CFDA anuncia projetos de combate ao racismo institucional na moda
O Conselho de Designers de Moda da América criará programas de emprego, orientação e estágio para talentos negros
atualizado
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O debate antirracismo reacendeu no mundo inteiro em meio aos protestos que pedem justiça por George Floyd. Na moda, as manifestações levantaram reflexões e posicionamentos de estilistas e marcas. O Conselho de Designers de Moda da América aumentou seus esforços em prol da diversidade e, na última quinta-feira (04/06), anunciou iniciativas imediatas para ajudar a combater o racismo institucional na indústria fashion. Entre elas, oportunidades profissionais e educacionais voltadas para pessoas negras.
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O pacote de medidas foi anunciado em um comunicado assinado pelo estilista Tom Ford, chairman do conselho, e pelo presidente e CEO Steven Kolb. Os projetos foram desenvolvidos pelo Conselho de Designers de Moda da América (CFDA, na sigla original) durante uma reunião no dia 2 de junho. Na última quinta-feira (04/06), a organização divulgou as novidades pelo Instagram e informou aos membros por e-mail.
“Ter uma voz clara e se manifestar contra a injustiça racial, o fanatismo e o ódio é o primeiro passo, mas isso não é suficiente”, comunica o texto. “Nosso mundo e nossa indústria estão sofrendo muito e não basta dizer simplesmente que somos solidários com aqueles que são discriminados. Precisamos fazer alguma coisa”, informa um trecho do comunicado.
Os novos programas intensificam ainda mais os esforços do CFDA na causa da igualdade racial, pauta que já era defendida pelo conselho. A organização, que dá suporte à indústria fashion dos Estados Unidos e organiza a Semana de Moda de Nova York, listou novas ações imediatas:
- A criação de um programa interno de emprego para colocar talentos negros “em todos os setores do negócio da moda e para ajudar a alcançar uma indústria racialmente equilibrada”. A ideia é identificar esses profissionais criativos e fazer a ponte entre eles e as empresas que desejam contratar.
- Programas de orientação e estágio, voltados para estudantes negros recém-formados, visando empresas estabelecidas no mercado de moda.
- Um programa de treinamento em Diversidade e Inclusão para todos os membros.
- Doações e angariação de fundos para organizações de caridade que trabalhem a igualdade, com foco na comunidade negra. Entre elas, a NAACP e a Campanha Zero.
Por meio das iniciativas, o CFDA também desafia os varejistas a trabalherem com marcas que tenham representatividade de talentos negros. As novidades não serão apenas de dentro para fora. A organização pretende ainda avaliar sua própria estrutura corporativa para garantir que exista um equilíbrio racial na força de trabalho interna.
As propostas são animadoras, mas é importante lembrar que os Estados Unidos enfrentam uma onda de desemprego por causa da pandemia. Steven Kolb contou ao WWD que reconhece a fragilidade atual do mercado. Por outro lado, garante que os programas de empregamento atuarão a todo vapor assim que tiverem sinais de novas oportunidades.
“Quais são os empregos que realmente estarão disponíveis? A turbulência econômica em que estamos inseridos, em termos de desemprego e questões orçamentárias das empresas, será um desafio. Mas isso não é um impedimento ou algo que vai nos parar”, assegurou.
Kolb defende ainda que a pauta da diversidade é uma realidade presente em programas já existentes, incluindo prêmios e mentorias. Quanto às novas iniciativas, a organização montou um time de cinco funcionários para ajudar a colocá-las em funcionamento. “Isso é algo em que trabalharemos durante todo o verão e certamente esperamos ter isso ativamente ativo no outono”, adiantou.
Diversidade no próprio CFDA
De maneira geral, a indústria da moda é criticada há anos pela falta de modelos negros nas passarelas, assim como a falta de apoio a designers pretos. Sem falar na falta de profissionais negros em cargos corporativos de destaque, um meio majoritariamente ocupado por homens brancos.
Desde que assumiu o cargo de charmain do CFDA, em junho de 2019, Tom Ford vem implementando ações para atualizar a moda norte-americana. Uma das mais comentadas foi a redução de dias da Semana de Moda de Nova York. Apesar das ações em prol da diversidade, ainda há o que melhorar no conselho.
Entre o número geral de membros associados, há somente 19 declarados negros, enquanto o conselho tem um total de 477; ou seja, uma parcela de apenas 4%. No ano passado, o núcleo administrativo (board of directors) ganhou três membros negros: Virgil Abloh, Kerby Jean-Raymond e Carly Cushnie.
Diretores de diversidade
No último ano, etiquetas como Prada e Gucci investiram em cargos internos de diversidade e inclusão após enfrentarem duras críticas por acusações de racismo. Em ambos os casos, por produtos com detalhes que remetem à prática do blackface.
A Chanel é outra grife que investiu no cargo de chefe de diversidade em 2019. Enquanto isso, a Valentino chamou atenção no desfile de alta-costura primavera/verão 2019 por dar protagonismo às modelos negras.
O próprio CFDA chegou a lançar um estudo sobre como a pauta da inclusão pode ajudar as empresas a atenderem melhor às necessidades dos clientes. O briefing foi feito em parceria com a empresa PVH Corp., dona de marcas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger.
Colaborou Hebert Madeira