Boneca inflável e modelo “alienígena” ganham espaço no mundo da moda
Abertura da indústria à diversidade tem beneficiado artistas que trabalham com estéticas distópicas
atualizado
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O clamor da geração millennial por mais diversidade na moda não tem beneficiado apenas modelos plus-size e transexuais. Artistas independentes também passaram a ter espaço em desfiles, campanhas e colaborações graças à abertura da indústria a diferentes biotipos, visuais e estéticas.
Personas lúdicas, como o duo Fecal Matter, a inglesa Pandemonia e a alemã Hungry, hoje são mais do que expressões artísticas do Instagram, estrelando ações de marketing para lojas de departamentos e figurando nas primeiras filas das semanas de moda europeias.
Vem conferir comigo!
Em outubro do ano passado, a coluna mostrou o trabalho da dupla Fecal Matter, formada pelos DJs Hannah Rose Dalton e Steven Raj Bhaskaran. Sucesso nas redes sociais por sua estética provocativa, os artistas caíram nas graças dos fashionistas e chegaram, até mesmo, a lançar um modelo de sapato que imita formas corporais distópicas criadas por meio de manipulações digitais.
No entanto, calcanhares, chifres e orelhas pontiagudos do duo podem não ser as coisas mais excêntricas que você verá no mundo da moda atualmente. Manifestações que fogem do natural ganham cada vez mais espaço nas passarelas e na cultura pop, indicando uma tendência de ruptura.
Com 2,10 metros cobertos de látex, Pandemonia é primeira modelo inflável do mundo. Interpretada por um artista britânico anônimo, a personagem surgiu em 2009, após seu criador entender as mudanças sociais causadas pela era da internet. “Por volta de 2008, as celebridades se tornaram uma moeda poderosa e tudo foi alavancado pelas redes sociais. Com base nos símbolos e estereótipos da sociedade moderna, resolvi construir minha própria celebridade, sempre jovem, brilhante, loira e glamourosa”, relatou ao Buzzfeed.
Em vez de mostrar seu trabalho em uma galeria de arte, o idealizador da figura pós-moderna optou por levá-lo diretamente ao grande público. “Todo mundo é um fotógrafo agora. Todos nós temos telefones com câmera. E foi assim que comecei a aparecer, exibindo minha expressão em eventos de moda”, conta.
Presença certa nas primeiras filas do London Fashion Week, Pandemonia já desfilou no Paris Fashion Week de 2017 e, agora, colhe os frutos de sua parceria com a loja de departamento inglesa Selfridges. A personagem ganhou uma coleção-cápsula e uma vitrine interativa em sua homenagem.
Para garantir o sucesso de seu projeto, o inglês dedica horas de seu cotidiano aos looks da Pandemonia. “É como um logotipo. Uso silhuetas e cores que podem ser identificadas de imediato. Você pode reconhecê-la mesmo em uma foto ruim. Demora cerca de um mês para criar cada visual. Eu construo e desenho tudo à mão”, revela.
Contudo, segundo o intérprete de Pandemonia, seu trabalho chama atenção não só pelo design mas também pelo choque cultural que sua figura representa. “Minhas produções têm um efeito visceral nas pessoas. Existe uma curiosidade genuína que gera interação. Sempre aparecem perguntas como: ‘Você é real?’, ‘Você pode respirar?’ ou ‘Onde você coloca suas pernas?’”, relata ao Yahoo.
A drag queen alemã Hungry é outra persona que, recentemente, ganhou espaço nas passarelas. Com makes que transcendem qualquer reinterpretação da realidade, a artista participou do desfile da marca americana Kaimin, além de estrelar várias capas de revista e assinar a maquiagem de Björk na capa do último álbum da cantora, Utopia.
Graduada em Design de Moda, Hungry já foi estagiária na marca de Vivienne Westwood e se baseia em uma estética alienígena, com toques de surrealismo e mitologia. “Não tem uma inspiração imediata, mas, pessoalmente, sempre fui fascinado por anatomia, estruturas biológicas e figuras religiosas”, explicou à revista Paper Mag.
Por cerca de um ano, o artista fez experiências em seu rosto, até encontrar sua imagem atual. “Tudo começou com maquiagens naturais, mas passei a entrar em um aspecto mais visual, no exagero. Misturei com cicatrizes, pérolas, brilho e acabei chegando a esse tipo de make que produzo hoje”, diz.
Em um cenário onde os muros sociais são derrubados um a um, a criatividade encontra um caminho sem barreiras. A moda e a arte, que há tempos vinham se distanciando, aos poucos, reatam seu relacionamento de longa data, dando mais possibilidades à indústria têxtil e a seus agentes.
Personagens como Pandemonia e Hungry são apenas o início de uma era marcada pela valorização das diferenças, onde os modelos irão além de refletir sobre um ideal inalcançável de beleza, porque, afinal, nada é mais bonito do que a humanidade e nada é mais humano do que a arte.
Colaborou Danillo Costa