Censurado por anos, documentário sobre Saint Laurent é lançado
Cineasta registrou apogeu do estilista, entre 1998 e 2001, mas Pierre Bergé proibiu uso das imagens quando longa foi finalizado
atualizado
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Yves Saint Laurent é um dos estilistas mais reconhecidos da moda. É responsável por criar o smoking feminino e reinterpretar o colorido das obras de Mondrian em uma de suas peças mais emblemáticas. Sua trajetória de sucesso já foi retratada em dois longas: Saint Laurent e Yves Saint Laurent, lançados em 2014. No entanto, os fãs do designer nunca puderam conferir registros reais de seu trabalho. Até agora.
Vem comigo saber mais!
Em 1998, Pierre Bergé, parceiro de longa data de Yves Saint Laurent, convidou o cineasta Olivier Meyrou para filmar o casal no auge do sucesso e na mira dos holofotes.
Após três anos ao lado da dupla, capturando os momentos mais íntimos de suas vidas, Olivier chegou a encontrar um distribuidor, mas Bergé desistiu da parceria e não autorizou a divulgação das imagens.
Tempos depois, em setembro de 2017, pouco antes de sua morte, o empresário voltou atrás, e agora, quase duas décadas após o encerramento das filmagens, Yves Saint Laurent: As Últimas Coleções, será finalmente lançado nos cinemas.
Olivier afirma entender os motivos que levaram Bergé a vetar a produção do longa, em 2005. Saint Laurent estava em um momento muito delicado.
À época com 60 anos, o estilista encontrava-se frágil, recluso e dependente de seu sócio. “Quando escrevi para dizer que tínhamos um distribuidor, ele se opôs completamente. Bergé era uma figura muito poderosa no sistema francês e era assustador para muitas pessoas. Fiquei decepcionado, mas não queria lutar com eles para liberá-lo. Essa não era a filosofia do filme”, disse Meyrou ao The Guardian.
Após permitir o uso das imagens, Olivier alugou um cinema para que Bergé visse o filme finalizado. O cineasta se negou a comparecer à exibição e acabou não recebendo o feedback do empresário, que, segundo fontes, teria amado o resultado.
“Fiquei bravo com ele por 15 anos. Ele fingiu que eu nunca fiz um filme com eles e que era apenas para meus arquivos pessoais. Quando me pediu para ver, disse que ele não me faria sair correndo só porque era de seu desejo, mas me arrependo de não ter ido. A coisa sensata a se fazer seria ir até lá e debater com ele, mas eu ainda estava machucado”, revelou à publicação.
Olivier acredita que Bergé escolheu retratar o período entre 1998 e 2001 porque sabia que era importante, bem mais do que se isso tivesse sido feito 20 anos antes. Contudo, quando o cineasta tentou explicar seu recorte, foi censurado. “Quando você passa muito tempo filmando alguém, você acaba selecionando o que acredita que importa, mas ele era um homem acostumado a controlar”, afirmou.
Este comportamento, inclusive, é retratado em Yves Saint Laurent: As Últimas Coleções. A maior parte da vida de Saint Laurent parecia ser gerenciada por Bergé, mas o filme mostra que nem sempre foi assim.
Em determinada cena, o designer resolve trocar a roupa de uma modelo momentos antes de um desfile, e Bergé, curiosamente, acaba reprogramando toda a apresentação para atender ao desejo do estilista. “Bergé tinha um ego muito grande, mas por 40 anos ele aceitou que estava atrás de seu companheiro. Isso é amor”, defendeu.
Esta será a primeira vez que muitos fashionistas terão a oportunidade de ver Yves em seus últimos anos de vida. Olivier garante que muitos vão se assustar. “Algumas pessoas ficarão muito perturbadas porque ele estava velho. Foi um momento bonito, havia a sensação de que ele estava ficando mais fraco, mas a casa que ele criara o apoiava de todas as formas”, disse.
Duas décadas após as filmagens, o diretor acredita que a obra exibe mais do que a história do estilista. “Quando tivemos que restaurar o filme, foi uma sensação estranha. Fiz um documentário contemporâneo, mas, agora, é mais um testemunho de uma época que não existe mais”, adianta.
Yves Saint Laurent: As Últimas Coleções chegou aos cinemas londrinos no dia 30 de outubro. Não há previsão para exibirem o longa no Brasil.
Veja o trailer:
Colaborou Danillo Costa