Chanel estima impactos significativos da pandemia por até dois anos
Segundo a marca francesa, o setor de luxo precisará de pelo menos 18 meses para se recuperar da crise gerada pelo coronavírus
atualizado
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O impacto do coronavírus nos negócios da Chanel pode durar até dois anos. Foi o que apontou o diretor financeiro da grife, Philippe Blondiaux, na última quinta-feira (18/06). Segundo ele, a marca francesa e todo o setor de luxo devem enfrentar dificuldades pelos próximos 18 a 24 meses, motivadas por questões como o fechamento de lojas, centros de distribuição e fábricas. Mesmo assim, a empresa se mantém firme na posição de focar em lojas físicas e evitar as vendas virtuais de roupas e acessórios. Os únicos artigos da Chanel vendidos on-line são cosméticos e perfumes.
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Impacto da pandemia
Em 2019, mesmo com a morte de Karl Lagerfed e a mudança na direção criativa, a receita da label havia crescido 13%, chegando a um total anual de US$ 12,27 bilhões. O lucro operacional foi de US$ 3,49 bilhões, com um salto de 16,6% em relação a 2018. Bons desempenhos foram registrados em todas as categorias de produtos e regiões do globo.
Sem revelar números referentes a 2020, a marca estima que o cenário será diferente neste ano. “Por razões óbvias, a Chanel não estará imune ao impacto da atual crise global e, como tal, esperamos que o impacto da Covid-19 leve a uma redução significativa nas receitas e nos lucros para 2020”, disse Philippe Blondiaux ao WWD. “Prevemos que o ambiente externo continuará impactando o setor de luxo e a Chanel por pelo menos os próximos 18 a 24 meses”, continuou.
Em maio, a marca francesa previa que as vendas deste ano cairiam em dois dígitos. Mesmo com essa possibilidade, não haverá grandes mudanças nas estratégias. A venda de vestuário prêt-à-porter e acessórios por comércio eletrônico, praticada há anos pela concorrência, está fora dos planos da marca. Enquanto isso, cerca de 15% das 417 butiques da grife continuam fechadas, incluindo pontos nos Estados Unidos, Rússia e países da América Latina.
Nos mercados onde o comércio reabriu há mais tempo, como países da Ásia e Europa Ocidental, a Chanel teve bons resultados. Ainda assim, as vendas de consumidores locais não são suficientes para suprir a demanda de compras que seriam realizadas por turistas internacionais. Por isso, a marca conta com todo o seu potencial financeiro para superar a situação.
Ações para reduzir gastos
Por ora, a grife está poupando economias da maneira que pode, segurando temporariamente a aberturas de novas lojas e adiando outros projetos adiados. Ainda assim, pretende investir um montante de US$ 700 milhões neste ano e promete manter pelo menos a mesma quantia para o investimento do ano que vem.
“Entramos nesta crise a partir de uma posição de força e estamos confiantes com a experiência em moda de nossas equipes, nosso histórico de inovação e nossa criatividade. Estamos muito bem posicionados para os próximos anos, quando esta crise terá ficado completamente para trás”, motivou Blondiaux.
Para este ano, algumas ações tomadas pela Chanel envolvem o investimento em conteúdos multicanais e na expansão de instalações para os ateliês, na França. Além disso, a empresa não pagará dividendos – parte dos lucros dividida entre acionistas – para a controladora Litor Ltd em 2020. Levando em conta o valor pago no ano passado, de US$ 1,68 bilhão, isso pode representar uma grande economia.
Relutância em mudar
Por falar nisso, a marca insiste em manter o formato atual de várias coleções ao ano, diferentemente do que tem adotado outras empresas do ramo, como Gucci, Michael Kors e Saint Laurent. “Preferimos ter seis ou mais coleções focadas a duas sem fim. Escolhemos esse ritmo e gostamos, e acreditamos que é o que nossos clientes querem ver em nossas lojas”, afirmou Bruno Pavlovsky, presidente de atividades moda da Chanel, em entrevista ao WWD.
Há algumas semanas, inclusive, a etiqueta anunciou um aumento de 5% a 7% no preço das bolsas e dos artigos de couro. O reajuste foi justificado pela alta no valor da matéria-prima utilizada nos produtos. O aumento atingiu primeiro a França e, posteriormente, afetaria a Ásia. Como consequência, clientes da marca na China e Coreia do Sul se aglomeraram para arrematar peças antes dos preços subirem.
Na última semana, Philippe Blondiaux disse, ainda, que não viu grandes mudanças nas vendas depois que Virginie Viard assumiu a direção criativa da marca. A estilista trabalhou durante décadas ao lado de Karl Lagerfeld (1933-2019), que ocupou o cargo de 1983 até o fim da vida. Desde a posse de Viard, a categoria que mais fez sucesso na marca foi a das coleções de prêt-à-porter, com crescimento de 28%. As primeiras criações com assinatura da francesa chegaram às araras no fim de 2019.
No mercado de luxo global, as vendas de US$ 12,3 bilhões da Chanel ficam atrás apenas da Louis Vuitton (do grupo LVMH), que liderou o ranking do ano passado, com US$ 12,9 bilhões. A Gucci (do grupo Kering) vem em terceiro lugar, com US$ 10,7 bilhões em vendas. Desde 2018, a Ásia permanece como o mercado principal da marca, representando 44% das vendas no ano passado. Em seguida, vem a Europa (37%) e as Américas (19%).
Colaborou Hebert Madeira