Com preços menores, diamantes sintéticos geram polêmicas na indústria
Aplicáveis na moda e na tecnologia, as gemas têm o custo reduzido com a fabricação em laboratórios, mas dividem opiniões
atualizado
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Símbolo de comprometimento e de afeto, o diamante é visto como uma dádiva da natureza. O processo de bilhões de anos de formação faz da joia uma raridade que ganhou um significado determinante para os valores altos, mais do que a própria exclusividade. Nas últimas décadas, a chegada das gemas feitas em laboratório abriram margem para discussões conceituais e mercadológicas entre vendedores do material escavado e do produzido tecnologicamente.
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As gemas sintéticas podem ser desenvolvidas em laboratório em até nove meses. Enquanto isso, os diamantes naturais se formaram há cerca de 1 bilhão de anos. A tecnologia evoluiu para que, atualmente, eles sejam química e fisicamente iguais. A designer de joias Aja Raden explicou, no documentário Nada é Eterno: “Os diamantes sintéticos, hoje, não são apenas não identificáveis. Eles são reais.”
Em 2022, o cineasta Jason Kohn lançou o filme documental, que explora a disputa dos gigantes da indústria dos diamantes contra produtores de laboratório. A principal defesa do primeiro grupo é de que a preciosidade não pode ser fabricada pelo homem, como falou Stephen Lussier, ex-diretor executivo da De Beers, conglomerado de empresas de mineração e comércio de cristais.
“Podemos sintetizar carbono, mas, na verdade, não podemos criar um diamante. Não podemos criar algo de um bilhão de anos que nos conecta à formação do mundo. Não podemos criar algo que tenha raridade e preciosidade intrínsecas”, opinou o executivo à produção do documentário.
A Xtropy, uma das principais empresas que produzem diamantes em laboratório, defende que o valor do sintético impacta também a tecnologia, já que o material é usado em lentes e chips de computador. O produto de laboratório também alcançou a moda e permite a venda da joia a preços mais baixos.
Porém, a disputa não se limita apenas ao aspecto simbólico e tecnológico dos cristais. Há questões legais e éticas em jogo, especialmente em relação ao controle monopolista exercido por empresas como a De Beers. O cartel tem sido criticado pela influência na promoção da ideia de que os diamantes naturais são insubstituíveis, especialmente por meio de campanhas que tentam tirar a credibilidade das gemas criadas por mãos humanas.
Diamantes de laboratório na moda
As possibilidades trazidas pelos diamantes de laboratório leva marcas a investirem em novas peças. A Pandora, por exemplo, lançará, nesta quinta-feira (29/2), uma linha com cristais produzidos a partir da tecnologia.
A categoria Diamonds by Pandora chega a cinco países, incluindo o Brasil. Recentemente, a empresa também anunciou que passou a trabalhar apenas com ouro e prata reciclados. Para divulgar a novidade, uma das estrelas convidadas é a atriz Pamela Anderson.
“Queremos que mais pessoas experimentem o poder e a beleza dos diamantes cultivados em laboratório todos os dias, em formatos clássicos e inesperados”, comentou Francesco Terzo, diretor criativo da marca, em comunicado.
Segundo a Pandora, a iniciativa não inclui joias 100% sintéticas, mas, sim, um tipo diferente de cultivo e lapidação a partir de sementes naturais. “As gemas são colocadas em câmaras de vácuo com calor muito elevado, depois a câmara é preenchida com gás rico em carbono que é aquecido por energia de micro-ondas que quebra a molécula do gás usando 100% energia renovável”, detalhou a joalheria dinamarquesa.
Enquanto a indústria de diamantes cresce e se inova, a disputa entre os cristais naturais e os sintéticos continua. Com debates que envolvem desde a geologia até o marketing, a autenticidade dos diamantes permanece no centro das atenções da moda e da indústria joalheira.