Conheça a fibra natural Milkweed e sua importância para a moda
O filamento garante boa duração para as tramas, além de maior resistência à água e maciez equivalente ao algodão
atualizado
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Peças de roupa que possuem fibras sintéticas na composição dos tecidos estão perdendo espaço nas prateleiras das lojas para os modelitos mais ecológicos. Os fashionistas passaram a redobrar a atenção para as questões ambientais e estão cada vez mais conscientes na hora de finalizar as compras. O aumento da exigência dos consumidores também reflete na indústria da moda, que nos últimos anos passou a investir mais em pesquisas e tecnologias que resultam em novos materiais para o mercado. Nos últimos tempos, o que está em destaque na área têxtil é a fibra natural extraída da planta Milkweed.
Vem comigo saber mais!
O filamento com textura sedosa garante boa duração para as tramas, maior resistência à água, maciez equivalente ao algodão, além de ser hipoalergênico. A planta, que cresce com facilidade nos solos americanos, tem semelhança ao dente-de-leão. A aparência não é a única característica comum entre as duas espécies. Ambas não precisam de muita irrigação e conseguem crescer em solos com poucos nutrientes.
A fibra natural que está com grande visibilidade na área têxtil tem origem na América do Norte e pertence à espécie Asclepias Syriaca L, que foi notada há cerca de 10 milhões de anos. Devido à longa existência da Milkweed, os filamentos feitos a partir do “algodão” da planta já foram utilizados para a confecção de lençóis e travesseiros, além de serem usados nas tramas das vestimentas.
História
A espécie de algodão faz parte da coleção têxtil do museu Old Sturbridge Village, localizado em Massachusetts, nos Estados Unidos. Especificamente, um xale retangular está em exposição como uma das peças históricas confeccionadas no século 19. As fibras de Milkweed deram textura e camadas para o item com forro de seda pura.
Outro registro do uso da Milkweed foi durante a Segunda Guerra Mundial, mas, desta vez, como enchimento para os coletes salva-vidas nos Estados Unidos. O período de escassez das matérias-primas foi agravado quando os japoneses cortaram os suprimentos dos EUA e o país teve que encontrar novos recursos para continuar produzindo alguns produtos essenciais.
Posteriormente, o governo americano lançou um programa para incentivar a colheita das vagens de Milkweed. A cada saco recheado que era entregue, o cidadão recebia quinze centavos de dólar americano. Crianças e idosos embarcaram na missão e o país conseguiu produzir mais de um milhão de coletes salva-vidas.
Marcas que investem no material
Em 2016, a designer e artista têxtil Adlayna Rasile se encantou pelo filamento extraído de Milkweed. Durante o período em que a profissional estava cursando mais uma residência artística, uma fazendeira apresentou a planta para a artista e, hoje, as duas são cofundadoras da etiqueta May West, que confecciona casacos para o outono com a fibra natural.
Além da estética sedosa e dos fios esbranquiçados, outro diferencial que chamou a atenção da artista foi a impermeabilidade do material. Ao longo dos anos de pesquisa, a dupla também descobriu que a Milkweed é seis vezes mais quente do que a própria lã, outro potencial a favor do uso na confecção dos casacos.
Para incentivar as pesquisas da dupla, um projeto com a marca May West foi apresentado durante o evento anual John Ruffatto Business Startup Challenge. As sócias receberam uma bolsa de US$ 15 mil em 2019 para comercializarem as jaquetas.
A planta Milkweed
Após a Segunda Guerra Mundial, o uso da Milkweed foi reduzido. Nas últimas décadas, a planta começou a ser vista como uma praga nas redondezas dos Estados Unidos, por crescer com facilidade e ocupar espaço nas plantações.
A Milkweed tem muito a oferecer, começando pelo valor medicinal das raízes. As flores são ricas em néctar, o que torna a planta uma ótima fonte da alimento para inúmeras espécies de insetos.
Durante o ciclo de vida da espécie, um casulo com sementes é desenvolvido e, quando estão maduras o suficiente para serem dispersadas pelo ar, a bolsa com os grãos começa a abrir e as partículas se espalham com a cooperação do vento.
Cada semente é disseminada pelo ar com o auxílio dos filamentos elegantes da Milkweed e o material leve com aparência de algodão que chama a atenção pelo potencial têxtil. É uma boa opção para substituir as fibras sintéticas que existem atualmente no mercado, por ser um recurso vegetal renovável.
Colonização da borboleta-monarca
Sozinhas, as Milkweeds conseguem ser a base para a existência da borboleta-monarca, que está ameaçada. Nas últimas duas décadas, 90% dos insetos desapareceram do ecossistema, dado que coloca a espécie em perigo crítico de extinção.
O gênero botânico Asclepias tem grande valor para a espécie de borboleta, pois é a única planta em que as monarcas depositam os ovos. Durante o processo de transformação dos ovos, as folhas da Milkweed são a fonte principal de alimento para as larvas.
No entanto, a Milkweed ainda não é visada pelo mercado e tem sido eliminada por agricultores e proprietários de terras, por ainda não apresentarem valor comercial. Isso diminui a área de habitat natural da espécie de asas laranjas com listras pretas.
A etiqueta May West só extrai a parte da planta usada para confeccionar as roupas após a chegada das borboletas-monarcas no outono. A label americana investe em pesquisas e testes para aprimorar o uso do filamento.
Durante o processo, também combina os fios de Milkweed com outras fibras. Atualmente, a marca está investindo em tecido com isolamento térmico para confeccionar jaquetas para o inverno.
Durante palestra no Ted Talks em 2019, a designer têxtil Alayna Rasile pontuou a importância da utilização das fibras da Milkweed. Para ela, trata-se de uma questão de sustentabilidade.
“Como uma estilista jovem, sinto uma enorme responsabilidade em buscar alternativas éticas e sustentáveis para o meu trabalho. No meu papel de consumidora, também me sinto responsável por escolher produtos que estejam alinhados com os meus valores. Podemos usar as tendências de moda e nosso poder de compra para fazer grandes mudanças e acabar restaurando habitats naturais”, afirmou.
Colaborou Sabrina Pessoa