precisou improvisar e estava anotando na hora o que era pra me falar”, lembra Nayane. “Ela disse que a Rosana não estava preparada para me entrevistar. Depois, ela me fez perguntas sobre onde eu morava, o que eu fazia… No fim, disse que não tinha mais informações sobre a vaga. Foi aí que eu percebi que a Rosana só pediu para ela me entrevistar porque eu já estava ali, e me dispensar. Quando eu saí, a Rosana nem estava mais na mesa dela”, enfatiza.
Após se dirigir à estação de metrô mais próxima, na Oscar Freire, Nayane começou a chorar. “Eu não estava acreditando que passei por isso. Não me deram a oportunidade de me apresentar, de falar os meus objetivos. A Rosana não sabe quem eu sou”, lamenta, em entrevista à coluna.
“Eu sempre fui uma pessoa que se impõe. Os olhares nunca foram motivo para eu baixar a cabeça, mas a situação [na Pinga] me deixou tão constrangida que eu não tive reação. Entendi o quanto as pessoas ainda passam por isso”, diz Nayane Carolline sobre a realidade do racismo na sociedade.
“É horrível, doído, revoltante. Mesmo que nós [pessoas negras] tenhamos faculdade, qualificações, isso não é suficiente para as pessoas brancas aceitarem e nos verem como capazes de estar no topo”, indigna-se.
Depois da repercussão no Instagram, Nayane ficou impressionada e grata com a alta quantidade de mensagens de apoio. Ela conta à coluna que também recebeu, nesta sexta-feira (2/9), ligação de representante da Pinga Store. No entanto, a consultora de moda está em contato com uma advogada para avaliar quais medidas irá tomar.
Posicionamento da multimarcas Pinga
A multimarcas Pinga foi fundada em 2017 por Catharina Tamborindeguy e Gabriela Paschoal. A loja fica na Rua da Consolação, em São Paulo. No repertório, estão marcas como Abi Project, Amapô, Isabela Capeto, Parioca e Piu Brand.
Em nota ao Metrópoles, por meio de assessoria de imprensa, a marca Pinga se pronunciou em relação ao ocorrido.
Confira a íntegra do comunicado:
“Não toleramos qualquer tipo de preconceito. Diversidade e pluralidade fazem parte da essência da Pinga, desde seu nascimento. Estamos tentando contato com a Nayane Carolline para ouvir, entender e acolher. Houve um ruído de comunicação, abrimos um rigoroso processo interno para apurar os fatos e já estamos tomando as medidas necessárias para que esse tipo de interpretação não aconteça. Vale esclarecer que o processo seletivo para vaga de estágio seguiu os trâmites sem qualquer recusa ou ressalva, mas lamentamos muito que a Nayane tenha se sentido dessa maneira. Refletimos e iremos rever nossos processos internos”.
Veja o relato completo de Nayane Carolline:
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Colaboraram Rebeca Ligabue e Marcella Freitas