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Conheça o Sou de Algodão, movimento que promove o consumo responsável

Iniciativa da Abrapa realiza ações e parcerias para incentivar o uso do algodão sustentável produzido em solo nacional

atualizado

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Sou de Algodão/Divulgação
Ensaio do movimento Sou de Algodão
1 de 1 Ensaio do movimento Sou de Algodão - Foto: Sou de Algodão/Divulgação

Você sabia que o Brasil é o maior fornecedor de algodão sustentável do mundo? E que somente 8% de todo o algodão cultivado no país é irrigado artificialmente? Em 2016, o movimento Sou de Algodão foi criado para incentivar o consumo responsável da fibra, que é natural e biodegradável, além de levar informações como essas para o público. A iniciativa é da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e conta com 500 marcas engajadas atualmente, de segmentos que vão da moda à decoração. Essas parcerias funcionam como uma via de mão dupla, conscientizando os consumidores sobre a composição de suas roupas e de seus produtos.

Vem conhecer essa iniciativa!

@discovercotton/Giphy/Reprodução

Afinal, o que é algodão sustentável?

No Brasil, o algodão considerado sustentável é aquele certificado pelo Algodão Brasileiro Responsável (ABR), programa da Abrapa que existe desde 2012 e avalia pilares que formam o tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Para adquirir o selo, atualmente fornecido em parceria com a ONG internacional Better Cotton Initiative (BCI), os agricultores precisam cumprir 178 requisitos de um rígido protocolo de boas práticas. Antes disso, precisam atender a outros 224 itens na fase de “verificação para diagnóstico”.

A atividade deve, por exemplo, ser economicamente sustentável e gerar renda, com salários dignos. No aspecto social, o programa avalia critérios como a segurança no trabalho e o respeito à legislação trabalhista brasileira. Já na esfera ecológica, o produtor deve cumprir o Código Florestal Brasileiro e manter boas práticas agronômicas. Os resultados da certificação são auditados por empresas externas que possuem renome internacional.

“Esse programa sempre é atualizado conforme a legislação. Dez anos de muito trabalho e, agora, estamos fazendo isso também para as beneficiadoras de algodão, que separam a pluma do caroço”, explica Júlio Cézar Busato, presidente da Abrapa desde janeiro deste ano. Em meados de 2015, a associação identificou perda de participação do algodão em relação a outras fibras e falta de conhecimento do consumidor sobre as roupas que vestia.

Diante desse contexto, surgiu uma necessidade: incentivar o uso do algodão brasileiro na moda e colocá-lo em pauta. Mostrar às pessoas, principalmente o consumidor, como ele é produzido, unindo a voz de profissionais de toda a cadeia produtiva da fibra. Para isso, a Abrapa pensou em uma ferramenta de conscientização sobre a composição das roupas. Assim, surgiu o movimento Sou de Algodão.

Algodão - movimento Sou de Algodão
No Brasil, o algodão sustentável é certificado pelo programa Algodão Brasileiro Responsável

 

Cultivo de algodão
A produção deve cumprir 178 itens relacionados ao tripé da sustentabilidade: econômico, social e ambiental

 

Cultivo de algodão
Para incentivar o consumo da fibra nacional e divulgar como ela é produzida, a Abrapa criou o movimento Sou de Algodão

 

Nasce o Sou de Algodão

O Sou de Algodão estreou no São Paulo Fashion Week N42, em outubro de 2016. A campanha de lançamento teve como embaixadores o fundador e diretor criativo do evento, Paulo Borges, e os estilistas Martha Medeiros e Alexandre Herchcovitch, além do apoio de 10 filiadas e do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).

O movimento faz diversas ativações para que as pessoas se conscientizem sobre os benefícios e as possibilidades da pluma (algodão beneficiado). Entre elas, participações em eventos de moda e no Congresso Brasileiro do Algodão, lançamentos de kits e campanhas em datas especiais, entre outras ações, como o Desafio Sou de Algodão + Casa de Criadores, voltado para o público universitário.

Em 2018, por exemplo, o movimento organizou uma visita de jornalistas, estilistas e professores a uma fazenda algodoeira. O encontro, com participação de designers da Casa de Criadores, do consultor e palestrante André Carvalhal e da jornalista de moda Lilian Pacce, foi batizado de Cotton Trip. Outra frente de atuação é com marcas parceiras que pertencem à indústria têxtil e trabalham com o algodão nacional. Para se engajarem, elas precisam oferecer produtos com, pelo menos, 70% da fibra na composição.

Depois de quatro anos de atuação do projeto, Júlio Cézar Busato avalia que os consumidores começaram a se preocupar mais com sustentabilidade e fibras naturais. “Os sintéticos estão trazendo um problema enorme: a poluição dos rios e mares com microfibras. As coisas estão conseguindo caminhar, e nós estamos conseguindo levar a nossa informação, as verdades de como é produzido o algodão brasileiro”, observa.

