Conheça os conglomerados mais poderosos da moda e do luxo
Os grupos LVMH e Kering disputam entre si domínio e poder por meio das marcas que detém. São donos de nomes como Louis Vuitton e Gucci
atualizado
Compartilhar notícia
Dentro do mercado internacional de luxo, uma das variáveis para medir a chance de sucesso de uma marca ou de um designer é se ele chamou a atenção de algum dos maiores conglomerados: o LVMH ou o Kering. Esses nomes disputam entre si os novos talentos, as etiquetas consolidadas e também a posição no ranking de empresas mais lucrativas. A coluna destaca o lado business da indústria da moda e destrincha a história dos dois grupos.
Vem entender mais!
Muitas pessoas podem classificar a moda como futilidade, mas quem tem faro para negócios sabe do impacto econômico da produção e vendas de artigos de vestuário. Quem destaca o fato é a professora Marília Carvalhinha, coordenadora do curso de fashion business da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em entrevista à coluna.
A pesquisadora aponta que a indústria da moda está avaliada em aproximadamente US$ 850 bilhões no mundo. Desse total, só o LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE fechou o ano de 2021 com uma receita US$ 64,2 bilhões. O grupo soma ainda 75 marcas em seu portfólio e mais de 175 mil funcionários espalhados por todos os negócios.
Apesar de bem menor se comparado ao LVMH, o segundo conglomerado mais representativo do mercado da moda é o francês Kering. O grupo fechou o ano passado com uma receita de mais de US$ 17 milhões e 42.800 funcionários. Atualmente, possui o controle de 10 marcas.
A estrutura que esses conglomerados oferecem às labels sob sua tutela o que é importante para mantê-las em pé ou até para que possam estrear no mercado. “A moda é um mercado desafiador com características muito específicas, como a questão das confecções, com fábricas espalhadas por todo o mundo. Um grande grupo consegue trabalhar essa gestão com muito mais eficiência”, explica Marília Carvalhinha.
LVMH: grande aglutinador
A fundação oficial da empresa LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton é datada no ano de 1987, mas algumas das marcas que originam o grupo remontam ao século 18. Os empresários Henry Racamier e Alain Chevalier eram os nomes iniciais à frente do projeto, mas, após brigas e até batalhas judiciais, entrou – e ficou – em cena Bernard Arnault, que se tornou um dos homens mais ricos do mundo graças a essa “vitória”.
O francês Bernard Arnault se formou em engenharia para seguir os passos do pai, um empresário da construção civil. Na década de 1980, mudou-se para os Estados Unidos com o objetivo de expandir os negócios da família. Lá, se apaixonou pelo “american way of business” e decidiu que queria apostar em outras áreas, entre elas a da indústria têxtil. Começou arrematando uma empresa estatal, que já estava mal das pernas há algum tempo, até que seu caminho se cruzou com os executivos que fundaram o grupo LVMH.
Em 1989, Bernard assumiu a presidência do conselho de administração do conglomerado que, naquela época, já detinha a Louis Vuitton e a produtora de bebidas Moët & Chandon. A estratégia de expansão passou a ser, então, adquirir novas marcas. Assim, vieram nomes como Kenzo, Loewe, Céline e a gigante da beleza Sephora.
Uma das aquisições mais recentes do grupo LVMH foi a Tiffany & Co., casa norte-americana que é sinônimo de luxo e exclusividade dentro do segmento de joias. O negócio simbolizou a vontade do conglomerado de expandir para além das fronteiras europeias, especialmente ao comprar uma das marcas mais renomadas dos Estados Unidos.
Outra movimentação do grupo que chama a atenção é a aposta em novos designers. Em 2018, por exemplo, a Louis Vuitton, uma das maiores marcas do LVMH, convidou Virgil Abloh para assumir a direção criativa da linha masculina. Até 2021, ano em que o estilista norte-americano faleceu precocemente, os desfiles com sua assinatura causavam grande burburinho na cena fashion.
Em maio de 2019, o conglomerado também apostou na fama e no estilo único de Rihanna e anunciou o lançamento da marca de roupas de luxo Fenty. No começo de 2021, porém, o LVMH e a cantora decidiram encerrar a etiqueta para se concentrar nos negócios mais lucrativos: Fenty Beauty e Fenty Skin, de maquiagens e autocuidado, respectivamente; e a de lingerie Savage x Fenty.
Kering: foco em sustentabilidade
O conglomerado Kering é outro que se desenvolveu graças à veia business de um francês. François Pinault começou a trabalhar na empresa madeireira do seu pai e lá ficou até 1963, quando fundou a Pinault Company, que atuava no setor de materiais para construção.
Ao longo dos anos, a empresa expandiu os negócios para diversas áreas ao adquirir, por exemplo, uma empresa de seguros e a rede de lojas Fnac. Mas foi apenas na década de 1990 que Pinault entrou em uma briga para adquirir a Gucci, que nessa época estava em plena ascensão criativa – graças ao comando do estilista Tom Ford – e em contendas que envolviam a família fundadora e investidores.
Com uma das marcas de moda mais consolidadas anexada ao seu portfólio, François resolveu que era hora de trazer novos estilistas e repaginar a imagem do grupo. Em 2001, comprou a marca homônima do britânico Alexander McQueen e também a espanhola Balenciaga. Em 2013, a empresa ganhou o nome que conhecemos hoje: Kering.
Apesar de possuir um portfólio de marcas bem mais enxuto que o do LVMH, o grupo Kering tem duas vantagens competitivas. A primeira é possuir a Gucci e a Balenciaga, duas etiquetas que são queridinhas de diversas gerações e que atingiram ótimos resultados nos últimos anos, mesmo com a pandemia. A segunda é ter largado à frente do concorrente nas pressões por práticas mais sustentáveis.
Em setembro de 2021, o conglomerado anunciou que baniria o uso de pele animal das suas marcas. O LVMH, por sua vez, faz ações pontuais para mostrar que está alinhado às questões ambientais, mas não tomou nenhuma grande medida. Os artigos de couro, inclusive, são as principais fontes de renda da empresa.
Colaborou Carina Benedetti