Chineses ameaçam boicote contra as grifes Versace, Coach e Givenchy
Equívoco envolvendo as províncias de Hong Kong, Taiwan e Macau levou clientes, influenciadores e artistas a se manifestarem
atualizado
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De acordo com o The State of Fashion 2019, relatório desenvolvido pela consultoria McKinsey & Company, neste ano os EUA perderão, finalmente, o posto de maior mercado de moda do mundo. A China, que hoje representa um terço das vendas do segmento de luxo, com mais de US$ 500 bilhões gastos no setor anualmente, deverá ocupar a posição. Tal previsão animou as grandes grifes do universo fashion, que têm investido como nunca no país. No entanto, a falta de sensibilidade que assola a indústria têxtil pode dificultar bastante a inserção das etiquetas ocidentais por lá.
Vem comigo saber o porquê!
Em novembro de 2018, a Dolce & Gabbana, uma das labels que caiu no gosto dos chineses, por exemplo, programou um desfile em Xangai. A promessa era promover um tributo à China. Para divulgar o show, a marca italiana fez uma série de três vídeos intitulada Comendo com Pauzinhos.
Nos clipes, um narrador ensinava uma mulher chinesa a usar os tradicionais hashis para degustar pratos típicos italianos, como pizza, cannoli e espaguete, o que não pegou bem entre os internautas chineses, que identificaram as peças publicitárias como racistas e propuseram um boicote à empresa.
Como resultado, o desfile foi cancelado e as vendas foram prejudicadas. Agora, um outro equívoco despertou, mais uma vez, a decepção do povo chinês. As marcas Versace, Givenchy e Coach lançaram camisetas que identificam Hong Kong, Taiwan e Macau como territórios independentes, o que pegou mal diante da opinião pública – principalmente agora, quando milhares de manifestantes tomam as ruas de Hong Kong.
Há pelo menos dois meses, militantes tentam barrar a influência de Pequim na ilha, após o governo sugerir um projeto de lei que permite a extradição dos cidadãos da ex-colônia britânica para a China continental.
À medida que imagens das roupas começaram a circular on-line, usuários de redes sociais chinesas, como o Weibo, começaram a sugerir boicotes às etiquetas. A modelo Liu Wen, uma das embaixadoras da Coach, foi à plataforma anunciar que estava cortando os laços com a grife norte-americana.
“A qualquer momento, a integridade do território chinês é inviolável. Meu descuido em escolher com qual marca trabalhar prejudicou a todos, peço desculpas! Amo minha pátria e protejo resolutamente a soberania da China”, escreveu a top model.
Jackson Yee, integrante de uma das boy bands mais populares da China, a TFBoys, anunciou no Weibo que deixaria de trabalhar com a Givenchy, enquanto a atriz e cantora Yang Mi comunicou que estava suspendendo seu contrato com a Versace, em resposta à polêmica camiseta. “Estamos profundamente ofendidos”, finalizou Yang.
Atentas ao que ocorreu com a Dolce & Gabbana, as grifes não perderam tempo e foram a público pedir desculpas pelos equívocos. Nesse domingo (11/08/02019), Donatella Versace emitiu um comunicado no qual se dizia arrependida pelo mal-entendido.
“Eu estou profundamente entristecida pelo erro que foi cometido pela nossa empresa. Eu nunca quis desrespeitar a soberania nacional da China, e é por isso que eu queria me desculpar pessoalmente por tamanha imprecisão e por qualquer problema que possamos ter causado”, disse a CEO no perfil oficial da label no Instagram.
A marca norte-americana Coach também recorreu às suas plataformas para acalmar os ânimos dos consumidores chineses. “Estamos plenamente conscientes da gravidade desse erro e lamentamos profundamente. Respeitamos e apoiamos a soberania e a integridade territorial da China”, afirmou a marca, alegando que o produto em questão já havia saído de circulação.
A Givenchy fez o mesmo com um post no Weibo, o Twitter chinês. “Iremos corrigir e tomar precauções imediatas contra qualquer negligência e erros cometidos. A marca sempre respeitou a soberania da China e aderiu firmemente ao princípio da China Única”, defendeu no comunicado.
No ano passado, a Gap pediu desculpas por vender camisetas que, segundo a empresa, mostravam um mapa incorreto da China. A estampa exibia apenas o continente e não os territórios que a nação reivindica, como Taiwan e Hong Kong.
A China tem sido cada vez mais rigorosa no policiamento de como as empresas estrangeiras se referem a estes territórios. Hong Kong, mesmo tendo mais autonomia do que as demais cidades, oficialmente faz parte da China, assim como Macau, outra região administrativa com peculiaridades. Taiwan, embora seja reconhecido como país independente pela comunidade internacional, é considerado uma província rebelde.
Colaborou Danillo Costa