Lancamento Sou de Algodao no SPFW N42, outubro de 2016
O Sou de Algodao estreou no São Paulo Fashion Week N42, em outubro de 2016

 

Cotton Trip do movimento Sou de Algodão
Clique da Cotton Trip, visita a uma fazenda de algodão ABR em Cristalina (GO), em 2018

 

Ensaio do movimento Sou de Algodão
O algodão é uma alternativa às fibras sintéticas, que poluem rios e mares com microfibras de plástico

 

Marcas parceiras

As primeiras colaborações surgiram já no primeiro ano do movimento. Só em 2021, mais de 100 novos parceiros se juntaram à iniciativa, que tem expectativa de chegar a pelo menos 650 marcas engajadas, ainda neste ano. As listas dos segmentos de moda incluem diversas labels, como Iorane, Ronaldo Silvestre, Farm e Ginger. A Reserva foi a 500ª etiqueta a adentrar ao time.

“Nossa relação com as marcas é de colaboração. Para ser parceira, não tem nenhum aporte financeiro. Trabalhamos juntos no processo de divulgação: eles divulgando o Sou de Algodão, e nós, a marca. Eles usam a logo e toda nossa guide, e nós fazemos o mesmo”, comenta a coordenadora do movimento, Silmara Ferraresi, da Abrapa.

O selo do movimento pode ser usado pelas marcas em suas plataformas de comunicação e nos produtos feitos com pelo menos 70% de algodão. Pelo site da iniciativa, é possível conferir todas as empresas engajadas de acordo com a categoria de mercado.

O movimento também articula colaborações entre as parcerias, como trabalhos conjuntos de grifes com grandes tecelagens, por exemplo. “Ajudamos muito dessa maneira, nos mais variados segmentos. Temos desde feminino, masculino, artesanato. Não tínhamos pensado que algodão poderia ser forte no segmento pet, mas tivemos uma marca engajada recentemente”, acrescenta a coordenadora.

Peças da marca Ginger
A Ginger, marca que Marina Ruy Barbosa e Vanessa Ribeiro lançaram em 2020, é engajada no Sou de Algodão

 

Peças em jeans da marca Farm
Outro exemplo é a Farm

 

Peças da Reserva
A Reserva foi a 500ª etiqueta  a aderir ao movimento

 

Algodão no radar da moda

A stylist e consultora de estilo e imagem Chris Francini é uma grande fã do algodão, especialmente por causa do toque e das diversas possibilidades que ele oferece para a indústria. “Hoje, você pode tecê-lo de várias maneiras, de tela e na diagonal. Pode fazer mil coisas com ele, ter acabamentos diferenciados. Acho que isso é que traz a novidade”, opina. A Iorane é uma das marcas parceiras do projeto que a especialista em estilo admira.

Para ela, um dos pontos mais importantes do movimento Sou de Algodão é a valorização do produto brasileiro. “Nós exportamos muito e, finalmente, as confecções nacionais começaram a enxergar nosso produto nacional. Tem um valor agregado muito forte, por isso o movimento é tão importante”, defende. “No mundo inteiro, estamos voltando para uma cadeia produtiva menor e que ajude produções locais.”

Stylist e consultora de imagem Chris Francini
A stylist e consultora de imagem Chris Francini recomenda o algodão pelas possibilidades que a fibra oferece

 

Jaqueta da marca Iorane
Uma das marcas engajadas no movimento Sou de Algodão apreciadas pela especialista em estilo é a Iorane

 

algodão
Na opinião de Francini, um aspecto importante do movimento é a valorização do produto nacional

 

Algodão orgânico e sustentável são a mesma coisa?

Nas contas da Abrapa, o Brasil é o quarto maior produtor de algodão no mundo e o segundo maior exportador. Atualmente, 75% dessa matéria-prima produzida em solo brasileiro tem o selo ABR.

De toda a quantidade licenciada pela BCI no mundo em 2019, 36% partiram do Brasil. Isso significa que a maior parte do algodão sustentável do mundo é oriunda da cadeia nacional. Além disso, apenas 8% do algodão cultivado por aqui é irrigado artificialmente, enquanto os Estados Unidos, maior exportador do material, irrigam 80%.

É importante, também, entender que o conceito de algodão sustentável é completamente diferente de algodão orgânico. A produção das plumas orgânicas não permite o uso de insumos químicos, como agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, e organismos geneticamente modificados, como as sementes transgênicas. O cultivo de plumas orgânicas no Brasil ocupa, principalmente, estados no Nordeste, a exemplo do “algodão colorido” da Paraíba, que a coluna abordou anteriormente.

O sustentável, por sua vez, respeita os três pilares mencionados anteriormente e é cultivado de maneira tradicional, usando tecnologias para manter a qualidade da fibra e controlar pragas, como o temido bicudo-do-algodoeiro. Busato adianta que já existe um trabalho conjunto da Abrapa com a Embrapa para encontrar uma alternativa para deter o inseto que dispense o uso de defensivos.


Colaborou Hebert Madeira

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