Como o figurino de House of Gucci influencia a trama e os personagens
De maneira coordenada com a trama, a moda entra como um elemento de extensão dos personagens e contribui com a narrativa
atualizado
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Nesta quinta-feira (25/11), cinéfilos e amantes do mundo da moda dão as mãos por uma razão comum. O motivo? A estreia do aguardado longa House of Gucci (Casa Gucci). O lançamento vem em boa hora. Com a retomada gradual das salas de cinema em todo o mundo, nada melhor do que uma película que consiga unir elenco estrelado, trilha sonora caprichada, história envolvente e, claro, figurino que também some à narrativa. O filme protagonizado por Lady Gaga e Adam Driver entrega tudo isso — e um pouco mais.
Vem conferir!
No dia 27 de março de 1995, Maurizio Gucci (Adam Driver), neto do renomado estilista Guccio Gucci, foi morto nas escadarias de seu escritório. O crime foi encomendado pela própria esposa, Patrizia Reggiani (Lady Gaga). No entanto, House of Gucci não centraliza a história no assassinato do herdeiro da grife italiana. A trama, dirigida por Ridley Scott, foca no relacionamento de Patrizia e Maurizio, apresentando os pormenores da trajetória do casal.
Indo além da clara conexão com a moda, House of Gucci utiliza o figurino de maneira estratégica. Ele é usado como ferramenta para ressaltar disparidades, traduzir a essência dos personagens e participar ativamente da trama como um membro silencioso. A responsável por pensar a vestimenta do elenco foi a britânica Janty Yates, figurinista já premiada pelo Oscar.
Para montar os looks usados no filme, Alessandro Michele, atual diretor criativo da Gucci, abriu o acervo da casa e emprestou alguns itens. “Eles permitiram que entrássemos no arquivo e tiramos cerca de 15 ou 20 roupas. Pegamos bolsas, óculos de sol e cintos”, contou à revista Harper’s Bazaar americana. Apesar disso, a figurinista confessou que acabou aproveitando apenas duas peças da curadoria, usadas por Lady Gaga.
É visível o cuidado em retratar com riqueza de detalhes os elementos que contribuem para a ambientação do espectador. O penteado de Gaga, por exemplo, ressalta a vivência no auge dos anos 1970. Já as peças oversized vistas em Adam Driver, no decorrer dos anos 1980, reforçam as tendências que marcaram a década.
Sendo fiel ao estilo das pessoas envolvidas na verídica história, vale o destaque para o visual de Patrizia. A produção realça o seu lugar de inadequação perto da família Gucci. Sobre a personagem, Lady Gaga disse em entrevista exclusiva ao jornalista Hugo Gloss que trabalhou por cerca de nove meses para entender tudo sobre ela. “Você repara no filme, ela nunca é tão brilhante quanto a Gucci é. Ela é excluída, ela nunca se encaixa completamente. Sempre tem algo um pouco esquisito com ela, sempre tem algo vergonhoso”, refletiu.
Casal contrastante
No filme, Lady Gaga dá vida a Patrizia Reggiani, que depois passa a integrar o clã Gucci. O estilo da personagem pode ser dividido em duas fases: a vida anterior e posterior à fortuna. Desde a sua primeira cena, podemos notar algumas características marcantes de Patrizia. Como uma extensão de sua personalidade solar, as roupas usadas chamam a atenção por onde passa. Apesar da presença de elementos românticos, como mangas bufantes, floral e tamanhos midi, as peças têm a modelagem mais justa e com uma pegada mais sensual.
Por sua vez, Maurizio Gucci exala a elegância herdada de berço. Ainda nas primeiras aparições, fica clara a sua preferência por peças mais clássicas, de tons sóbrios e alfaiataria bem cortada. O maxi óculos, assinatura do personagem, mantém-se inabalável com o passar dos anos. Ora em um cinto, ora em uma gravata, ele usa itens da grife da família. A discrição é tamanha que, em algumas cenas, os detalhes podem passar despercebidos.
No segundo ato, quando a dupla assume parte do controle da empresa, a figura muda: Patrizia passa a usar peças que “gritam” o nome da etiqueta italiana. O monograma estampado em bolsas, casacos e sapatos, ilustra a sua tentativa de pertencer ao novo ambiente. Ela veste Gucci como a sua segunda pele. Com certo exagero, o estilo da personagem flerta com elementos camp. Traduzindo a fase de bonança, a figurinista Janty Yates escolheu peças da joalheria Bvlgari para compor o visual de Gaga.
Com parcimônia, o herdeiro Gucci adiciona mais peças da casa em seu dia a dia. Substituindo a aversão por orgulho, ele começa a entender o papel da grife para a história. Pouco a pouco, a sua vestimenta alinha-se com a persona que a etiqueta visa alcançar: um homem seguro, bem posicionado na sociedade e que não abre mão de vestir-se elegantemente.
O contraste entre a demasia de Patrizia e o refinamento de Maurizio é palpável quando estão juntos em cena. Nesses momentos, o figurino consegue contar a sua própria versão dos fatos. E engana-se quem pensa que há alguma ponta solta. Em House of Gucci, a moda é o tempero da história.
Colaborou Marcella Freitas