Conheça o único brasileiro nos 100 novos talentos do Fashion Awards
O fotógrafo mineiro Hick Duarte foi um dos homenageados pelo Conselho de Moda Britânico nessa segunda-feira (10/12)
atualizado
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O Fashion Awards 2018, promovido pelo Conselho de Moda Britânico, foi o destaque da noite dessa segunda-feira (10/12). Pela primeira vez, o evento homenageou 100 novos talentos ao redor do mundo na categoria New Wave: Creatives. Entre os nomeados, havia modelos, designers, fotógrafos, stylists e blogueiros, e somente um brasileiro: o fotógrafo e diretor mineiro Hick Duarte, 27.
O artista visual mora e trabalha em São Paulo e já assinou editoriais para publicações como Vogue Brasil, Elle Brasil, Hypebeast, Dazed e i-D. Além do trabalho comercial, mais voltado para a fotografia de moda, ele organiza exposições autorais inspiradas no lifestyle da juventude brasileira. A coluna conversou com ele sobre a experiência na premiação, trabalhos recentes e inspirações.
“Gosto de dizer que faço uma releitura mais contemporânea do que é o Brasil. Minha estética é sobre ler os códigos visuais brasileiros de moda e comportamento de uma forma nova, com todo o cuidado do mundo para não cair em clichês e estereótipos”, explica o artista.
Vem comigo conferir!
Formado em jornalismo, Hick nasceu em Uberlândia, cidade mineira localizada a cerca de 422 quilômetros da capital federal. A carreira começou aos 17 anos, fotografando festas e shows musicais. Ele carrega no olhar uma visão contemporânea que ganha vida em produções com estética analógica, uma paixão do artista. Na lista do Fashion Awards, acompanhou nomes “hypados” no cenário internacional, como a modelo Kaia Gerber, Tony Liu e Lindsey Schouler – dupla por trás do Diet Prada.
O convite, que chegou por e-mail, foi inesperado; a experiência, então, ainda melhor. “A atmosfera era muito intensa. Só de imaginar que grandes nomes da indústria estavam ali, da Vivienne Westwood ao Virgil Abloh”, conta. Essa foi a primeira vez que a premiação apostou nessa categoria, eleita por 2 mil membros do meio. O critério de seleção, segundo o conselho, foi a inovação e a criatividade. Apesar de amplo, o fotógrafo tem um palpite:
“Neste ano, fiz alguns trabalhos que conseguiram um alcance internacional um pouco maior. Estava conversando com algumas pessoas da lista, que também são criativas em diversas áreas. Deu para sacar uma questão de relevância local. Eles parecem ter escolhido indivíduos com um trabalho contendo um significado relacionado ao lugar onde o profissional está baseado.”
No trabalho de Hick, a ligação com a cultura jovem nacional é quase inevitável. “As pessoas pensam sempre em olhar para fora, quando temos uma riqueza cultural muito grande para ser explorada, reinventada”, opina. Durante esse processo, o vínculo com a moda acontece naturalmente, mas não é o foco. “O principal são as narrativas por trás das pessoas documentadas. A moda é quase um perfume no trabalho, mas é muito mais sobre comportamento.” No meio fashion, C&A, Adidas, MAC e Cotton Project estão incluídas no currículo do artista.
Apesar de achar complicado definir o próprio trabalho, Hick preza por uma espécie de compromisso com a verdade. “Trabalho com moda, e as imagens ali não são necessariamente verdadeiras. Elas são montadas em vários sentidos e tudo contribui para um visual forte. Quando falo em verdade, eu me refiro a um sentimento de autenticidade, de a foto contar uma boa história”, argumenta.
Já sobre os traços estéticos, ele passeia pelas linguagens documental-artística e analógica, e prioriza os filmes sempre que possível: “A estética analógica é uma coisa que me surpreende, porque já nasci na época das câmeras digitais. Tem um sentimento de nostalgia, de viver uma coisa que você não viveu na época. Isso faz pensar a imagem de um jeito diferente”.
Trabalho autoral
Nos últimos dois anos, o fotógrafo apresentou vários projetos de destaque. Um deles foi a série documental Chavosos, em janeiro de 2016, sobre cortes de cabelo dos garotos da periferia de São Paulo. A proposta tem a ver com o código estético do baile funk, muito popular entre eles. A ideia foi parar na revista i-D, em mais de seis países, e foi peça-chave para Hick começar a trilhar o rumo autoral.
Entre outros trabalhos, dirigiu o videoclipe de Então Vai, parceria da cantora Pabllo Vittar com o DJ Diplo. “Teve uma boa projeção internacional. A Pabllo também está cada dia maior, [o vídeo] tem mais de 30 milhões de visualizações no YouTube”, comemora.
No projeto com a drag queen, o artista carregou sua brasilidade e a abordagem documental com um recorte diferente do que costumamos ver. “Gravamos em Araçatiba, uma região do Rio bem interessante, lembra um pouco a Jamaica, tem um mangue no meio. É um Rio de Janeiro menos óbvio”, observa.
Em 2017, Hick apresentou duas exposições autorais, uma delas em São Paulo (Rente). Em junho, retratou a vida de diferentes rapazes, com estilos de vida diversos, moradores de regiões distintas da capital paulista. Em julho do mesmo ano, exibiu Gaps, a convite da conferência de design brasileira Bonde, em Nova York.
Inspirações
Não é à toa que Hick trabalha com a direção de videoclipes, uma de suas principais fontes de inspiração. Ele admira os projetos de Romain Gavras, Tyrone Lebon e alguns diretores da década de 1990. Na fotografia, destaca Viviane Sassen, William Eggleston, Robert Frank e Rchard Avedon. “São quatro nomes que têm trabalhos de fotografia de moda muito impecáveis, consistentes. A Viviane é mais contemporânea, mas todos os outros são bem clássicos e acabaram moldando a forma que eu trabalho com moda também”, acrescenta.
Novos projetos
Para 2019, Hick quer investir em mais trabalhos autorais, mas não tem grandes planos ainda. Já está alinhado o lançamento do novo clipe do cantor Rico Jorge, gravado neste mês: deve acontecer em janeiro. “Desejo focar mais trabalhos autorais, [2018] foi um ano superprodutivo, mas acabei não fazendo nenhuma exposição, só lancei um livro, em março. Quero conhecer a Jamaica, vamos ver se rola no ano que vem. Tenho de sentar e começar a planejar melhor”, finaliza.
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Colaborou Hebert Madeira