O cabelo afro tem inúmeras variações. Como um processo de fortalecimento de identidade, cada vez mais pessoas negras estão no processo de assumir as madeixas naturais. Contudo, a falta de profissionais especializados no segmento é um desafio. Nesse cenário, Mateus Kili, o Barbeiro da Favela, criou uma legião de clientes. “Cria” da Ceilândia, o jovem se tornou uma referência na região administrativa.

O profissional se destaca por criar verdadeiras artes nas cabeças da juventude periférica ao utilizar técnicas de coloração. Morador do Distrito Federal desde os dois anos, o empreendedor defende o trabalho como fortalecedor de autoestimas. Vem saber mais!

Aos 30 anos, Mateus Kili trilha uma caminho de sucesso no ramo da barbearia. Filho de cabeleireira, o jovem, inicialmente, não tinha o segmento como uma opção para seguir profissionalmente, mas se apaixonou ao compreender o poder social que o trabalho poderia acrescentar à vida das pessoas.

“Eu me tornei o primeiro em Brasília em referência no corte afro no ramo de barbearia. A gente sempre foi muito carente de pessoas que trabalhassem com os nossos cabelos. Comecei a estudar e desde então não parei”, conta, em entrevista à coluna.

Após experiências em barbearias pela cidade, Mateus Kili encontrou um espaço para chamar de seu. O apelido, Barbeiro da Favela, surgiu de uma forma inusitada. “Tinha um ‘brother‘ na Estrutural que já utilizava esse nome, mas queria mudar. Quando soube que eu ia entrar no ramo, ele falou que eu poderia ficar. Aí geral começou a me chamar assim”, explica.

Para Kili, o primeiro negócio próprio não tinha outro ponto possível: Ceilândia. “Cria” da periferia, o empreendedor ganhou notoriedade ao deixar a população periférica “na régua” com cortes que fugiam dos padrões. “Não mexia com coloração, mas, após o pedido de uma cliente, entendi que podia me destacar”.

Desde então, o Barbeiro da Favela tem colorido a cabeça de jovens com os mais diversos estilos e produções. Animal print, como estampas de onça e zebra, além de corações e formatos em 3D, fazem parte das criações de Mateus Kili. Com o sucesso no mundo das colorações, o profissional foi convidado pela Kamaleão Color, marca de tintura, para ser um dos embaixadores nacionalmente.

Barbeiro da Favela

O talento do Barbeiro da Favela extrapolou o DF e conquistou as cabeças de outras cidades brasileiras. Ele levou o trabalho a São Paulo, cidade que ele ama visitar, mas não se encaixou ao residir.

Para Mateus Kili, o lugar que causa uma sensação de pertencimento é a Ceilândia. “Eu me apaixonei porque tem tudo a ver comigo. Aqui, a gente tem um berço cultural grande, tem muito artista fazendo coisas incríveis. É arte pare todo o lugar. O destino quis que eu morasse aqui, foi amor à primeira vista”, celebra.

O respeito e o amor pela periferia são sentimentos que o Barbeiro da Favela não abre mão. “Meu nome não poderia ser outro. Eu sei da responsabilidade e fico muito feliz porque ele já rodou o mundo, sabe? Tenho orgulho de fazer parte do grupo de pessoas que está compartilhando o quanto de coisas incríveis podemos fazer”.

Por fim, Mateus Kili reflete que o resgate da autoestima é o que traz mais felicidade no trabalho. “Eu já fui em tanto salão em que não sabiam trabalhar com corte para os cabelos de pessoas negras. Então, quando alguém me procura e diz que ficou feliz, parece que estou seguindo no caminho certo. Quero cada vez mais crescer e multiplicar o meu conhecimento”, almeja.

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Brasília Fora dos Padrões

A coluna deu início ao quadro Brasília Fora dos Padrões, como uma extensão da série Moda Brasília. Toda semana, apresentamos pessoas que se destacam pelo estilo próprio, a fim de dar ênfase à moda no Distrito Federal, no Centro-Oeste.

O objetivo é compilar fashionistas que usam o vestuário como uma forma de autoexpressão e autenticidade. Os nomes são selecionados de forma independente pela equipe da coluna. A iniciativa também aborda pautas com temas para além do segmento fashion, como música, entretenimento e arte.