Conheça as seis marcas estreantes da edição de 25 anos do SPFW
A edição 100% digital do evento traz, pela primeira vez, apresentações das grifes ÀLG, Freheit, Irrita, Martins, Misci e Renata Buzzo
atualizado
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O São Paulo Fashion Week completa 25 anos em 2020. Para celebrar o aniversário do evento em segurança, a organização preparou uma edição comemorativa 100% digital. Desta vez, 36 marcas apresentarão suas novidades, da maneira que preferirem, seja com desfiles digitais, seja com fashion films. Entre elas, seis estão no lineup da semana de moda paulistana pela primeira vez: ÀLG, Freheit, Irrita, Martins, Misci e Renata Buzzo. Todas são marcas jovens, lançadas entre os últimos sete anos, com identidades marcantes e pegadas diferentes. Algumas vêm da Casa de Criadores, outras apresentavam suas coleções por conta própria.
Vem comigo conhecê-las!
ÀLG
A ÀLG chegou ao mercado no fim de 2018 como uma segunda linha da À La Garçonne, com produtos mais acessíveis, de tiragem maior, e peças que são fáceis de usar. A direção criativa também é do empresário Fábio Souza, enquanto o estilista Alexandre Herchcovitch desenha as peças das coleções. A pegada esportiva guia as roupas da grife, que passeiam pelo street e pelo universo do skate. Assim como na irmã mais velha, as criações da ÀLG são produzidas com tecidos encontrados em estoque.
Quando a label foi criada, as collabs foram uma das grandes promessas. Até então, surgiram parcerias com marcas como Ratsuo, Melissa, Olympikus, Ocean Pacific e Pakalolo. Embora não se considere agênero, as distinções entre masculino e feminino não são um detalhe importante na ÀLG, que também não se prende às temporadas da moda e é direcionada ao público jovem.
Apesar de mais simples do que os produtos da À La Garçonne, as peças da linha caçula são descoladas e reúnem um quê fashionista nas estampas coloridas e vibrantes, com modelagens soltas que são a cara da cultura do streetwear, especialmente as parkas e itens com manga longa, como as jaquetas e camisetas. A label se apresentará às 19h30 do primeiro dia de programação do SPFW, 4 de novembro. Antes de integrar a programação do evento, a marca desfilava por conta própria.
Freiheit
A Freiheit se define como uma marca experimental que usa a moda como ferramenta de autoexpressão, pautada pela “busca pela profundidade conceitual e intelectual”. Não é à toa, a palavra alemã que batiza a etiqueta significa liberdade, um conceito fundamental nos produtos desenvolvidos pelo diretor criativo e fundador, Marcio Mota, brasiliense radicado em São Paulo. Nos processos, que valorizam linhas limpas, um workwear arquitetônico e formas geométricas, a marca prioriza o fazer manual e a transparência.
Na coleção de estreia, Uniform of the Free (Uniforme do Livre), o designer trouxe peças sofisticadas, com materiais tecnológicos, e subverteu a ideia do que é um uniforme. Na simbologia da marca, a ideia de utilizá-los representaria a falta de liberdade e a massificação da individualidade humana. A coleção do SPFW será a segunda da marca, batizada de Flagwear (Bandeiras de vestir), com elementos que remetem à bandeiras de liberdade.
De maneira geral, as peças da Freiheit são pensadas para o público masculino, mas suas modelagens amplas e retas atendem a todos os gêneros. Boa parte da inspiração, como Mota contou ao site da revista GQ, vem de uniformes antigos, de roupas de militares e de peças de outerwear em geral, como os casacos. Muitas das referências da label, que atendem a esses estilos, foram garimpadas com colecionadores da Europa. A Freiheit se apresenta às 20h30 de sábado (7/11), com Alexandre Herchcovitch cuidando do styling.
Irrita
As modelagens e as estampas exclusivas, feitas à mão, são os grandes destaques da Irrita, marca fundada em 2017 pelas sócias Rita Comparato (diretora criativa) e Lia Camargo (gestão). Nas peças, alegres e cheias de presença, Comparato reúne a bagagem de mais de 10 anos acumuladas na aclamada grife Neon, que manteve ao lado de Dudu Bertholini entre 2003 e 2013.
É a própria designer quem cria as estampas, ricas e cheias de grafismos, além dos quadros vendidos na loja da marca. Os prints passeiam entre a geometria e a abstração, explorando também listras e blocos de cores contrastantes e intensas. A leveza dos vestidos, camisas, saias, calças e kaftans confere um ar de frescor.
Focada em oferecer peças casuais que abraçam o corpo feminino, Rita Comparato revisita algumas de suas modelagens de maior sucesso ao longo dos últimos 10 anos, a exemplo do macacão e das pantalonas. Tudo isso é traduzido em roupas democráticas e atemporais, que surgem a partir dos desenhos da estilista e modelista. Você poderá conferir as novidades da Irrita às 16h30 do dia de abertura, 4 de novembro.
