Conselho de Moda Britânico alerta para o impacto do Brexit sem acordo
A organização apontou que a falta de um acerto com a União Europeia pode custar até 900 milhões de libras ao setor
atualizado
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O Conselho de Moda Britânico pediu que o governo do Reino Unido evite que o Brexit ocorra sem acordo com a União Europeia. Segundo comunicado da associação, a falta de um acerto com o bloco econômico pode ter um impacto negativo de até 900 milhões de libras para a indústria fashion local. A nota foi publicada pelo British Fashion Council (BFC) nessa segunda-feira (02/09/2019). Em janeiro, a organização havia se manifestado no mesmo sentido.
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Além de defender um acordo, o BFC pediu que o governo possibilite financiamentos para estimular as empresas a continuarem competitivas no mercado internacional. Outro pedido é que ele mostre à indústria da moda a melhor forma de enfrentar os desafios do comércio global em meio a diferentes cenários.
Ao deixar a União Europeia sem acordo, o Reino Unido seguirá as regras básicas da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que resultará em um gasto de 850 a 900 milhões de libras em tarifas no setor da moda. A previsão se baseia nas exportações de 2018.
O comunicado vem depois de o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, suspender as atividades do Parlamento por cinco semanas – de meados de setembro até 14 de outubro. Agora, os parlamentares precisarão correr contra o tempo nos poucos dias úteis que terão para evitar o chamado “no-deal Brexit”, no dia 31 de outubro.
Antes da chegada da Semana de Moda de Londres, entre os dias 13 e 17 deste mês, o BFC fez um seminário com estilistas para ajudá-los a identificar riscos e desafios em um cenário de Brexit sem acordo.
As principais preocupações do conselho são sobre os talentos e o comércio. A inquietação é significativa, uma vez que o segmento fashion britânico vale 32 bilhões de libras e emprega mais de 890 mil pessoas, de acordo os dados da organização. A quantidade é quase a mesma do setor financeiro.
Em termos de comércio, a organização destaca a importância do mercado internacional para as pequenas e médias empresas de moda, já que vendem para o exterior. Segundo o BFC, parte do trabalho dessas marcas é adotar uma linguagem que converse com o comércio global em todas as etapas de produção.
Até colocarem seus produtos nas mãos do consumidor, passam por várias fases, entre elas o envio de amostras para o mercado internacional e desfiles. Dessa forma, o setor da moda não se diferencia da complexidade de outras indústrias, como a automotiva.
No caso de uma não negociação até o dia 31 de outubro, o BFC elencou preocupações, como a reavaliação do impacto das tarifas da OMC para as empresas. Ainda não se sabe se as próprias marcas ou os consumidores finais terão que assumir os custos adicionais.
Entre os tópicos, a associação cita os prazos para envios de mercadoria, falta de clareza sobre a documentação necessária para o envio de amostras, novas regras de importação e exportação, bem como seu impacto nos sistemas de logística.
Já sobre os talentos, o conselho disse que está trabalhando questões de imigração com o Ministério do Interior. Entre as medidas, quer garantir que designers e profissionais do setor trabalhem no Reino Unido, além de facilitar a entrada de modelos no território britânico.
O comunicado observa lacunas no sistema atual de imigração e nas propostas do “white paper” (documento com informações sobre o Brexit). Por exemplo, com relação ao limite mínimo salarial recomendado no visto para trabalhadores não europeus (Tier 2), de 30 mil libras anuais. Muitos profissionais qualificados da indústria não ganham o equivalente em suas respectivas funções, como argumenta o BFC, que pediu ao governo para revisar essa regra com urgência.
“O BFC considera essencial para o Reino Unido manter sua posição de liderança na atração de talentos globais. É muito importante que a comunicação com estudantes e talentos internacionais seja clara e destaque o fato de que a indústria da moda ainda deseja que eles estudem, iniciem negócios e trabalhem aqui”, diz o texto.
O mercado fashion britânico atrai estudantes e profissionais de outros países, vide o exemplo do italiano Riccardo Tisci, atual diretor criativo da Burberry, uma das marcas mais tradicionais do Reino Unido. Fundada em 1856, a grife tem valor estimado em 2,72 bilhões de libras esterlinas.
Brexit
Brexit (British exit, ou saída britânica, em tradução livre) foi o nome dado ao processo de retirada do Reino Unido da União Europeia, aprovado em plebiscito realizado em 2016 com a população britânica.
Comércio, trânsito de pessoas, bens e imigração estão entre os pontos que podem ficar sem amparo legal se os parlamentares britânicos não impedirem que ocorra o chamado “Brexit sem acordo”.
Uma das saídas para a situação temida pelo BFC seria a aprovação de leis que obrigassem a extensão do prazo para além de 31 de outubro deste ano. Caso isso não ocorra, de um dia para o outro, o Reino Unido deixaria o mercado comum e a união aduaneira com os demais 27 países do grupo.
Colaborou Hebert Madeira