Chanel anuncia aumento nos preços e faz clientes formarem filas nas lojas
Em meio à pandemia, consumidores correm para adquirir peças da grife antes que chegue a alta no valor das matérias-primas
atualizado
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A grife francesa Chanel anunciou, na última quarta-feira (13/05), que aumentará os preços de suas bolsas e artigos de couro devido à alta no valor das matérias-primas usadas nos produtos. Os reajustes, que ficarão em torno dos 5% e 17%, já são sentidos na França, mas só devem chegar ao oriente na próxima semana. Os clientes da grife se aglomeram nas portas das lojas da China e Coreia do Sul na esperança de adquirir os cobiçados acessórios da maison antes que os custos saltem.
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Na Coréia do Sul, o novo coronavírus causou cerca de 11 mil casos confirmados e 260 mortes. Nesse cenário, os habitantes de Seul, a capital coreana, já se sentiam à vontade para frequentar lojas desde o início do mês, quando o governo afrouxou as diretrizes do distanciamento social.
Aos poucos, as operações de luxo recuperavam sua clientela, atendendo algumas pessoas por dia. No entanto, o aumento nos preços anunciado pela Chanel fez os fãs da marca correrem até a loja mais próxima, no intuito de garantir itens da label antes dos reajustes.
Embora a marca tenha dito que os preços não devem subir mais do que 17%, sites especializados garantem que a alteração deve chegar ao consumidor final bem mais expressiva. De acordo com o site Pursebop, especializado em bolsas, os preços na Suécia podem crescer mais de 25%.
Com os rumores e notícias relacionadas ao aumento, mais de 100 compradores esperavam atendimento em um dos pontos de venda de Seul nessa quarta-feira (13/05), ignorando os novos casos da Covid-19 vinculados às boates reabertas na cidade.
A notícia de que bolsas clássicas, como 11.12, 2.55, Boy, Gabrielle e Chanel 19, além de alguns pequenos artigos de couro, ficarão consideravelmente mais caras a partir da semana que vem fez uma fila começar a se formar na loja de Departamentos Lotte, no centro da capital coreana, às 5h. Os clientes tiveram que receber senhas antes mesmo da abertura do endereço, às 10h30.
Lee Ji-yeon, de 54 anos, disse à Reuters que chegou por volta das 7h30, enquanto seu futuro genro estava em outra multimarcas que também revende os produtos da label. Ambos tentavam comprar uma bolsa para presentear a filha de Lee, que teve seu casamento adiado por conta do distanciamento.
A prática de dar bolsas de grife como presente de casamento é uma tradição entre as classes mais altas da Coreia. “Já estivemos na loja da Chanel várias vezes antes, mas ficamos indecisos sobre comprar ou não. Como os preços vão aumentar, decidimos fazer isso logo”, afirmou o cliente.
A Lotte Department Store revelou à Reuters que as vendas de artigos premium cresceram 30% entre 1º e 10 de maio, em comparação com o mesmo período do ano anterior. “Os produtos de luxo registraram um crescimento incomumente alto nas vendas, em comparação com outros segmentos. Há duas ou três vezes mais pessoas do que o normal”, contou Moon Ho-ik, representante da multimarcas.
A movimentação observada pela empresa também pode ser vista na China, onde filas mais longas do que o habitual também se formaram nas lojas Chanel. Usuários da rede social Xiaohongshu relataram que esperaram uma hora para pagar suas compras, ao passo que fotos mostravam lojas superlotadas em Pequim, Xangai, Guangzhou e Hangzhou.
Em Amsterdã, na Holanda, e em Zurique, na Suíça, os estabelecimentos da rede de luxo também recebem filas diárias. A casa diz que implementou medidas de gerenciamento de filas para minimizar a formação de aglomerações nas lojas.
Na concorrência
A Louis Vuitton confirmou ao WWD que reajustou seus preços duas vezes desde que a pandemia se instalou, aumento de 3% em março e outro de 5% em maio. A popular Pochette Monogram Metis, por exemplo, tem saído US$ 150 mais cara nas lojas da etiqueta.
Por outro lado, Dior, Prada e Gucci afirmam que não têm planos de alterar os valores de suas criações no momento. Embora tenham amargado quedas nos lucros, as empresas se beneficiam de suas campanhas voltadas ao público oriental.
A Dior investiu em dois embaixadores chineses para sua linha de beleza na semana passada. A prática de recorrer aos talentos locais para divulgar seus produtos já é recorrente. A soma dos seguidores de seus seis principais embaixadores na China ultrapassa 250 milhões, garantindo que as vendas no e-commerce da grife tenham sucesso entre os fashionistas do país.
Gucci e Prada colhem os frutos das ações voltadas ao Dia dos Namorados chinês, comemorado em 20 de maio. A label comandada por Alessandro Michele contratou oito embaixadores com bastante visibilidade nas redes sociais orientais para ostentarem o monograma da casa, enquanto a Prada apostou novamente na influência de Cai Xukun, a cara da marca na China, para a campanha Mathematics of Love.
A Hermès, que vendeu US$ 2,7 milhões no dia que reabriu seu ponto físico de Guangzhou, há um mês, tem conseguido bons resultados ao oferecer bolsas mais raras nas lojas e itens acessíveis, como lenços de seda, cintos, brincos, sandálias e carteiras, no WeChat, como parte de seu marketing de Dia dos Namorados.
Investimento
O desejo de garantir itens de luxo antes dos preços serem reajustados reflete a ideia de que bolsas se tornaram um verdadeiro investimento financeiro. Para se ter uma ideia da progressão das peças Chanel, os modelos Chanel Flap e 2.55 foram valorizados em 440% desde os anos 1990.
O valor de uma flap bag média no varejo era de 900 euros em 1990. Em 2017, a cifra chegou a 3990 euros. Atualmente, um exemplar usado nos sites de revenda não costuma sair por menos de R$ 10 mil.
Diferente das bolsas de valores, as bolsas da moda se mostraram “imunes” ao coronavírus. Em meio à pandemia, a saída de itens Chanel e Hermès se manteve normal no site de revendas Vestiaire Collective, representando 17% das vendas do e-commerce.
A movimentação dá mais segurança para que as casas de luxo aumentem seus preços sem se preocupar com a situação vigente. “Nestes tempos difíceis para nossos fabricantes e fornecedores, é essencial que a Chanel continue a apoiá-los da melhor maneira possível. Além disso, esses ajustes vão evitar diferenças excessivas de preços entre os países”, explicou um comunicado da marca enviado à imprensa.
Colaborou Danillo Costa