Martins
Entre as marcas que vêm diretamente da Casa de Criadores para o SPFW, está a Martins, de Tom Martins, que desfilava pelo outro evento desde 2017. Aqui, os volumes amplos e democráticos predominam nas criações, que revisitam shapes clássicos e dão uma cara moderninha. Grande parte das peças da label são tamanho único, tendo o oversized como a regra nas criações.
Apesar de também criar roupas monocromáticas, a grife dá um espaço especial para as estampas, como listras, xadrez e artes desenvolvidas pela dupla Cacau Francisco e Davi Sombra; estas aparecem na primavera/verão 2020/21. Detalhes como a mistura de cores e a estamparia revelam uma influência do senso de humor do designer, mais influente nas últimas temporadas.
Para sua apresentação no SPFW, ele preparou um fashion film que foca “no produto e suas possibilidades enquanto uso”, com direção de Gustavo Zylbersztajn e produção do Estúdio Choix. Ao FFW, ele observou que é um desafio fazer com que esse material chegue ao número maior de clientes, mas acredita que o uso das redes sociais e da tecnologia garantem novas possibilidades. A Martins abre a programação do sábado (7/11), às 14h.
Misci
Lançada em 2018, a Misci é uma marca moderna e plural fundada pelo designer multidisciplinar Airon Martin, nascido no interior do Mato Grosso. O nome da marca vem da palavra “miscigenação”, por causa da abundância com a qual esse termo é citado em estudos de formação da identidade estética do Brasil. O estilista explicou ao Huffpost Brasil que cria peças “para gente, pessoas, independente do sexo”.
Com influência da alfaiataria, as roupas carregam uma sofisticação simples e pragmática, flertando com o minimalismo. O resultado disso é entregue em cores limpas e neutras, que oferecem um respiro do caos urbano. Martin, que cresceu cercado por nordestinas (mãe, avó e tias), toma como inspiração a força e a vivência de mulheres trabalhadoras. Além da moda, com roupas e acessórios, o designer desenvolve mobiliário.
Em sua apresentação para o SPFW, formada por um time majoritariamente feminino, Airon Martin deve explorar uma ideia que, segundo ele, é um dos objetivos da moda: informar e alertar. O projeto tem colaboração da cantora e compositora Josyara. Às 16h da sexta-feira (6/11), será possível conferir tudo ao vivo.
Renata Buzzo
A grife slow fashion e artesanal Renata Buzzo também vem da Casa de Criadores, onde apresentava suas coleções desde 2016. A marca existe desde 2013. Suas peças são únicas e numeradas, feitas sob encomenda e medida, sem materiais de origem animal e desperdício. Nas roupas, as texturas, babados e cores neutras acrescentam uma pegada poética (e até artsy), incluindo mangas bufantes e outros detalhes que misturam clássico e moderno.
No início da etiqueta, Renata ganhou destaque pelos vestidos de noiva, mas hoje oferece mais do que isso, com criações para festa que ela define como excêntricas e “estranhonas”. Em 2018, a designer que dá nome à label levou o prêmio de Estilista Revelação Brasileira no Brasil Fashion Forum, em Miami. Já no ano passado, foi a única marca nacional selecionada em uma lista de setes estilistas para o evento de sustentabilidade The Next Green Talent, da Vogue Itália.
Para o São Paulo Fashion Week, como a criadora explicou ao FFW, ela apresentará uma coleção baseada no poema autoral Estudos Melancólicos. “Eu estou superfeliz de ter entrado na SPFW, sonho de garota, mas não posso esquecer dos meus últimos quatro anos na Casa de Criadores, onde eu fui superfeliz, tive liberdade criativa para fazer o que me desse na telha e construí uma história bacana”, celebrou a estilista pelo Instagram. A apresentação será às 18h da sexta-feira (6/11).
Decisão histórica
Vale destacar que, já nesta edição, entra em vigor uma nova exigência que marca uma decisão histórica para o SPFW. A partir de agora, marcas que não tiverem 50% do casting dos desfiles formado por pessoas negras, afrodescendentes e/ou indígenas não farão parte do lineup. A iniciativa foi tomada em parceria com o projeto Pretos na Moda.
A determinação, divulgada primeiro pela Folha de S.Paulo, chega meses após diversas acusações feitas no perfil do Instagram Moda Racista (desativado) sobre supostas condutas racistas nos bastidores da indústria fashion nacional. Até então, a recomendação era de que pelo menos 10% da seleção de modelos incluísse afrodescendentes, indígenas e asiáticos. Viva a diversidade!
Colaborou Hebert Madeira